IPT
12/02/2019

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Um estudo desenvolvido em parceria pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e a Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP) em Bauru mostrou que em 39% dos salões de beleza analisados na cidade paulista foi ultrapassado o limite de tolerância de concentração de formol no ar, e que todos os produtos de alisamento utilizados nos salões excederam significativamente a quantidade de formaldeído determinada como limite pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A substância é cancerígena e está proibida no Brasil para esse tipo de procedimento desde 2001.

A conclusão é fruto da dissertação de Marcelo Eduardo Pexe pela FSP-USP, cuja proposta foi quantificar a exposição ocupacional de cabeleireiros ao formaldeído – popularmente conhecido como formol – caracterizando espaços físicos, processos de trabalho e a avaliação quantitativa da exposição dos profissionais à substância em salões de beleza. Os 23 salões escolhidos são representativos de áreas com diferentes vulnerabilidades sociais medidas pelo Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS) – ou seja, atendem a clientes de diversos perfis socioeconômicos em toda a cidade.

Na altura da zona respiratória, em cada profissional participante, foram colocados dois dispositivos: um para amostragem passiva, avaliando a jornada de trabalho de oito horas, e um para amostragem ativa, de curta duração, avaliando a concentração de formol no ar nos 15 minutos mais críticos do procedimento, a partir do início do alisamento com o produto.

As amostras foram levadas para o Laboratório de Análises Químicas do IPT, no qual foi realizada a quantificação de formol, baseada em uma metodologia própria do Instituto. Segundo Amanda Marcante, responsável pela análises no IPT, o método é mais preciso que os demais disponíveis no mercado, por separar a substância de outros tipos de aldeído. Os dados obtidos mostraram que 39% dos salões ultrapassaram o limite de tolerância de concentração estabelecido no Brasil, que é de 1,6 ppm (ou 2,3 mg/m³) de ar para uma jornada de até 40 horas semanais.

“Além de irritação no nariz, laringe e olhos, problemas respiratórios e dérmicos, o formol é uma substância cancerígena. Chegamos a encontrar amostras com até 4,2 ppm em uma única aplicação. Considerando que em muitos salões podem ocorrer até três escovas progressivas por dia, qual é o risco a que estão expostos os profissionais?”, questiona Pexe.

Foram analisadas também amostras dos cremes utilizados para o alisamento capilar, e todas as 18 marcas avaliadas ultrapassaram significativamente as concentrações de formol determinadas pela Anvisa para esse tipo de cosmético, que é de 0,2%. As quantidades variaram entre 3,64% e 10,96% – concentrações até 54 vezes maiores que o limite previsto pela Anvisa.

“O uso do formol é popular por ser rápido, barato, de fácil aquisição e por proporcionar muito brilho aos fios. Mas é uma substância tóxica, inclusive banida no Brasil desde 2001 para esse tipo de procedimento. Cerca de 65% das cabeleireiras apresentaram queixas de doenças ocupacionais, relatando irritação ocular, lesões de pele, cefaleia, dor em membros superiores e inferiores e problemas respiratórios”, explica Pexe.

MINIMIZANDO O PROBLEMA – Como nem sempre o uso de produtos com maior quantidade de formol coincidiram com as amostras de ar com maior concentração da substância no ambiente, Pexe identificou que outros fatores influíram na exposição dos profissionais ao formol.

Em geral, a altura do pé direito da edificação, o tamanho e quantidade de portas e janelas e o nível de ventilação no ambiente ajudaram a dispersar a substância no ar, resultando em menores exposições durante a aplicação. Além disso, a lavagem do cabelo antes da etapa de secagem e ‘pranchamento’ dos fios também mostrou relação com a diminuição da exposição química dos profissionais, já que parte do produto é retirada com esse procedimento.

As duas conclusões são extremamente importantes, uma vez que mesmo que os cremes não contenham formol, outros componentes químicos adicionados aos produtos, como ácido glioxílico e dimetoxietano, podem produzi-lo durante o alisamento capilar – o que a legislação brasileira ainda não prevê.

“A pesquisa serve para nortear ações voltadas à proteção de cabeleireiros, em geral os mais afetados pela alta concentração de agentes químicos em produtos capilares, não só o formol. Desenvolver novas tecnologias, maior fiscalização, aprimoramento da legislação, obrigatoriedade de EPIs e equipamentos de exaustão, em orientações adequadas de procedimentos e outras possibilidades, é importante diante desses resultados”, conclui Pexe.

A pesquisa, realizada pelo Departamento de Saúde Ambiental da FSP-USP, durou um ano e meio e foi orientada pelaprofessora Kelly P. K. Olympio entre 2016 e 2018.

[1] Crédito da imagem: kaleido-dp, Pixabay License,
https://pixabay.com/en/haircut-hair-cut-beauty-salon-combs-834280/.

Como citar esta notícia de inovação: IPT. Alisamento capilar. Saense. http://www.saense.com.br/2019/02/alisamento-capilar/. Publicado em 12 de fevereiro (2019).

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