Matheus Macedo-Lima
29/03/2017

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Se você for como eu, lembrar o menu do café-da-manhã de ontem pode ser um desafio. O da semana passada? Melhor nem perder tempo. Sempre me perguntei se minha incompetência de memória seria para a vida toda… e prefiro nem cogitar a possibilidade de que dá para piorar na velhice. Mas parece que há esperança!

O método é, literalmente, milenar. Ele é descrito em documentos datados das antigas Roma e Grécia e tem sido adotado até os tempos de hoje por campeões mundiais de memória (se você também não sabia que isso existia, clique aqui). O método se chama “palácio das memórias” ou “método de loci” (plural de locus, do latim, lugar). Consiste em associar uma lista de palavras ou números a eventos que acontecem durante uma viagem imaginária por um local bem conhecido, como a sua casa (uma matéria do Fantástico bem legal aqui). Mas se já sabemos da eficácia do método há milênios, qual a novidade? Bem, só agora começamos a ter uma ideia do que acontece no cérebro.

Um estudo recente [2] procurou responder as seguintes perguntas: que tipos de diferenças podemos encontrar nos cérebros de campeões da memória? Podemos transformar qualquer pessoa num campeão através de treinamento?

O estudo encontrou que o cérebro de campeões de memória é mais bem interconectado entre processamento de memórias do que o de pessoas comuns. Tal resultado só é possível por meio de técnicas de imagem modernas, como a ressonância magnética funcional utilizada no estudo.

Agora o mais interessante: campeões de memória nascem assim ou treinam para isso? Para responder essa pergunta, os autores instruíram participantes do estudo a praticarem o palácio das memórias 30 minutos por dia, diariamente durante 40 dias – com o auxílio da plataforma Memocamp (é grátis, gente!). Os resultados foram impressionantes! Após o treinamento, num teste de memorização de 72 palavras aleatórias, os participantes que treinaram com o palácio das memórias conseguiram lembrar em média mais de 6 vezes o número de palavras do que os participantes sem treinamento. Essa memória foi mantida até 4 meses depois, quando a lista de palavras foi cobrada aos participantes mais uma vez.

Utilizando ressonância magnética funcional, os pesquisadores observaram que a interconectividade do cérebro das pessoas que passaram pelo treinamento com o método se tornou indistinguível da dos campeões da memória, provando que treinamento, e não necessariamente “dom”, possibilita boa memória.

Me pergunte sobre o meu café-da-manhã da semana passada daqui a 40 dias! [3]

[1] Crédito da imagem: AJC1 (Flickr) / Creative Commons (CC BY-SA 2.0). URL: https://www.flickr.com/photos/ajc1/5828291530/.

[2] M Dresler et al.  Mnemonic Training Reshapes Brain Networks to Support Superior Memory. Neuron 93, 1227 (2017).

[3] Artigos relacionados: Por que não lembramos de quando éramos bebês?, Exercício aeróbico na hora certa ajuda na memorização e Relembrar memórias positivas pode combater a depressão?.

Como citar este artigo: Matheus Macedo-Lima. A ciência comprova: método milenar de memorização pode te dar uma supermemória. Saense. URL: http://www.saense.com.br/2017/03/a-ciencia-comprova-metodo-milenar-de-memorizacao-pode-te-dar-uma-supermemoria/. Publicado em 29 de março (2017).

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