Claudio Macedo
22/11/2016
Desde o final da década de 1970 que inúmeros estudos têm associado a amplitude das relações sociais das pessoas com maior longevidade. Isto é, pessoas com mais amigos e mais laços sociais em sua comunidade tendem a viver mais tempo [2]. A interpretação prevalente é que um maior suporte e integração sociais leva a melhores condições de saúde, como consequência do crescimento da motivação por envolvimento com comportamentos saudáveis e, também, a um aumento da imunidade.
Até o presente, toda a pesquisa relacionando a longevidade e as relações sociais tem sido feita no contexto do mundo real. Faltavam estudos sobre o impacto na expectativa de vida das pessoas usuárias de redes sociais virtuais tipo Facebook. Essa lacuna começou a ser preenchida. Pesquisadores norte-americanos fizeram um profundo estudo sobre expectativa de vida de dois grupos compostos por milhões de eleitores da Califórnia: usuários e não usuários do Facebook [2].
Os autores constataram que o risco de morrer em um determinado ano é de cerca de 12% menor para os usuários do Facebook do que para os não usuários desta rede social. O resultado é surpreendente pois, intuitivamente, podíamos imaginar que o uso de redes sociais virtuais fosse algo parecido com assistir televisão, isto é, fosse algo que implicasse apenas em sedentarismo e, portanto, prejudicasse a saúde.
A pesquisa analisou os riscos de mortes dos dois grupos por tipos de doenças e, também, dentro do grupo dos usuários do Facebook, a diferença de longevidade dependendo do grau de envolvimento com a rede social virtual.
A mortalidade por doenças sexualmente transmissíveis, vários tipos de câncer, lesões não intencionais, overdoses de drogas e suicídios não diferiram significativamente entre os usuários do Facebook e os não usuários. Entretanto, a mortalidade por infecções (menos 28%), diabetes (menos 38%), doença mental ou demência (menos 25%), isquemia cardíaca (menos 19%), acidente vascular cerebral (menos 29%), outras doenças cardiovasculares (menos 12%), doença hepática (menos 35%) e homicídio (menos 45%) foram todos, significativamente, mais baixos para usuários do Facebook do que não usuários.
Considerando dentro do grupo de usuários do Facebook, os resultados mostraram que receber e aceitar pedidos para se conectar como amigos online está associado com a redução da mortalidade, mas não há efeito para aqueles que tomam a iniciativa de fazer o convite para novas amizades. Além disso, os comportamentos online que simulam a atividade social real (como a publicação de fotos) estão associados à redução da mortalidade, mas os comportamentos estritamente virtuais (como enviar mensagens) têm uma relação não-linear, em que o uso moderado está associado à menor mortalidade.
Embora este seja um estudo apenas associativo, pode ser um passo importante para entender como, em escala global, as redes sociais virtuais podem ser adaptadas para melhorar a saúde social e física das populações modernas. Afinal, atualmente, cerca de 1,1 bilhão de pessoas usam o Facebook diariamente. O certo é que ficou bem caracterizado que as interações do Facebook que são mais relacionadas à atividade social real é que estão impulsionando a relação entre o aumento da atividade social no Facebook e a diminuição da mortalidade.
[1] Crédito da imagem: geralt (Pixabay) / Creative Commons CC0. URL: https://pixabay.com/en/eye-facebook-detail-macro-face-1553789/.
[2] WR Hobbs et al. Online social integration is associated with reduced mortality risk. PNAS 113, 12980 (2016).
Como citar este artigo: Claudio Macedo. Usando redes sociais para viver mais. Saense. URL: http://www.saense.com.br/2016/11/usando-redes-sociais-para-viver-mais/. Publicado em 22 de novembro (2016).