Tábata Bergonci
12/07/2017

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Na natureza, roubar é uma estratégia frequentemente necessária para a sobrevivência. Todos os grupos de animais apresentam espécies oportunistas: ladrões de ninhos, de carne fresca e até de parceiros sexuais. Mas você já ouviu falar de roubos de genes?

Fêmeas de algumas espécies de salamandras do gênero Ambystoma, natural da América do Norte, acasalam com vários machos, de espécies diferentes. Essas fêmeas utilizam um método reprodutivo chamado de cleptogênese (clepto, do grego, que significa “ladrão”; gen, de “ser produzido”): elas roubam pedaços de DNA dos machos [2]. Ao sequestrarem o DNA, elas “decidem” se devem incorporar esses genes em seu genoma ou se os utilizam para aumentar a ploidia. A ploidia se refere a quantas cópias de cada cromossomo uma espécie possui. Por exemplo, nós seres humanos somos diploides, possuímos duas cópias de cada cromossomo, o que também significa que possuímos “espaço” para dois alelos se manifestarem por gene. As salamandras Ambystoma normalmente são triploides.

E qual seria a vantagem em aumentar a ploidia? Quanto mais cópias um cromossomo possui, maior a diversidade de alelos em seus genes. Alelos são formas alternativas do mesmo gene e podem (ou não) aumentar a diversidade do fenótipo (observável ou não). Para essas salamandras, o roubo de genomas que contenham alelos altamente adaptados para um ambiente é uma grande vantagem. Elas também têm a capacidade de excluir genomas que tenham alelos deletérios. Esses animais encontraram um jeito fantástico para tentar assegurar sobrevivência!

Tentando aprofundar o conhecimento sobre essas salamandras e ploidia, pesquisadores desenvolveram um novo programa de bioinformática para analisar expressão gênica em animais e plantas poliploides [3]. Como modelo, eles utilizaram dados das salamandras Ambystoma. Esse estudo é pioneiro, pois até hoje não existiam ferramentas para estudo genético de animais poliploides. Os cientistas também descobriram que nas salamandras todos os subgenomas têm quantidade semelhante de genes expressos. Esse resultado é extremamente diferente do que ocorre em plantas poliploides, onde alguns subgenomas se expressam muito mais que outros. As salamandras ganham mais um ponto a favor da manutenção da espécie: utilizam a poliploidia com muito mais eficiência que as plantas!

[1] Crédito da imagem: Peter Paplanus (Flickr) / Creative Commons (CC BY 2.0). URL: https://www.flickr.com/photos/2ndpeter/25522389762/.

[2] JP Bogart et al. Unisexual salamanders (genus Ambystoma) present a new reproductive mode for eukaryotes. Genome 50, 119 (2007).

[3] KE McElroy et al. Genome expression balance in a triploid trihybrid vertebrate. Genome Biol Evol 10.1093/gbe/evx059 (2017).

Como citar este artigo: Tábata Bergonci. Roubo de genes: salamandra fêmea sequestra DNA de vários machos. Saense. URL: http://www.saense.com.br/2017/07/roubo-de-genes-salamandra-femea-sequestra-dna-de-varios-machos/. Publicado em 12 de julho (2017).

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