Claudio Macedo
03/09/2015

Levitação de um ímã em um supercondutor [1]
Levitação de um ímã em um supercondutor [1]
Supercondutor é um material que pode conduzir eletricidade sem resistência em temperaturas abaixo de um certo valor denominado temperatura crítica (Tc).

Pesquisadores de instituições alemãs [2] descobriram [3] que o sulfeto de hidrogênio (H2S) torna-se supercondutor a uma temperatura crítica recorde, Tc = 203,5 kelvins (K), sob uma pressão de 90 gigapascais (cerca de 900 mil vezes a pressão atmosférica). A alta pressão utilizada, segundo os pesquisadores, foi para transformar o H2S em metal.

Antes, o Tc mais elevado que havia sido alcançado foi em um composto complexo contendo cobre e oxigênio, Tc = 133 K à pressão ambiente e Tc = 164 K em altas pressões.

São conhecidos dois tipos básicos de supercondutividade: a convencional (em metais) e a não convencional (em compostos complexos contendo cobre e oxigênio ou contendo ferro e arsênico, conhecida como “supercondutividade de alto Tc”).

O Tc recorde para um supercondutor convencional era de 39 K (ou -234,15 °C) usando o diboreto de magnésio (MgB2), agora o recorde passa a ser do H2S pressurizado, com Tc = 203,5 K (ou – 69,65 °C).

O interessante é que no ano passado, pesquisadores teóricos calcularam que o H2S pressurizado deveria tornar-se um supercondutor com uma temperatura de transição entre 191 K e 204 K.

Supercondutores têm capacidade de conduzir correntes elétricas elevadas sem perdas de energia nem aquecimento, pelo fato de terem resistência elétrica nula. Ímãs supercondutores de baixa temperatura, que exigem grandes custos energéticos para resfriamento, são atualmente empregados em laboratórios de pesquisa e em muitos equipamentos.

Usando supercondutores é feito o SQUID, que é o equipamento mais sensível disponível para a detecção de campos magnéticos. Ele é empregado em magnetoencefalografia e em ressonância magnética nuclear (RMN). Também, o campo magnético usado para acelerar as partículas, no Grande Colisor de Hádrons (LHC) do Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (CERN) é gerado a partir de supercondutores.

Viabilizando-se supercondutores a temperatura ambiente, teríamos uma revolução em nosso modo de vida. Se tornariam viáveis, por exemplo, os trens de levitação magnética e o transporte de corrente elétrica sem perdas em linhas de transmissão supercondutoras.

Como a alta pressão usada no experimento alemão só serve para transformar o H2S em um metal, podemos ter esperança de ser possível desenvolver um composto parecido com o H2S pressurizado, mas que seja supercondutor sob pressão e temperatura comuns de nosso ambiente.

[1] Crédito da imagem: Julien Bobroff e Frederic Bouquet (LPS) / Creative Commons (CC BY-SA 3.0). URL: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Stable_Levitation_of_a_magnet_on_a_superconductor.jpg.

[2] Instituições dos pesquisadores: Instituto Max-Planck de Química e Universidade Johannes Gutenberg, em Mainz, Alemanha.

[3] AP Drozdov et al. Conventional superconductivity at 203 kelvin at high pressures in the sulfur hydride system. Nature 525, 73 (2015).

Como citar este artigo: Claudio Macedo. Supercondutividade recorde. Saense. URL: http://www.saense.com.br/2015/09/supercondutividade-recorde/. Publicado em 03 de setembro (2015).

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