Matheus Macedo-Lima
14/09/2016
Para descobrir esses neurônios, pesquisadores inseriram microeletrodos (finíssimos fios) no cérebro de pacientes com epilepsia grave. Na realidade, já havia eletrodos clínicos no cérebro desses pacientes para tentar descobrir a origem da epilepsia, dos quais os pesquisadores se aproveitaram para inserir os microeletrodos. Essa técnica permite medir a atividade elétrica de neurônios individuais e em tempo real – o que é bem difícil de se conseguir em humanos por motivos óbvios (não dá pra colocar fios no cérebro de muitos)!
A atividade de neurônios foi medida em 3 áreas do cérebro: a amídala, o córtex cingulado rostral anterior, e o córtex pré-frontal rostromedial (Figura abaixo). Sabe-se que essas áreas estão envolvidas no processamento de recompensas e no aprendizado social. Por esse motivo, os pesquisadores utilizaram um jogo de cartas computadorizado com os pacientes. Eles tinham que escolher entre duas pilhas de cartas, uma sinalizando uma recompensa financeira e outra um preço a pagar (ganhar ou perder $10 ou $100 aleatoriamente), e, em seguida, assistir outros dois participantes jogarem seus turnos, para então recomeçarem a rodada. Eles eram informados que uma das pilhas daria recompensas 70% das vezes e a outra apenas 30%. Portanto, eles teriam que aprender com a própria experiência e com a dos outros jogadores para deduzir de qual pilha escolher uma carta na próxima rodada. A atividade dos neurônios durante o jogo trouxe algumas surpresas.
A descoberta desses neurônios em humanos é a primeira confirmação da existência de células especializadas em aprendizado social na natureza. Outros animais também são capazes de aprendizado social e a existência dessas células é provável, basta que o experimento adequado seja empregado. Encontrá-las em outros animais é importante para que se detalhe a consequência da atividade dessas células – por exemplo, com quais outras células elas se comunicam e qual o efeito de suas ativações.
A evolução favoreceu neurônios especializados em aprender com os outros, o que sem dúvida acelerou nosso desenvolvimento como espécie. Agora, qual o benefício de células que se “deliciam” com a derrota dos outros? Está aberta a discussão…
[1] Crédito da imagem: Frans Persoon (Flickr) / Creative Commons (CC BY-NC-ND 2.0). URL: https://www.flickr.com/photos/38659937@N06/5461446794/.
[2] MR Hill et al. Observational learning computations in neurones of the human anterior cingulate cortex. Nature Communications 7, 12722 (2016).
Como citar este artigo: Matheus Macedo-Lima. Observe antes de agir: temos neurônios para aprender com os outros! Saense. URL: http://www.saense.com.br/2016/09/observe-antes-de-agir-temos-neuronios-para-aprender-com-os-outros/. Publicado em 14 de setembro (2016).
Mas não é óbvio?… O erro do outro pode significar a possibilidade de um acerto nosso… E agora já posso usar esse texto como referência para torcer contra os coleguinhas kkkkk
Brincadeiras à parte… sempre me surpreendo com o cérebro e sua imensidão de áreas e funções… excelente texto, como sempre…
Obrigada ^^
Concordo. Nosso cérebro , uma “caixa” de surpresas. Na vida, tudo isso faz sentido: tanto aprendemos com os acertos , como com os erros dos outros. Mas, sempre pensei isso como aprendizagem sócio psicológica , não como explicação orgânica (fisica). Muito interessante. Parabéns.