Matheus Macedo-Lima
24/01/2018

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“Contém ômega-3” virou quase um selo de qualidade em produtos alimentícios modernos. Adicionado a margarinas, ovos, sucos, o tal do ômega-3 é sempre anunciado como promessa de uma saúde melhor. Na natureza, o ômega-3 é encontrado em grandes quantidades em carnes de peixes e em alguns óleos vegetais. Mas o que ele realmente faz? Aliás, o que é ômega-3 mesmo?

Há um conjunto de ácidos graxos (gorduras poli-insaturadas) agrupado sob o termo ômega-3. Os mais famosos são o ácido eicosapentanoico e o ácido docosaexaenoico. Eles são importantes itens na nossa dieta porque, apesar de serem essenciais para o funcionamento de nossas células, nosso corpo não é capaz de produzi-los. Por isso também são chamados de ácidos graxos essenciais.

Esses ácidos fazem parte da estrutura das membranas celulares, além de exercerem diversas outras funções no nosso corpo. Por exemplo, essas moléculas servem de agentes anti-inflamatórios e de cicatrização e promovem bom funcionamento cardiovascular. Além de tudo isso, pesquisas apontam que os ômega-3 também trazem benefícios ao cérebro, melhorando a memória e até auxiliando o tratamento de doenças psiquiátricas [2]. Até que a propaganda não é um exagero, não é?

Cabe mais um benefício nessa lista?

Aí vai. Cientistas descobriram uma relação positiva entre o consumo de peixe, a qualidade do sono e o QI (quociente intelectual) em crianças [3]. Eles avaliaram 541 crianças chinesas de 9-12 anos com questionários a respeito de seus hábitos alimentares e noturnos. No fim do estudo as crianças passaram por um teste de QI, consistindo de habilidades verbais e de lógica.

As crianças que incluíam mais peixe em sua dieta (ao menos uma vez por semana) conseguiram resultados de QI cerca de 6% maiores do que as que comiam peixe raramente (menos de duas vezes por mês) e 2% maiores do que as que comiam peixe às vezes (2-3 vezes por mês). Essa diferença é significativa e robusta, pois mostra um padrão de dose-resposta, ou seja, quanto mais peixe na dieta, maior o QI.

Os pesquisadores então decidiram explorar outros fatores que poderiam estar relacionados a esse aumento de QI nas crianças. Já havia relatos de que o ômega-3 poderia aumentar a qualidade e tempo de sono em crianças com distúrbios do sono [4]. Então, a qualidade do sono das crianças chinesas foi avaliada em conjunto com as outras variáveis. A qualidade do sono explicou parcialmente o aumento do QI com o consumo de peixe (apenas o QI verbal). Ou seja, a relação entre o consumo de peixe e o QI de lógica não pôde ser explicado pelo aumento da qualidade de sono, indicando que esse pode ser um efeito direto.

Esse estudo sugere que o consumo de peixe (importante fonte de ômega-3) traz benefícios à capacidade cognitiva e à saúde do sono de crianças. Essa informação pode ser importante para a realização de políticas de saúde pública que promovam hábitos de alimentação saudáveis.

Ainda resta saber se algum efeito desse tipo existe em adultos. Mas só por precaução… Vamos de sushi!

[1] Crédito da imagem: Yoshiyasu NISHIKAWA (Flickr) / Creative Commons (CC BY-NC-ND 2.0). https://www.flickr.com/photos/mitikusa/4300979020/.

[2] NIH. Omega-3 Fatty Acids Fact Sheet for Health Professionals. https://ods.od.nih.gov/factsheets/Omega3FattyAcids-HealthProfessional/. Atualizado em 02 de novembro (2016).

[3] J Liu et al. The mediating role of sleep in the fish consumption – cognitive functioning relationship: a cohort study. Sci Rep 10.1038/s41598-017-17520-w (2017).

[4] P Montgomery et al. Fatty acids and sleep in UK children: Subjective and pilot objective sleep results from the DOLAB study – a randomized controlled trial. J Sleep Res 10.1111/jsr.12135 (2014).

Como citar este artigo: Matheus Macedo-Lima. Contém ômega-3: peixe na dieta está ligado ao aumento da inteligência em crianças e adolescentes. Saense. http://www.saense.com.br/2018/01/contem-omega-3-peixe-na-dieta-esta-ligado-ao-aumento-da-inteligencia-em-criancas-e-adolescentes/. Publicado em 24 de janeiro (2018).

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