Claudio Macedo
18/08/2016
As teorias de motivação têm destacado que o comportamento humano é guiado pelo princípio hedônico, segundo o qual as escolhas das atividades diárias visam minimizar estados afetivos negativos e maximizar estados afetivos positivos. No entanto, não está claro como conciliar essa idéia com o fato de que as pessoas rotineiramente se envolvem em atividades desagradáveis, ainda que necessárias.
Para abordar essa questão, pesquisadores europeus e norte-americanos monitoraram em tempo real as atividades e os estados emocionais de milhares de pessoas usando um aplicativo de smartphone [2].
Eles descobriram que a opção de atividades das pessoas segue o chamado princípio da flexibilidade hedônica. Especificamente, a pessoa fica mais propensa a se envolver em atividades de melhoria do humor (por exemplo, praticar esportes), quando se sente mal, e se envolver em atividades úteis, mas desagradáveis (por exemplo, o trabalho doméstico), quando se sente bem.
Na pesquisa, os participantes (28.212 voluntários) utilizaram o aplicativo 58 seconds dedicado a medir vários aspectos do bem-estar pessoal através de questionários curtos apresentados em momentos aleatórios do dia. As questões pediam para o voluntário avaliar seu estado de espírito atual em uma escala de 0 (muito infeliz) a 100 (muito feliz) e relatar o que pretendia fazer a seguir a partir de uma lista padrão de 25 opções. A lista envolvia perguntas do tipo: O que você vai fazer em uma hora? Trabalhar? Lavar a louça? Tomar uma cerveja com amigos?
As perguntas, mesmo sendo muito simples, investigam importantes decisões que as pessoas enfrentam em suas vidas. Isto é, investigam como as pessoas gastam o tempo. Considerando a atual expectativa de vida em torno de 75 anos, no fundo, o indivíduo tem que decidir o que fazer com cada uma das cerca de 650 mil horas de sua vida. A decisão da pessoa de gastar um número maior ou menor dessas horas trabalhando, dormindo, socializando ou assistindo televisão, tem consequências importantes para a própria saúde física e mental.
A descoberta dos autores esclarece como as emoções moldam o comportamento humano. Elas podem explicar como as pessoas superam o fascínio de ganhos de curto prazo na felicidade para maximizar o bem-estar a longo prazo, e essa escolha pode ser necessária para a sobrevivência da espécie humana. Além disso, a investigação abre linhas de pesquisa muito instigantes nesse tema. São exemplos: o impacto das diferenças individuais e das diferenças culturais nas opções das atividades diárias. Vamos aguardar novas pesquisas. [3]
[1] Crédito da imagem: L Marino et al. / Creative Commons (CC BY 2.5). URL: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Dolphin_imitates_the_behavior_of_a_human.png.
[2] M Taquet et al. Hedonism and the choice of everyday activities. PNAS 10.1073/pnas.1519998113 (2016).
[3] Artigo relacionado: O tempo que traz felicidade.
Como citar este artigo: Claudio Macedo. O que motiva a escolha do que fazer. Saense. URL: http://www.saense.com.br/2016/08/o-que-motiva-a-escolha-do-que-fazer/. Publicado em 18 de agosto (2016).