Tábata Bergonci
19/04/2017

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Vespas da espécie Nasonia vitripennis são um dos insetos mais conhecidos geneticamente devido à sua fácil manipulação em laboratório, ao seu curto período de geração (cerca de duas semanas) e à sua tolerância à endogamia (acasalamento entre indivíduos aparentados). Existem milhares de ferramentas genéticas para estudar a biologia dessas vespas. Seu genoma está completamente sequenciado, uma grande base de dados relativos à expressão gênica está disponível e protocolos de geração de transgênicos já foram estabelecidos. Todavia, nenhum método de mutação gênica direta foi desenvolvido com sucesso para a espécie até hoje.

Cientistas da Universidade da Califórnia resolveram utilizar o método CRISPR/Cas9 (o qual expliquei resumidamente aqui) para gerar, então, o que seriam os primeiros mutantes dessa vespa [2]. E conseguiram! Primeiramente, eles desenvolveram um método de microinjeção em embriões, onde o DNA pode ser injetado no organismo. Depois os embriões foram incubados e 14 dias depois os adultos emergiram e foram analisados para comprovar o sucesso da mutação. O método de microinjeção foi considerado de grande sucesso, já que 76% dos embriões que passaram pelo processo sobreviveram.

Interessantemente (ou seria assustadoramente?) o gene escolhido para ser mutado foi o CINNABAR, responsável pela coloração preta dos olhos das vespas, o que gerou mutantes com olhos vermelhos. Legal, não é mesmo?

O estudo encontrou, finalmente, uma técnica para ocasionar mutações em vespas, abrindo caminho para que outros insetos da ordem Hymenoptera (como formigas e abelhas) possam também ser mutados. Uma vez que um gene é mutado em um indivíduo, esse vai então carregar a mutação para o resto da vida e passar suas características para os seus descendentes, criando um estoque de mutantes prontos para serem estudados mais profundamente.

[1] Crédito da imagem: Akbari lab, UC Riverside / Creative Commons (CC BY 4.0). URL: https://www.nature.com/articles/s41598-017-00990-3.

[2] M Li et al. Generation of heritable germline mutations in the jewel wasp Nasonia vitripennis using CRISP/Cas9. Scientific Reports 10.1038/s41598-017-00990-3 (2017).

Como citar este artigo: Tábata Bergonci. Vespas mutantes de olhos vermelhos? Por que não… Saense. URL: http://www.saense.com.br/2017/04/vespas-mutantes-de-olhos-vermelhos-por-que-nao/. Publicado em 19 de abril (2017).

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