Luana Mendonça
15/05/2018

Borboleta nativa da América do Norte Euphydryas editha (A), a planta nativa da qual ela se alimentava Collinsia parviflora (B) e a planta exótica que substituiu a nativa na alimentação da borboleta Plantago lanceolata (C). [1]
Já falamos sobre a introdução intencional ou não de espécies exóticas em um texto anterior, então hoje vamos falar de um caso em específico, relatado em uma sessão da revista Nature recentemente [2]. O texto relata o caso de uma população isolada da borboleta nativa da América do Norte Euphydryas editha (imagem A) que utilizava especificamente a planta, também nativa, Collinsia parviflora para colocar seus ovos e consequentemente para a alimentação das larvas. Como os humanos da região passaram a criar gado, trouxeram com os novos animais uma planta exótica (Plantago lanceolata) que se espalhou junto com a criação do gado. Geralmente, os insetos que tentam utilizar plantas exóticas acabam morrendo, mas não foi o que aconteceu com a borboleta. Em pouco tempo, a espécie não apenas passou a utilizar a planta exótica para colocar seus ovos, mas acabou também deixando de utilizar a planta nativa. Pesquisadores, em 1980, notaram que a borboleta estava se adaptando rapidamente a nova planta disponível e abandonando a que utilizava anteriormente. Esses pesquisadores previram que, caso a borboleta deixasse de utilizar a planta nativa, ela iria acabar se extinguindo localmente, pois a disponibilidade da planta exótica era controlada pelos humanos e seu gado. Infelizmente a predição estava correta, a borboleta evoluiu rapidamente para utilizar apenas a planta exótica e, em 2005, os humanos removeram o gado do local. Após a saída do gado, gramíneas cresceram sobre a planta exótica e ela deixou de existir na região, e junto com ela, a borboleta se extinguiu localmente. Os autores mencionam, no estudo atual, que essa extinção poderia ter sido evitada se a borboleta continuasse a utilizar minimamente a planta nativa, que continuava a existir na região. Depois que o fluxo de gramíneas diminuiu na região as plantas (exótica e nativa) se espalharam e estariam disponíveis para serem utilizadas pela borboleta, mas nenhuma foi observada entre 2008 e 2012. Felizmente, entre 2013 e 2014, o local foi recolonizado por borboletas que se alimentam exclusivamente da planta nativa, retornando o sistema para seu ponto original e, segundo os autores, preparando o cenário para a repetição do ciclo evolutivo antropogênico.

[1] Crédito das imagens: A – Judy Gallagher (Wikimedia Commons) / Creative Commons (CC-BY-2.0). https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Edith%27s_Checkerspot_-_Euphydryas_editha,_Round_Lake_Trail,_Gold_Lake,_California.jpg. B – Wsiegmund (Wikimedia Commons) / Creative Commons (CC-BY-SA-3.0-migrated). https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Collinsia_parviflora_07503.JPG. C – LeCardinal (Wikimedia Commons) / Creative Commons (CC-BY 4.0). https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Plantago_lanceolata_closeup.jpg.

[2] MC Singer & C Parmesan. Lethal trap created by adaptive evolutionary response to an exotic resource. Nature 10.1038/s41586-018-0074-6 (2018).

Como citar este artigo: Luana Mendonça. Armadilha letal criada pela evolução adaptativa: borboletas que se adaptaram a recurso exótico se extinguem localmente. Saense. http://saense.com.br/2018/05/armadilha-letal-criada-pela-evolucao-adaptativa-borboletas-que-se-adaptaram-a-recurso-exotico-se-extinguem-localmente/. Publicado em 15 de maio (2018).

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