Agência FAPESP
19/02/2019

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O estudo das migrações humanas tem se transformado e se expandido enormemente nos últimos 30 anos. Na avaliação de Paul Statham, diretor do Sussex Centre for Migration Research da University of Sussex, no Reino Unido, um dos motivos é o fato de o tema estar no centro das mudanças sociais decorrentes da globalização.

Statham falou sobre o assunto no dia 12 de fevereiro, durante a FAPESP Week London, simpósio realizado na Royal Society, no centro da capital londrina.

“As migrações têm se tornado uma lente pela qual as pessoas enxergam o mundo e percebem que ele está mudando. E isso pode ser bom, por exemplo, em casos de respostas humanitárias, quando pessoas são forçadas a deixar seus lares por conta de conflitos. Mas pode ser ruim quando envolve populismo e políticas reacionárias, que moldam a maneira como vemos o mundo e levam a resultados como o banimento de muçulmanos ou a construção de muros”, disse Statham.

Migrações e assuntos de relações étnicas estão se tornando também mais prevalentes, segundo o pesquisador. “Isso resulta da mobilidade, de diferenças culturais e das diversidades produzidas pela migração, crescentemente indo contra estados, políticas e posições legais de um lado e, de outro lado, da forma como as pessoas acham que devem viver juntas.”

Statham, que também é editor-chefe do Journal of Ethnic and Migration Studies, apresentou resultados de estudos feitos por seu grupo no Reino Unido com imigrantes de vários países e etnias.

“Observamos que as políticas de migração são altamente restritivas por serem impulsionadas pela política doméstica e não pela compreensão fundamentada nos motivos pelos quais pessoas decidem se mudar para países mais ricos ou mais seguros”, disse.

“Os países que recebem migrantes adotam, na maior parte das vezes, políticas de curto prazo para lidar com o problema. Fazem isso para chamar a atenção da mídia, porém, o resultado pode levar a péssimas consequências a longo prazo”, acrescentou.

O pesquisador destacou que, para lidar com a questão das migrações, os governos empregam políticas baseadas mais em suposições do que em evidências. Por exemplo, políticos nos países mais ricos – que recebem pessoas de países mais pobres ou em conflitos – acham que a maior parte das pessoas que saem de seus países na África se dirige à Europa. “Mas o fato é que 66% se deslocam no continente, entre países africanos”, disse.

Outra suposição comum nos países que recebem migrantes é que a maioria deles quer permanecer definitivamente nos locais para onde se dirigiram. No entanto, segundo Statham, a maior parte dos migrantes deseja voltar a seu país de origem.

“Precisamos de políticas baseadas na compreensão de fatos e das características regionais do processo migratório global. Precisamos de debates públicos bem estruturados sobre as obrigações humanitárias, sobre as necessidades da migração e as responsabilidades dos países mais ricos”, disse.

“Se a retórica politizada impulsionada pelo medo de processos de globalização definir nossas políticas de migração, então as políticas perderão sua capacidade de abordar os problemas reais do mundo de forma justa e razoável. Perderemos os benefícios da migração e os imigrantes perderão suas chances de melhorar de vida e, em muitos casos, perderão suas próprias vidas”, disse Statham.

O pesquisador ressaltou que o Centre for Migration Research da University of Sussex está aberto a colaborações com pesquisadores brasileiros. Mais informações sobre o Centro: www.sussex.ac.uk/migration. [2]

[1] Crédito da imagem: Capri23auto, Pixabay License,
https://pixabay.com/en/migration-integration-migrants-3129340/.

[2] Esta notícia científica foi escrita por Heitor Shimizu.

Como citar esta notícia científica: Agência FAPESP. Políticas para migrações devem ser baseadas em evidências, diz cientista. Texto de Heitor Shimizu. Saense. http://www.saense.com.br/2019/02/politicas-para-migracoes-devem-ser-baseadas-em-evidencias-diz-cientista/. Publicado em 19 de fevereiro (2019).

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