Tábata Bergonci
11/04/2018

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A visão humana é incrível! A maioria das pessoas é capaz de enxergar cerca de 1 milhão de cores, e não sabemos se cada ser humano percebe essas cores do mesmo jeito. Mas existem evidências de que, até os tempos modernos, seres humanos não viam a cor azul! E são essas evidências genéticas? Não, meus caros, hoje não vamos falar de genética.

Tudo começou por volta de 1800 quando o estudante William Gladstone, que depois se tornaria primeiro ministro britânico, notou que não existia referência a cor azul na Odisséia, uma coleção de poemas épicos escritos na Grécia Antiga e atribuídos a Homero. No livro, Homero descreve o oceano com cor de vinho escuro e outros tons, mas nunca azul.

Anos depois, um filologista (quem estuda linguagem e palavras) decidiu analisar textos antigos hebraicos, islandeses, hindus, chineses e árabes e, pasmem: ele não encontrou nenhuma menção sobre a cor azul!

Se pensarmos bem, isso não é tão estranho. Tirando o céu (mas seria ele realmente azul?), que outras coisas na natureza são azuis? Animais e flores azuis são raros. De fato, a primeira sociedade que teve uma palavra para a cor azul foram os egípcios, única cultura antiga que podia produzir corantes azuis. Parece que foi a partir deles que a cor azul se espalhou na modernidade.

Mas porque não tínhamos uma palavra para a cor azul, significa então que não podíamos vê-la? Inúmeros estudos vêm sendo realizados para tentar desvendar essa questão, sendo o maior deles o do psicólogo Jules Davidoff, da Universidade de Londres Goldsmiths. O grupo de Davidoff trabalhou com uma tribo da Namíbia, chamada Himba, que não possui palavra para a cor azul, e não distingue o azul do verde.

Para testar se eles realmente não podiam ver a cor azul, foi mostrado às pessoas da tribo um círculo com 11 quadrados verdes e 1 obviamente azul.  Obviamente para nós, porque os Himba disseram que todos os quadrados eram verdes! Os Himba têm também várias palavras para descrever diferentes verdes, que nós não temos.

Um segundo experimento foi feito mostrando-se 11 quadrados em um tom de verde e 1 quadrado em um outro tom de verde que para ocidentais era praticamente impossível de se distinguir. Os Himba conseguiam apontar rapidamente o quadrado com verde diferente.

O que os estudos vêm mostrando é que, em geral, as sociedades humanas conseguem ver apenas o que elas conseguem nomear. Parece que antes do azul virar um conceito comum os humanos o viam… Mas não sabiam que estavam vendo…

[1] Crédito da imagem: Alan L (Flickr) / Creative commons (CC BY 2.0). https://www.flickr.com/photos/35188692@N00/4625995358.

[2] NJ Pitchiford, CP Biggam. Progress in colour studies.Vol II. Psychological aspecsts. John Benjamins Publishing Company (2006).

Como citar este artigo: Tábata Bergonci. Azul é a cor mais… inexistente!. Saense. http://www.saense.com.br/2018/04/azul-e-a-cor-mais-inexistente/. Publicado em 11 de abril (2018).

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