Luana Mendonça
19/09/2017
Quando uma planta é atacada por bactérias, fungos, ácaros, insetos, ou outros organismos, algumas vezes a região lesada aumenta de tamanho devido a um desequilíbrio gerado pelo ataque, o que cria um tumor ou ‘galha’ na planta (Figura 1). Essas lesões geralmente não levam a planta a morte, mas podem prejudica-la de muitas maneiras.
Insetos são os responsáveis pela maioria das galhas, pois aqueles que conseguem atacar a planta para gerar o tumor usam essas regiões para colocar seus ovos. A fêmea coloca os ovos sobre a planta e a região modificada vai ser usada pelas larvas como alimento. Uma vez que elas se tornam adultas, deixam as galhas, e estas não costumam regredir após a saída dos insetos. Essa relação entre os insetos ditos ‘galhadores’ e as plantas é bem específica, e uma espécie de inseto costuma usar apenas uma espécie de planta como hospedeiro.
Outra característica envolvendo a indução dos tumores é que um segundo inseto pode parasitar os tumores criados pelo primeiro, podendo até matar o que já estava instalado. Esse fator pode causar a falsa impressão de que aquele inseto que está ocupando a galha induziu o seu surgimento. E essa é a historinha que contarei hoje, pois um grupo de pesquisadores brasileiros encontraram o verdadeiro culpado pela formação de galhas em aroeira-vermelha (Schinus weinmannifolius, Anacardiacea) na região do Pampa [3].
Os autores encontraram pela primeira vez indivíduos de um novo gênero e espécie Cecidonius pampeanus há cerca de 10 anos. Esses insetos pareciam bem diferentes dos já descritos para a família Cecidosidae. Os autores levaram muitos anos para conseguir obter todos os estágios da espécie para enfim poder descrevê-la e, adicionalmente, encontraram indivíduos em galhas já envelhecidas no chão perto de algumas plantas de aroeira.
Os indivíduos da família Cecidosidae são conhecidos por induzirem tumores em plantas. No caso dessa planta o que os autores descobriram foi que outros organismos, como vespas, atacam as galhas induzidas pela nova espécie de mariposa (Figura 3) e, ou se alimentam das larvas da mariposa, ou simplesmente ocupam as galhas, o que fez com que o culpado original permanecesse não-identificado por tanto tempo. Esses novos inquilinos modificam a estrutura das galhas, que ficam muito maiores e passam a chamar mais atenção (Figura 4).
Além de elucidar o mistério do inseto que induz os tumores nessa espécie de aroeira da região do Pampa brasileiro, os autores descobriram que a população da nova espécie de mariposa está restrita a poucas áreas de montanha isoladas. Essas áreas estão ameaçadas pela destruição dos habitats e a população da mariposa se encontra isolada geneticamente (espécie geneticamente distante do gênero mais próximo), o que torna a espécie vulnerável à extinção, necessitando de medidas de proteção urgentes, pois apesar de ser, aparentemente, praga, essa espécie possui funções no ecossistema e seu desaparecimento pode causar desequilíbrios.
[1] Crédito da imagem: JonRichfield (Wikimedia Commons) / Creative Commons (CC-BY-AS-3.0). URL: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Eurytomid_Rivalry_On_Gall_0986.jpg.
[2] Crédito da imagem: David Lally (Wikimedia Commons) / Creative Commons (CC-BY-AS-2.0). URL: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Galls_on_a_Willow_Leaf_-_geograph.org.uk_-_1434068.jpg.
[3] GRP Moreira et al. Cecidonius pampeanus, gen. et sp. n.: an overlooked and rare, new gall-inducing micromoth associated with Schinus in southern Brazil (Lepidoptera, Cecidosidae). ZooKeys 695, 37 (2017).
Como citar este artigo: Luana Mendonça. O culpado foi pego: mariposa que causa tumores em planta na região do Pampa brasileiro é descoberta!Saense. URL: http://www.saense.com.br/2017/09/o-culpado-foi-pego-mariposa-que-causa-tumores-em-planta-na-regiao-do-pampa-brasileiro-e-descoberta/. Publicado em 19 de setembro (2017).
‘Minina’ do céu, como a Natureza é cheia de coisa! (Altos ‘ginge’ com as fotos desses tumores). O mais legal é que, “as vezes o que parece mal, não é de todo mal” , são essas sutilezas que fascinam e confundem a gente que está dentro dela (a Natureza) .
*estamos
Verdade Willians, a natureza é surpreendente e nós só conhecemos um ‘tiquinho’ dela! É sempre prazeroso descobrir ‘coisas doidas da natureza’!!
Obrigada por seu comentário.