Tábata Bergonci
18/01/2021

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Os brasileiros vêm vivendo dias de ansiedade desde o final de 2020. Com a segunda onda de Covid19 sobrecarregando os hospitais e causando um número elevado de óbitos diários, nós vemos diversos países já vacinando a população desde o último Natal e ficamos perdidos em meio a tantas notícias não confiáveis. Será mesmo que as vacinas são seguras? Quais marcas são confiáveis?

Eu posso te responder com tranquilidade que as vacinas são seguras, mas você não precisa acreditar em mim, então eu trago aqui os dados publicados em artigos científicos sobre as vacinas que poderão ser utilizadas no Brasil. Entendendo como elas funcionam e quais os resultados dos testes, você poderá decidir se acha seguro tomá-la.

A Vacina Coronavac

Como a vacina vai funcionar no meu corpo?

Começando pela Coronavac, porque já temos 6 milhões de doses disponíveis para vacinação imediata. Essa vacina foi desenvolvida por uma indústria farmacêutica chinesa chamada Sinovac. O Instituto Butantã, em São Paulo, utilizou o conhecimento da Sinovac e produziu a Coronavac no país.

A Coronavac usa o método mais tradicional de imunização, a vacina de vírus inativado (usado em muitas vacinas de uso regular, como a da raiva). O método utiliza partículas virais mortas para expor o sistema imunológico do corpo ao vírus sem que este manifeste a doença. Para comparação, as vacinas que estão sendo usadas nos países desenvolvidos, Moderna e Pfizer, utilizam um método de mRNA que até hoje não foi aprovado em outros tipos de vacinas. Nesta classe de vacina, parte do código genético (mRNA) do coronavírus é injetado no corpo, que começa a produzir parte da proteína viral Spike, suficiente para que o organismo gere anticorpos contra ela.

O que a ciência já sabe sobre a Coronavac?

Um artigo científico publicado na revista The Lancet mostrou todos os resultados encontrados pelos chineses nas fases 1 e 2 dos ensaios clínicos, passando pela eficácia e segurança [2]. No trabalho, eles testaram duas doses diferentes da vacina, 6 e 3 microgramas, e descobriram que a aplicação de 3 microgramas traz os mesmos resultados em relação a produção de anticorpos que a aplicação de 6 microgramas, causando reações adversas (como cansaço) em uma porcentagem menor de pessoas. Assim, a terceira fase dos ensaios clínicos ocorreram apenas com a aplicação da dose de 3 microgramas. Os resultados da terceira fase ainda não foram publicados emartigo científico.        

Eficácia da Coronavac

            Os testes obrigatórios para atestar a eficácia e segurança da vacina foram feitos em diversos países: China, Brasil, Chile, Arábia Saudita, Turquia e Indonésia, por exemplo. Na Turquia a Coronavac teve eficácia de 91%; no Brasil, já sabemos, a eficácia é de 50%, sendo que os outros 50% dos vacinados não tiveram complicações graves ao contrair o vírus. Podemos dizer que mesmo no Brasil a vacina é eficaz! Na China ela tem sido aplicada desde julho de 2020 em grupos de alto risco. Na Turquia e na Indonésia ela começou a ser aplicada dia 16 de janeiro.

Segurança da Coronavac

            Falamos da eficácia e agora temos que falar da segurança. Essa vacina pode me fazer mal? Para responder isso nós temos que olhar todos os países que já testaram a vacina. Todos os resultados mostram que menos de 5% dos vacinados tiveram algum efeito colateral, e esses efeitos, quando ocorreram, foram principalmente cansaço ou desconforto. Não houve nenhum caso de efeito colateral grave ou mesmo de média complexidade. Não existe nenhuma vacina que não cause algum tipo de efeito danoso em uma pequena porcentagem da população. É como quando temos que tomar um remédio, existem efeitos colaterais em uma parte das pessoas que o tomam, mas não podemos deixar de tomá-lo por causa disso.

A Vacina Oxford-AstraZeneca

Como a vacina vai funcionar no meu corpo?

Essa vacina foi desenvolvida pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, em parceria com a indústria farmacêutica AstraZeneca, também inglesa. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, tem capacidade de produzir 2 milhões de doses da vacina em um primeiro momento. A tecnologia utilizada é a de vetor viral geneticamente modificado. Para desenvolver a vacina, um vírus de chimpanzé foi modificado geneticamente, e ganhou o gene da proteína Spike do coronavírus. Quando esse vírus é colocado no organismo humano, ele não consegue se replicar, mas ativa o sistema imunológico contra a proteína Spike, deixando o corpo protegido contra o coronavírus.   

O que a ciência já sabe sobre a vacina Oxford-AstraZeneca? Eficácia da vacina

Um artigo científico também publicado na revista The Lancet mostrou todos os resultados encontrados nos testes realizados no Brasil (feitos pela Unifesp), na África do Sul e no Reino Unido [3]. No trabalho, eles chamam de dose padrão a quantidade de 5 x 1010 partículas virais, e distribuem as doses de duas formas: um grupo recebe duas vezes a dose padrão, o outro grupo recebe primeiro uma dose menor e depois uma dose padrão. No grupo que recebeu duas doses padrões a eficácia foi de 60%, enquanto no outro grupo a eficácia foi de 90% contra a Covid19.

Segurança da vacina Oxford-AstraZeneca

O artigo publicado na The Lancet trata também da segurança da vacina, concluindo que esta é segura e eficaz. Dentre mais de 11 mil participantes no teste, apenas um voluntário apresentou efeito colateral considerado grave, mas mais detalhes não são dados sobre o caso. Dessa forma, a vacina é segura para mais de 99,9% da população.

Por que o Brasil está focando na Coronavac e na Oxford-AstraZeneca?

Existem diversos motivos que fazem a Coronavac e a Oxford-AstraZeneca serem a escolha de países não desenvolvidos, como é o caso do Brasil. Primeiramente, essas vacinas utilizam métodos tradicionais de imunização, sendo mais baratas para serem fabricadas. Para fins de comparação, uma dose da vacina Oxford-AstraZeneca custa 4 dólares, enquanto uma dose da vacina Moderna custa 33 dólares.

Um outro motivo importante para a escolha é a forma de armazenamento dessas duas vacinas, que podem ficar em geladeiras de 2 a 8 graus Celsius. As vacinas da Moderna precisam de congeladores a -20 graus Celsius e as da Pfizer precisam de supercongeladores a -70 graus Celsius. Países desenvolvidos conseguem comprar quantidades grandes desses supercongeladores, enquanto países pobres não têm condições de arcar com esses custos.

O que podemos concluir sobre a vacina?

É necessário pensar com honestidade nos motivos para não se tomar a vacina. Os efeitos colaterais de todas as vacinas já testadas até agora ocorreram em porcentagem baixíssima e em geral não são graves. Já a infecção pelo vírus é perigosa não só para os grupos de risco, pois temos mortalidade inclusive na população jovem e sem comorbidades. Ainda, já se sabe que muitas pessoas que tiveram Covid19, mesmo na forma mais leve, e já se curaram, apresentam sintomas diversos que diminuem a qualidade de vida, dentre dores musculares, dores de cabeça, dificuldade para respirar, taquicardia, depressão e ansiedade.

A vacina está chegando e não há razões para temê-la. De qualquer forma, somos mais de 200 milhões de brasileiros e o processo de vacinação será lento. Enquanto você espera sua vez na fila da vacina, você pode se informar mais sobre o vírus. Em abril de 2020, eu contei um pouco sobre o funcionamento do vírus e um tratamento que já se faz aos internados em hospitais aqui. Há menos de um mês atrás, eu trouxe as últimas descobertas sobre o vírus e o que ainda precisamos saber mais. Conhecimento sempre nos traz maior segurança para tomar decisões na vida, então que tal se lermos mais em fontes confiáveis e aprender sempre um pouco mais todos os dias?

Ficou com dúvida? Quer saber mais? Deixe seu comentário aqui que ficarei feliz em responder. [4]

[1] Crédito da imagem: AJC1, Flickr, CC BY-NC-SA 2.0.

[2] Yanjun Zhang et al. Safety, tolerability, and immunogenicity of an inactivated SARS-CoV-2 vaccine in healthy adults aged 18–59 years: a randomised, double-blind, placebo-controlled, phase 1/2 clinical trial. The Lancet, DOI: https://doi.org/10.1016/S1473-3099(20)30843-4.

[3] Merryn Voysey et al. Safety and efficacy of the ChAdOx1 nCoV-19 vaccine (AZD1222) against SARS-CoV-2: an interim analysis of four randomised controlled trials in Brazil, South Africa, and the UK. The Lancet, DOI: 10.1016/S0140-6736(20)32661-1.

[4] Artigos relacionados: Tábata Bergonci. Estudo com coronavírus NL63 traz esperança no tratamento da Covid19. Saense. https://saense.com.br/2020/04/estudo-com-coronavirus-nl63-traz-esperanca-no-tratamento-da-covid-19/. Publicado em 10 de abril (2020), Tábata Bergonci. A corrida na pesquisa sobre o coronavírus: as três maiores descobertas da ciência nos dois últimos meses! Saense. https://saense.com.br/2020/12/a-corrida-na-pesquisa-sobre-o-coronavirus-as-tres-maiores-descobertas-da-ciencia-nos-dois-ultimos-meses/. Publicado em 21 de dezembro (2020) e Tábata Bergonci. A corrida na pesquisa sobre o coronavírus, parte 2: o que ainda não sabemos sobre a Covid19 e o que já temos certeza? Saense. https://saense.com.br/2020/12/a-corrida-na-pesquisa-sobre-o-coronavirus-parte-2-o-que-ainda-nao-sabemos-sobre-a-covid-19-e-o-que-ja-temos-certeza/. Publicado em 22 de dezembro (2020).

Como citar este artigo: Tábata Bergonci. A vacina está chegando aos brasileiros: devemos mesmo tomá-la? Saense. https://saense.com.br/2021/01/a-vacina-esta-chegando-aos-brasileiros-devemos-mesmo-toma-la/. Publicado em 18 de janeiro (2021).

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