Portal de Periódicos da CAPES
21/06/2018

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As doenças crônicas não transmissíveis acarretam alto impacto nos sistemas de saúde do Brasil e do mundo. Entre as mais frequentes, destacam-se as condições musculoesqueléticas, com um conjunto de doenças que influenciam o estado físico, a qualidade de vida e a capacidade funcional dos indivíduos. Estudos epidemiológicos que investigam a escala dessas condições na população adulta são escassos no Brasil. Uma recente pesquisa publicada pela revista científica BMC Public Health diminui essa carência e estima a prevalência de condições musculoesqueléticas crônicas, além de sua associação com fatores demográficos, socioeconômicos, comportamentais e clínicos.

O artigo Prevalence of chronic musculoskeletal conditions and associated factors in Brazilian adults – National Health Survey é um dos produtos da dissertação em Saúde Coletiva de Mariana Alonso Monteiro Bezerra – cientista da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e usuária do Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). “A motivação para a pesquisa surgiu do interesse em estudar esse tipo de doença e a distribuição na população brasileira, pois sou servidora do Hospital Universitário Pedro Ernesto (UERJ) no serviço de Reumatologia”, pontua.

Segundo a pesquisadora, as doenças musculoesqueléticas crônicas são impactantes do ponto de vista social e econômico, tanto para o indivíduo que sofre com condições limitantes, quanto para a saúde pública que arca com altos custos em saúde para os acometidos. No Brasil, segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) realizada em 2013 – o primeiro grande inquérito que provê um panorama representativo da população brasileira – as principais condições musculoesqueléticas autorreferidas são as afecções da coluna vertebral, as doenças reumáticas e as doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho.

Mariana explica que são frequentes as doenças ósseas, articulares e neuromusculoesqueléticas, como, por exemplo, a osteoartrite, a osteoporose, as artrites inflamatórias e as lesões discais. Ainda de acordo com a PNS de 2013, a hipertensão arterial é a doença mais frequente no Brasil, acometendo mais de um quinto da população. Em segundo lugar, os problemas da coluna, em 18,5% dos adultos brasileiros e, em terceiro lugar, a hipercolesterolemia, com prevalência de 12,5%. “As condições musculoesqueléticas, quando analisadas de modo agregado, foram prevalentes em cerca de 21% da população brasileira, ou seja, um em cada cinco brasileiros refere ter problema diagnosticado por médico”, registra a autora.

“Minha pesquisa mostrou que a prevalência de condições crônicas musculoesqueléticas autorreferidas é alta no Brasil, porém a estimativa é similar aos demais países de média e alta renda, já que essas afetam aproximadamente um em cada quatro adultos na Europa e na América do Norte”, avalia Mariana. Ela esclarece que as patologias podem ter origem mecânica, inflamatória, metabólica ou degenerativa. “Fatores de risco modificáveis e não modificáveis podem estar relacionados a essas condições, como estilo de vida, idade avançada e presença de outras morbidades crônicas físicas ou mentais associadas”, reflete.

Assim, adoção de vida sedentária somada à falta de atividade física regular, alimentação hipercalórica com baixo consumo de frutas e verduras, tabagismo e consumo abusivo de álcool podem contribuir para o desenvolvimento de condições musculoesqueléticas crônicas. A investigação mostra que a prevalência dos distúrbios ocorre em pacientes do sexo feminino, idosos, indígenas, indivíduos socioeconomicamente mais carentes, moradores de área rural, fumantes, sedentários, indivíduos com sobrepeso ou obesidade, deprimidos e que convivem com três ou mais morbidades crônicas.

“Políticas de monitoramento de determinantes demográficos, socioeconômicos, comportamentais e clínicos são imprescindíveis para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis no Brasil e, em especial, das condições musculoesqueléticas em vigente crescimento”, pondera a especialista. Realizado por regiões brasileiras, o levantamento mostra que no Sul do país foi encontrada a maior prevalência, apontada em 26,5% da população, seguido do Nordeste (22%), Norte (21%), Centro-Oeste (20,2%) e Sudeste (20,1%)

O estudo contribui com achados substanciais para os sistemas de saúde no Brasil, principalmente para a saúde pública, “uma vez que fomenta a reflexão e reforça o impacto das condições musculoesqueléticas e seus determinantes, como a idade avançada e a presença de multimorbidades e depressão, evidenciando a necessidade de investimentos em profissionais e serviços de saúde para ações de rastreamento e condutas efetivas de manejo e controle, uma vez que o problema cresce mundialmente de forma expressiva”, finaliza Mariana. [2]

[1] Crédito da imagem: PublicDomainPictures (Pixabay), CC0 Creative Commons.
https://pixabay.com/en/human-skeleton-human-body-anatomy-163715/.

[2] Esta notícia científica foi escrita por Alice Oliveira dos Santos.

Como citar esta notícia científica: Portal de Periódicos da CAPES. A alta prevalência de doenças musculoesqueléticas crônicas. Texto de Alice Oliveira dos Santos. Saense. http://www.saense.com.br/2018/06/a-alta-prevalencia-de-doencas-musculoesqueleticas-cronicas/. Publicado em 21 de junho (2018).

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