Claudio Macedo
21/01/2016
A comunicação intercelular, que permite às células do corpo coordenarem suas atividades, é essencial para o equilíbrio da vida. As células exercem forças e respondem à elasticidade do ambiente e às deformações mecânicas criadas por suas vizinhas. Até o momento, acreditava-se que esta comunicação ocorria sempre por condução elétrica.
Pesquisadores de Israel demonstraram, em uma experiência pioneira, que ocorre forte comunicação mecânica entre células cardíacas vizinhas e que oscilações mecânicas induzidas numa célula, por essa comunicação, permanecem por longo tempo, mesmo após cessar a indução [2].
No trabalho [2], os autores consideraram uma célula cardíaca isolada e a induziram a oscilar em uma dada frequência através de deformações provocadas no substrato subjacente. As deformações, por outro lado, foram induzidas utilizando uma sonda mecânica oscilatória que imita os efeitos gerados pela pulsação de célula vizinha. A taxa de batimento induzida pela sonda foi mantida pela célula durante uma hora, após parar a estimulação, sugerindo que modificações de longo prazo ocorrem dentro da célula.
A conclusão do experimento é que a comunicação mecânica entre as células cardíacas é que garante o batimento sincronizado.
Como acoplamento mecânico entre as células depende das propriedades elásticas do ambiente intercelular, alterações do ambiente normal (por exemplo, formação de tecido cicatricial após enfarte do miocárdio) pode prejudicar a interação e levar a contrações descoordenadas (dissincronia) com risco de insuficiência cardíaca [2].
O resultado desse trabalho é muito representativo para o entendimento dos processos físicos que ocorrem nas células cardíacas. Fica aberto, entretanto, o entendimento do mecanismo molecular responsável pela comunicação mecânica e pela manutenção da oscilação induzida.
[1] Crédito da imagem: ArtFavor / Creative Commons (CC0 1.0). URL: http://www.freestockphotos.biz/stockphoto/14157.
[2] I Nitsan et al. Mechanical communication in cardiac cell synchronized beating. Nature Physics 12, 472 (2016).
Como citar este artigo: Claudio Macedo. A surpreendente comunicação mecânica entre células cardíacas. Saense. URL: http://www.saense.com.br/2016/01/a-surpreendente-comunicacao-mecanica-entre-celulas-cardiacas/. Publicado em 21 de janeiro (2016).
Olá Cláudio, uma nota para complementar o post. Não sei se você sabe que sou portador de marcapasso. Meu ritmo cardíaco é comandado quase completamente pelo aparelho desde os 26 anos, hoje tenho 46. Em alguns poucos momentos, na ocorrência de falha do gerador, esse sistema de reserva foi ativado. Não dá para viver com qualidade nem por muito tempo com o ritmo ectópico mas, estando em repouso, o organismo continua funcionando sem perda de consciência. Em atividade, mesmo moderada, pode ocorrer um desmaio, como se o botão on/off fosse desligado, pelo menos foi o que aconteceu comigo. Então, ainda que ocorra contração das câmaras do coração, a frequência é baixa e pode não suprir a necessidade de oxigênio para o cérebro. De fato, a natureza das células cardíacas concebe este sistema de reserva, feito para ser usado em casos raros.
Excelente complemento Leonardo. Entendo que a pesquisa com a comunicação entre as células cardíacas toma um novo rumo com esse trabalho.
Abs.
Fantástico. Adoro receber estas notícias.
É isso Amélia.
Faz bem acompanhar o avanço da ciência.
Obrigado pelo comentário.
Abs