Claudio Macedo
08/08/2017

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Pesquisadores dos EUA e da Austrália encontraram amplas evidências que os indivíduos comuns são profundamente motivados para manter a reputação de “pessoa moralmente boa” durante a vida e, também, após a morte [2]. Essa motivação, segundo os autores do trabalho, reforça a caracterização que o ser humano tem natureza fundamentalmente social.

Na pesquisa, a partir de trabalhos anteriormente publicados, os autores testaram a importância relativa da reputação moral em comparação com outros valores de pessoas em 100 países, e desenvolveram uma série de estudos on-line e presenciais pedindo a voluntários que fizessem escolhas hipotéticas entre a perda de reputação e o sofrimento de outros danos importantes: dor física, tempo de prisão, amputação e morte. As pessoas de todas as partes do mundo dizem que valorizam a reputação mais do que qualquer outra coisa e demonstraram, de forma convincente, que fariam sacrifícios substanciais para proteger a reputação. Nos testes realizados, um percentual muito alto de pessoas indicou preferir a morte a tornar-se, por exemplo, conhecido como criminoso, nazista ou pedófilo.

O entendimento dos pesquisadores é que a própria sobrevivência das pessoas depende em grande parte da sua capacidade de cooperar com outras pessoas. A reputação fornece informações sobre as qualidades de alguém como parceiro social. Defender a reputação é, portanto, uma forma pela qual as pessoas viabilizam a cooperação com outros.

Uma boa reputação é como uma chave que destrava os benefícios oferecidos pela sociedade. Passar a ter uma má reputação significa perder essa chave, o que é potencialmente devastador. Os amigos, por exemplo, podem se desvincular de pessoas que agora consideram indignas, tornando-as socialmente isoladas. As pessoas cuja reputação os deixa socialmente isoladas, por outro lado, são mais propensas do que outras a morrer por uma variedade de causas. Há evidências, por exemplo, de que muitas pessoas cometem suicídio em vez de enfrentar a desgraça pública e a humilhação.

A grande valoração da reputação moral, evidenciada nesse trabalho, é de certa forma surpreendente, intuitivamente podíamos acreditar que comportamentos extremos para defender a honra fossem coisas do passado: duelos, suicídios rituais de samurais japoneses, capitães de navios que preferiam afundar com seus navios, mortes de entes queridos da família por terem relações sexuais fora do casamento, etc. Mas, o que o trabalho constata, é que a defesa da honra é algo profundamente arraigado no ser humano, e que, portanto, permanece muito viva; basta lembrarmos dos inúmeros jovens que têm cometido suicídio depois de serem submetidos a bullying nas redes sociais.

[1] Crédito da imagem: johnhain (Pixabay) / Creative Commons CC0. URL: https://pixabay.com/en/shame-disgraceful-evil-worthless-927085/.

[2] AJ Vonasch et al. Death Before Dishonor: Incurring Costs to Protect Moral Reputation. Social Psychological and Personality Science 10.1177/1948550617720271 (2017).

Como citar este artigo: Claudio Macedo. Preferindo a morte à desonra. Saense. URL: http://www.saense.com.br/2017/08/preferindo-a-morte-a-desonra/. Publicado em 08 de agosto (2017).

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