Tábata Bergonci
04/10/2017

Proteína TXB20. A seta com a sigla F256I mostra o local da proteína onde a mutação ocorre. Sobreposição da estrutura tridimensional da TXB20 não mutada (em verde) e mutada (em rosa). Os locais marcados com o número 1 e 2 mostram as regiões que sofrem modificação conformacional na proteína mutada, impedindo que ela se ligue corretamente a proteína CASZ1. [1]
Na idade de 40 anos, uma em cada cinco pessoas sem sintomas de doenças cardiovasculares corre o risco de desenvolver insuficiência cardíaca congestiva, quando o coração não é capaz de bombear sangue na corrente sanguínea em quantidade suficiente para as necessidades do corpo. A cardiomiopatia dilatada (CMD), quando o ventrículo do coração se encontra dilatado, dificultando o bombeamento de sangue, é uma das principais razões de doença e morte relacionadas a insuficiência cardíaca.

Pelo menos metade dos casos de CMD tem origem genética. Várias mutações gênicas já foram encontradas como sendo relacionadas a CMD, porém, até hoje não se sabe como combinações assintomáticas de mutações levam a insuficiência cardíaca.

Pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, investigaram o gene TBX20 cuja relação com CMD já é conhecida [2]. TBX20 é um gene que codifica uma proteína do tipo fator transcricional (ou fator de transcrição), que são proteínas que se ligam ao DNA e auxiliam na transcrição de outros genes. O gene TBX20 é essencial para o correto desenvolvimento do coração na fase embrionária. Porém, em adultos, alguns tipos de mutações nesse gene causam CMD. Para tentar compreender melhor a atuação da proteína TBX20 em adultos, os cientistas utilizaram um mecanismo que busca outras proteínas que interajam com ela no coração.

Publicado esse mês na revista Plos Genetics, os resultados são interessantes e promissores. A proteína TBX20 interage com uma outra proteína, também fator transcricional, chamada CASZ1. Essa interação é essencial para a sobrevivência, já que ratos sem a presença de uma ou outra morrem logo após o nascimento (entre 4 e 8 semanas de vida) devido a CMD. Ainda, uma mutação em TBX20, associada a CMD em humanos, interfere fortemente na interação TBX20-CASZ1, mostrando que sem a correta interação entre essas proteínas desenvolve-se CMD.

O trabalho desses pesquisadores dá um grande passo para a ciência e medicina que estudam as doenças cardíacas. No mundo, a CMD é a principal indicação para transplante cardíaco. Encontrar os genes responsáveis pela condição patológica pode auxiliar o desenvolvimento de terapias gênicas para corrigir as mutações que causam a doença.

[1] Crédito da imagem: L. Kennedy et al. [Creative Commons (CC BY 4.0)]. URL: http://journals.plos.org/plosgenetics/article?id=10.1371/journal.pgen.1007011.

[2] L. Kennedy et al. Formation of a TBX20-CASZ1 protein complex is protective against dilated cardiomyopathy and critical for cardiac homeostasis. Plos Genetics 10.1371/journal.pgen.1007011 (2017).

Como citar este artigo: Tábata Bergonci. Descoberto complexo proteico que protege contra doenças cardíacas! Saense. URL: http://www.saense.com.br/2017/10/descoberto-complexo-proteico-que-protege-contra-doencas-cardiacas/. Publicado em 04 de outubro (2017).

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