Claudio Macedo
27/10/2016

Milho geneticamente modificado. [1]
Milho geneticamente modificado. [1]
Pesquisadores norte-americanos descobriram que a adoção generalizada de culturas de soja e de milho geneticamente modificadas (GM) nos EUA tem diminuído o uso de inseticidas e aumentado o uso de herbicidas pelos produtores [2].

No estudo, os autores consideraram dados de 1998 a 2011 de 5.424 agricultores de milho e de 5.029 produtores de soja. As informações foram obtidas pela GfK Kynetec, instituição de pesquisa especializada em dados sobre a agricultura dos EUA.

Os pesquisadores consideraram separadamente soja e milho GM-TG (gene modificado para tolerar o glifosato [3]) e milho GM-RI (gene modificado para matar insetos que comem a semente).

Os produtores de milho que usaram as sementes GM-RI utilizaram cerca de 11,2% menos inseticida e os que usaram as sementes GM-TG usaram 1,3% menos herbicida ao longo do período estudado do que os agricultores que não usam milho GM. Já os produtores de soja GM-TG passaram a usar 28% mais herbicidas do que os produtores que não usam soja GM.

Os autores atribuem o aumento de uso de herbicidas à proliferação de ervas daninhas resistentes ao glifosato. Eles destacam que no início de uso das sementes de soja GM-TG houve redução da utilização de herbicidas, mas ao longo do tempo o uso de produtos químicos aumentou com o desenvolvimento de resistência ao glifosato pelas ervas daninhas. No caso de milho GM-TG, a resistência das ervas daninhas ao glifosato ainda não é expressiva porque a cultura de milho GM-TG é bem mais recente. No entanto, o estudo encontrou evidências de que ambos os produtores de milho e soja aumentaram o uso de herbicidas durante os últimos cinco anos do estudo, indicando que a resistência de plantas daninhas é um problema crescente para ambos os grupos [4].

Os insetos não parecem ter desenvolvido uma resistência semelhante. É possível que isso seja influenciado pelos regulamentos federais norte-americanos que exigem que agricultores tenham uma área livre de culturas geneticamente modificadas em suas fazendas. Os insetos nesses refúgios não desenvolvem resistência e interagem com os demais insetos das outras partes da fazenda. Assim, eles ajudam a prevenir o desenvolvimento de genes resistentes [4].

A cultura de variedades geneticamente modificadas começou em 1996. Em apenas 20 anos, a adoção mundial dessas variedades tem sido impressionante. Para se ter uma ideia do ritmo da adoção dessas variedades, nos Estados Unidos, em 2015, as variedades transgênicas já foram responsáveis por 94% da soja e 93% do milho plantado.

Apesar da diminuição do uso de inseticidas indicada pela pesquisa, o crescimento contínuo no uso de herbicidas representa um problema ambiental significativo, pois grandes doses de produtos químicos podem prejudicar a biodiversidade e aumentar a poluição da água e do ar.

É necessário um maior aprofundamento sobre o impacto ambiental das culturas geneticamente modificadas. O que fica claro, até agora, é que a adoção da soja geneticamente modificada está correlacionada com um impacto negativo sobre o meio ambiente, decorrente da contaminação dos ecossistemas dos locais de produção, pelo aumento do uso de herbicidas.

[1] Crédito da imagem: werktuigendagen (Wikimedia Commons) / Creative Commons (CC BY-SA 2.0). URL: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Pioneer_maize_PR39F58.jpg.

[2] ED Perry et al. Genetically engineered crops and pesticide use in U.S. maize and soybeans. Science Advances 2, e1600850 (2016).

[3] Wikipédia. Glifosato. URL: https://pt.wikipedia.org/wiki/Glifosato. Acesso: 26 de outubro (2016).

[4] C Newman. UVAToday. Largest-ever study reveals environmental impact of genetically modified crops. URL: https://www.news.virginia.edu/content/largest-ever-study-reveals-environmental-impact-genetically-modified-crops. Publicado em 14 September (2016).

Como citar este artigo: Claudio Macedo. Começando a entender o impacto ambiental das lavouras geneticamente modificadas. Saense. URL: http://www.saense.com.br/2016/10/comecando-a-entender-o-impacto-ambiental-das-lavouras-geneticamente-modificadas/. Publicado em 27 de outubro (2016).

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