CCS/CAPES
24/04/2020

Explicação do funcionamento do biossensor que identifica infarto (Imagem: Arquivo pessoal)

Graduado em Química pelo Instituto de Química da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Luciano Pereira Rodrigues, é mestre em Nanotecnologia e doutor em Eletroquímica Orgânica Aplicada pela mesma instituição. O projeto que criou, o biossensor que identifica infarto, foi publicado na revista Journal of Nanoscience and Nanotechnology, em 2014, e foi finalista do Prêmio de Incentivo em Ciência e Tecnologia para o SUS, edição de 2015, oferecido pelo Ministério da Saúde.

Fale um pouco sobre a sua pesquisa:
Essa invenção foi desenvolvida durante o meu mestrado. O dispositivo óptico é composto por uma lâmina de vidro condutora, modificada com um polímero de espessura nanométrica, capaz de se ligar a um anticorpo de captura. O antígeno, molécula na qual o anticorpo se liga e que é o alvo, está no sangue dos pacientes com lesão cardíaca e é reconhecido pela sonda. Um outro anticorpo, este marcado com um nanomaterial luminescente denominado de “pontos quânticos”, acopla num ensaio tipo sanduíche. A amostra biológica da pessoa doente possibilita todos os acoplamentos biológicos. Ao irradiar um laser azul, uma luz verde é emitida para os casos positivos. Já nos casos de pacientes negativos nenhuma luz aparece.

Como se deu seu interesse em trabalhar com o assunto?
Quando ingressei no mestrado os coordenadores do laboratório, professores João Marcos Madurro e Ana Graci Brito Madurro, me direcionaram a esse projeto. Eu aceitei o desafio por ter enorme relevância para a saúde pública. O objetivo principal foi desenvolver um protótipo que ampliasse a dinâmica do diagnóstico para o infarto.

Qual a importância do seu trabalho para a realidade brasileira?
Embora bons resultados tenham sido alcançados com o protótipo do dispositivo, ainda será necessário ser aprimorado para atender a comunidade brasileira. Isso requer investimentos por parte de quem for produzir em grande escala e comercializar. No futuro, poderá ter um impacto internacional. Por agora, sua produção e comercialização está protegida em território nacional pelos próximos 20 anos.

Você teria dados sobre o infarto no Brasil? Existe um grupo de risco?
Em relação aos dados de mortes de infarto no Brasil, eles são assustadores. Embora o infarto, obviamente, não seja contagioso, até o momento, em abril de 2020, já morreram 104.813 pessoas, segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). As doenças do coração são as principais causas de morte no Brasil, representando mais de 30% dos casos. Segundo os cardiologistas, o grupo de risco para infarto agudo do miocárdio compreende as pessoas diabéticas, hipertensas, sedentárias, com colesterol alto e estresse elevado.

O que o seu trabalho traz de diferente daquilo que já é visto na literatura?
Tivemos uma conversa recente com a bioquímica, Jaciara Macedo, responsável técnica do Laboratório de Análises Clínicas do Hospital Universitário Clemente de Faria (HUCF), da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Ela explicou que hoje é feito na urgência um teste rápido cromatográfico, mas que ele não é muito específico e pode dar resultados de falso-negativo, ou seja, o paciente está sofrendo um infarto mas não é detectado. O ideal é o teste imunoenzimático de ELISA, mas demora de 4 a 6 horas, e a maioria dos pacientes morre antes de uma hora após os sintomas, no caso do infarto fulminante. Esse protótipo de dispositivo une as características de especificidade do ELISA e rapidez do teste cromatográfico.

Qual a importância do apoio da CAPES?
Esse trabalho foi desenvolvido entre os anos de 2009 e 2011. Eu havia acabado de deixar a indústria química, após dez anos de trabalho em empresas renomadas do Brasil. Já casado e com dois filhos, ressalto que a bolsa que recebia da CAPES era a minha única fonte de renda nesse período. Portanto, esse órgão de apoio à pesquisa foi fundamental para a obtenção desses resultados.

Quais são os próximos passos?
Eu me senti muito honrado com a carta de concessão da patente pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), pois apenas um número restrito de pesquisadores no Brasil conquistam essa outorga. Espero que haja empresas interessadas em viabilizar isso para sociedade. Embora os royalties sejam credenciados à Universidade Federal de Uberlândia, me coloco à disposição para consultoria técnica.

Como citar esta notícia: CCS/CAPES. Pesquisador cria biossensor que identifica ataque cardíaco. Saense. https://saense.com.br/2020/04/pesquisador-cria-biossensor-que-identifica-ataque-cardiaco/. Publicado em 24 de abril (2020).

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