Agência FAPESP
22/05/2018

Estrutura de uma artéria mostrando o endotélio (endothelium). [1]
Órgão que reveste o sistema vascular, o endotélio é responsável pelo equilíbrio entre a dilatação e contração dos vasos, coagulação e anticoagulação, entre outros, e portanto é fundamental para circulação do sangue. Também funciona como sinalizador importante para doenças como câncer, aterosclerose, insuficiência cardíaca e problemas cognitivos.

Esse papel complexo é o destaque do livro Endothelium and Cardiovascular Diseases – vascular biology and clinical syndromes, lançado nos Estados Unidos pela editora Elsevier e voltado para estudantes de pós-graduação, graduação, pesquisadores e médicos práticos.

A edição em inglês é uma ampliação de Endotélio e Doenças Cardiovasculares (Atheneu, 2005), vencedor do prêmio Jabuti, com novos capítulos e a colaboração de pesquisadores estrangeiros como Peter Libby, Pk Shah, Noel Bairez, Emilio Ross, Salvador Moncada e Valentin Fuster. A publicação do livro recebeu apoio do Bradesco e da Fundação Zerbini.

“Contamos predominantemente com artigos de pesquisadores de ponta do Brasil, muitos dos quais têm ou tiveram estudos apoiados pela FAPESP”, disse o organizador da publicação Protásio Lemos da Luz, professor titular sênior da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e pesquisador sênior do Instituto do Coração da FMUSP.

Os editores associados são: Peter Libby, da Harvard Medical School (EUA), e Antonio Carlos Palandri Chagas e Francisco Rafael Martins Laurindo, ambos do Instituto do Coração (InCor).

Os 30 capítulos que compunham a primeira edição em português foram ampliados para 50. Os 15 primeiros capítulos tratam da fisiologia e da estrutura do endotélio, abordadas em profundidade, incluindo mecanismos íntimos genéticos, celulares e de biologia molecular, que constituem as bases das ações do óxido nítrico e outros produtos do endotélio. Já os outros 35 capítulos abordam as alterações do endotélio em situações clínicas.

“São abordados métodos de investigação, idade e envelhecimento, estresse, hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, aterosclerose, doença coronária e intervenções, como angioplastia e cirurgia, entre outros. Avalia-se também a relação do funcionamento do endotélio com as dietas e mais dois capítulos sobre doenças não cardiovasculares”, disse Lemos da Luz.

Um dos capítulos sobre doenças não cardiovasculares trata da eclampsia – uma complicação da gravidez – e o outro sobre a relação do óxido nítrico e o câncer. “Foi demonstrado que a eclampsia começa basicamente com uma disfunção endotelial. Já no câncer, o endotélio tem uma relação central com sua propagação. O óxido nítrico, produzido no endotélio, é um mediador e também um sinalizador da metástase”, disse.

O mesmo ocorre em relação à função do endotélio e problemas como infarto do miocárdio e síndrome coronariana aguda. “Nesses casos, ocorre inicialmente uma alteração do endotélio, que perde as características de ser uma membrana contínua e sofre lesão, facilitando a trombose e problemas cardíacos”, disse Lemos da Luz.

O livro destaca também a participação do endotélio no processo aterosclerótico. O órgão participa decisivamente em todas as fases da aterosclerose, desde a formação da placa, até sua evolução e complicações.

Óxido nítrico

A camada de células na porção mais interna dos vasos e que constitui o endotélio perpassa o organismo inteiro, formando um órgão extenso e que abrange várias funções. Em 1998, Robert F. Furchgott, Louis J. Ignarro e Ferid Murad ganharam o prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina por descobertas a respeito do “óxido nítrico como molécula sinalizadora no sistema cardiovascular”.

“Há mais de 20 anos, nada conhecíamos sobre o papel do endotélio no sistema cardiovascular. Hoje, sabemos que, entre os produtos do órgão, o óxido nítrico é o mais importante, até porque dele derivam substâncias terapêuticas, como bloqueadores da fosfodiesterase 5 – que são estimuladores da função sexual”, disse Lemos da Luz.

Desse modo, não por acaso, estimuladores sexuais como o Viagra, por exemplo, atuam por meio do óxido nítrico liberado pelo endotélio, que causa vasodilatação – a base da circulação sanguínea e também desses medicamentos.

Atualmente, existem técnicas que permitem analisar as funções do endotélio. “Embora não sejam simples, nem usadas rotineiramente no trabalho clínico, elas estão sendo cada vez mais empregadas em pesquisa. A sugestão é que a disfunção endotelial possa ser identificada no estágio inicial e tenha valor prognóstico”, disse.

Tanto a parte fisiológica quanto a patológica do endotélio são abordadas em profundidade em Endothelium and Cardiovascular Diseases. “Trata-se de um livro voltado para pesquisadores, estudantes da graduação e pós-graduação, e também para clínicos. Para o profissional que atua no campo clínico e faz tratamentos com base fisiopatológica, o livro tem uma aplicação imediata. Em todos os capítulos são analisados os mecanismos fisiopatológicos que constituem a base das funções endoteliais”, disse Lemos da Luz.

De acordo com o organizador do livro, a publicação faz uma ligação do conhecimento básico com fenótipos clínicos. “O livro vai além da simples descrição de fenômenos circulatórios, como, por exemplo, a vasodilatação, e trata sobretudo da compreensão dos fenômenos celulares e subcelulares essenciais para o funcionamento do endotélio e suas patologias”, disse. [2] [3]

[1] Crédito da imagem: BruceBlaus [Blausen.com staff (2014). “Medical gallery of Blausen Medical 2014”. WikiJournal of Medicine 1 (2). DOI:10.15347/wjm/2014.010 (CC BY 3.0)], via Wikimedia Commons. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Blausen_0055_ArteryWallStructure.png.

[2] Livro em destaque: Protasio da Luz et al. Endothelium and Cardiovascular Diseases. Elsevier (2018).

[3] Esta notícia científica foi escrita por Maria Fernanda Ziegler.

Como citar esta notícia científica: Agência FAPESP. Sinais vitais do endotélio. Texto de Maria Fernanda Ziegler. Saense. http://www.saense.com.br/2018/05/sinais-vitais-do-endotelio/. Publicado em 22 de maio (2018).

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