IPT
26/11/2018

Escombros. [1]
Pedaços de escombros – tijolo, terras, telha, concreto e argamassa – colhidos pelo artista plástico paulistano Alexandre Mavignier no terreno da Igreja Evangélica Luterana de São Paulo, atingida no incêndio seguido de desabamento, no 1º de maio passado, do edifício Wilton Paes de Almeida no Largo do Paiçandu, em São Paulo, foram trazidos ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) no mês de outubro.

Para a moagem desses materiais em uma granulometria próxima de 45 µm (ABNT nº 325), foram utilizados os processos de trituração através de britador mandíbula, na sequência um moinho de disco e, para finalizar, uma moagem fina em moinho de disco vibratório ou em moinho de bolas, para a pulverização do material. A granulometria obtida será testada pelo artista para a produção de tintas com as cores naturais dos materiais originais.

Segundo o pesquisador Fabiano Ferreira Chotoli, responsável pelo Laboratório de Materiais de Construção Civil do IPT, o artista plástico veio ao Instituto em busca de soluções técnicas para materiais especiais empregados em suas obras: “Foi uma aproximação entre arte e tecnologia que merece destaque.” Este contato se deu por indicação da arquiteta e urbanista Patricia O’Reilly, que já atuava tecnicamente próxima à instituição.

O pesquisador Sérgio Soares de Lima, do mesmo laboratório do IPT, explica que os moinhos utilizados permitem a moagem de materiais de construção para realização de ensaios químicos, físicos e mineralógicos.

MÃOS Á OBRA – Mavignier atuou por cerca de 20 anos na indústria, desenvolvendo produtos como CDs e DVDs de baixo custo para popularização de conteúdos e também racionalização a fim de evitar desperdícios. Após a fase industrial, passou a se dedicar a entender de ponta a ponta os diversos materiais e suas possibilidades de reúso na construção: “Convivemos com os impactos da construção civil no dia a dia. A atividade é responsável por uma parcela significativa das emissões de gases do aquecimento”.

Para Mavignier, em cada material está presente a imaterialidade: “Entramos no prédio que caiu cientes de que toda e qualquer edificação um dia será devolvida à terra de onde veio. Escavamos o local para coletar amostras dos escombros e, no caminho, também encontrávamos peças que pertenciam às pessoas que estiveram ali. Este é o componente imaterial: remete a uma ‘máquina’ trituradora com suas engrenagens, o fogo que destruiu no local e o fogo no atelier para recuperar o material coletado”.

Em seguida, vieram as operações de trituração e de moagem no laboratório do IPT. A obra plástica que será produzida será um painel de concreto pintado nas cores dos materiais coletados. A obra terá as cores de telhas da Igreja Luterana e a moldura será feita com parte do seu madeiramento. Serão 25 metros de largura por três de altura.

A pintura integra o projeto ‘Da Terra à Terra: Ciclo de Vida dos Materiais’ e deverá ser exposta no vão livre do Masp em março de 2019. Nessa oportunidade também será lançado o livro intitulado ‘Da Terra à Terra: Arquitetura, Urbanismo, Amor e Arte’, da arquiteta Patricia O’Reilly.

Mavignier explica que já recebeu mais de 130 amostras de terras e materiais construtivos de cidades como Hamburgo, Paris, Berlim, Recife e Crato, além da capital paulista. No intuito de tornar a obra mais durável quando exposta ao tempo, foi recomendado que a pintura fosse executada em tiras feitas com placa cimentícia em vez de tecido. “A recomendação de uso de materiais é um exemplo no qual o conhecimento técnico do IPT pode colaborar para tornar a obra mais durável”, completa Chotoli.

[1] Crédito da imagem: Alexis (Pixabay), CC0 Creative Commons.
https://pixabay.com/en/brick-rubble-debris-bricks-wall-58485/.

Como citar esta notícia de inovação: IPT. Do escombro à arte. Saense. http://www.saense.com.br/2018/11/do-escombro-a-arte/. Publicado em 26 de novembro (2018).

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