UFRGS
12/11/2019
O Acidente Vascular Cerebral (AVC) está entre as principais causas mundiais de morte e incapacitação nos últimos 15 anos segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Pessoas que antes costumavam ser independentes repentinamente se veem precisando de ajuda nas atividades diárias. Esse auxílio costuma ser prestado por uma pessoa próxima, geralmente um familiar que não possui preparo na área.
Em sua dissertação de mestrado, a pesquisadora Ana Cláudia Fuhrmann decidiu identificar as barreiras enfrentadas pelos cuidadores familiares e, a partir disso, construir um manual educativo para auxiliá-los. O trabalho foi orientado pela professora da Faculdade de Enfermagem da UFRGS Lisiane Paskulin e contou com a parceria de pesquisadores da Universidade do Minho, de Portugal.
A ideia é que o manual sirva como um material de apoio para os cuidadores tirarem dúvidas quanto ao trato de pacientes em seus domicílios. O material, porém, não retira a importância do auxílio médico. É comum, na hora da alta hospitalar do paciente que sofreu um AVC, os profissionais não terem tempo suficiente para explicar todos os cuidados necessários, e a grande quantidade de informações recebidas pelo familiar nesse momento de tensão tende a ser, em parte, esquecida.
Acidente Vascular Cerebral
A doença ocorre quando uma determinada região do cérebro para de receber sangue, provocando uma paralisia total ou parcial dessa área cerebral. Acontece de uma hora para a outra, sem dar pistas, mas seus sintomas são imediatos. Dependendo do local afetado no cérebro, a pessoa pode apresentar paralisia de um lado do corpo, boca torta, perda da força no braço e/ou na perna, dificuldades na fala, visão dupla, desequilíbrio, desmaio, alterações comportamentais e perda de memória. A pesquisadora destaca a importância de anotar o horário em que os sintomas começaram e chamar o serviço médico.
As chances de ter um AVC aumentam em idosos e homens. Também possuem maior probabilidade de sofrer com essa doença pessoas que apresentam pelo menos um dos fatores de risco. Dentre eles destacam-se: o histórico de doenças cardíacas e vasculares, tabagismo, sedentarismo, sobrepeso, diabetes, pressão alta (hipertensão) e uso excessivo de álcool e drogas. No caso de pessoas com idade avançada, as sequelas deixadas por um acidente vascular cerebral podem contribuir para uma piora das debilitações decorrentes da idade.
Existem dois tipos de AVC: o isquêmico e o hemorrágico. O primeiro é ocasionado pela obstrução de uma artéria ou veia por um coágulo de sangue, provocando a redução ou a perda do fluxo sanguíneo para uma área do cérebro. Esse coágulo pode ser formado em diferentes partes do corpo: no próprio cérebro, no coração ou no pescoço. O AVC isquêmico é o mais comum, representando cerca de 85% dos casos.
O AVC hemorrágico é mais grave e ocorre quando um vaso sanguíneo se rompe, em decorrência da alta pressão que age sobre ele, e espalha o sangue pela região do cérebro em que se encontra, causando uma hemorragia.
A prevenção de uma nova ocorrência da doença é realizada por meio de exames laboratoriais de imagem e do monitoramento cardiovascular contínuo. Nos casos de AVC isquêmico, também são usados remédios para dissolver o coágulo e reestabelecer o fluxo sanguíneo. Já nos hemorrágicos, é realizado o controle da pressão sanguínea.
Construção do manual
O estudo foi desenvolvido em quatro etapas: grupo focal, elaboração do manual, validação de conteúdo e validação de aparência. Na primeira delas, foi realizado o grupo focal com cuidadores familiares de pacientes em acompanhamento na Linha de Cuidado do AVC – serviços disponibilizados pelo hospital para a recuperação e reabilitação do paciente – do Grupo Hospitalar Conceição (GHC). Esse método utiliza sessões em grupo para debater um determinado assunto, possibilitando a troca de experiência entre os integrantes. Na pesquisa, ele foi escolhido como meio de descobrir quais eram as dúvidas e as dificuldades mais recorrentes dos familiares.
O passo seguinte foi a construção do manual educativo de acordo com as questões trazidas nos encontros do grupo e com o protocolo criado em estudo anterior por Naiana Santos, uma das integrantes do Núcleo de Estudos em Educação e Saúde na Família e Comunidade da UFRGS, para auxiliar os enfermeiros nos cuidados após a doença. Além disso, a pesquisadora contou com a colaboração de seis enfermeiras com experiência na área de atenção domiciliar e da pessoa com AVC, que trabalharam na listagem dos tópicos e das imagens que deveriam ser incluídas e na adaptação da linguagem, de maneira a torná-la acessível aos cuidadores. Nessa etapa também foi realizada uma sessão de fotos com um paciente e um familiar em seu domicílio para ilustrar como os cuidados devem ser feitos
Depois de finalizado, o manual passou por duas validações. Na de conteúdo, enfermeiros do GHC avaliaram se o material continha todas as informações necessárias para o cuidado do paciente e se estavam sendo abordadas de maneira clara e adequada. Já na avaliação de aparência, foram convidados cuidadores familiares de pessoas idosas que sofreram AVC para responder a um questionário sobre a acessibilidade do manual. Após o término de todas as etapas, os participantes da pesquisa receberam uma cópia impressa do material.
O manual está agora em um processo de institucionalização no GHC para que, em breve, esteja disponível em seu repositório digital e em versões físicas no hospital. A ideia é que os profissionais da saúde possam utilizá-lo como apoio durante o preparo da alta hospitalar e na Atenção Primária à Saúde, realizada nos postos de saúde. Segundo Ana Cláudia, ao melhorar a qualidade da assistência e da capacitação do cuidador, as chances de o idoso passar por uma nova internação diminuem.
A dissertação resultou em dois artigos interligados: um sobre o grupo focal e seus resultados e outro sobre a construção e a validação do manual. Ambos serão publicados em revistas científicas, o primeiro na Revista Mineira de Enfermagem, e o segundo, na Revista Latino-Americana de Enfermagem. Além disso, o manual está disponível para download no Portal do Conhecimento SUS, do Ministério da Saúde, e no site da Rede Brasil AVC.
Dissertação
Título: Construção e validação de manual educativo para cuidadores familiares de pessoas idosas após Acidente Vascular Cerebral
Autora: Ana Cláudia Fuhrmann
Orientadora: Lisiane Manganelli Girardi Paskulin
Unidade: Programa de Pós-Graduação em Enfermagem. [1]
[1] Texto de Thauane Silva.
Como citar esta notícia científica: UFRGS. Estudo aborda os cuidados com o idoso após o AVC. Texto de Thauane Silva. Saense. https://saense.com.br/2019/11/estudo-aborda-os-cuidados-com-o-idoso-apos-o-avc/. Publicado em 12 de novembro (2019).