Embrapa
28/04/2020

Uvas cabernet sauvignon na safra (Foto: Mauro Celso Zanus)

Mauro Celso Zanus
Pesquisador da Embrapa Uva e Vinho

Volume de produção e produtividade dos vinhedos:

– As condições de inverno foram de poucas horas de frio, bem abaixo do normal. Os meses de agosto e setembro foram bastante secos (precipitação pluviométrica de 98 e 73mm – respectivamente), o que prejudicou a brotação das videiras.  Estes dois fatores fizeram com que houvesse uma brotação parcial nas varas do ano anterior, com predominância de brotação nas gemas apicais, diminuindo o potencial produtivo das plantas. É importante ressaltar que esse efeito se expressou de forma diferente entre as variedades, sendo umas mais sensíveis e outras menos.

– Já entre o início do mês de outubro e meados de novembro, quando ocorrem as fases de plena floração e pegamento dos frutos, houve um excesso de  chuvas (em Bento Gonçalves registrou-se 260 mm em outubro), prejudicando em diferentes graus a fecundação, dependendo do ciclo e cada variedade.

– Após esse excesso hídrico, houve uma forte estiagem no período entre dezembro e janeiro, a qual teve um maior impacto nos vinhedos localizados em solos mais rasos, levando a uma redução no volume de produção, que não foi observado em todas as áreas de cultivo

– Por outro lado, diferente da safra 2018/2019 , não houve ocorrência significativa de fenômenos de granizo ou fortes temporais. Na safra passada, o granizo da primavera de 2018 ocasionou grandes perdas,  particularmente na região de Flores da Cunha.

Nesse cenário, estima-se que o volume de produção da safra gaúcha de uva 2019/2020 fique entre 550 e 590 milhões de quilos um pouco inferior aos 614 milhões de quilos registrados em 2019.

Qualidade da produção

O clima seco e quente do final da primavera e verão  sempre beneficia a qualidade das uvas, tanto das destinadas à elaboração de vinhos quanto daquelas para elaboração de suco. A forte estiagem, ocorrida nos meses de dezembro e janeiro, foi aliviada com o bom volume de chuvas a partir da segunda semana de janeiro (Tabela 1). Depois, ainda que em menor grau, ocorreram chuvas de pouco volume até o final de março.  

Isto fez com que a maturação ocorresse por completo, com uvas sadias, sem podridões e com altas concentrações de açúcar e compostos minerais e orgânicos. A conjugação de dias ensolarados, com temperaturas moderadas/altas, e noites de céu limpo (sem nuvens), favoreceram um gradiente de temperatura, beneficiando a biossíntese de pigmentos  e preservando a acidez das uvas.

Variedades delicadas como a Chardonnay e a Pinot Noir foram colhidas com sanidade excepcional e excelente grau de açúcar (entre 19 a 22 ºBrix), particularmente para a produção de vinhos tranquilos.

As principais uvas para suco, como a Bordô, Concord, Isabel, ‘BRS Violeta’ e‘BRS Carmem’   apresentaram alto teor de açúcares (entre 17 a 20 ºBrix), elevada concentração de compostos fenólicos  e pigmentos

As uvas que são a base para a elaboração dos espumantes moscatéis, como  a Moscato Branco, Moscato Giallo e Moscato R2, apresentaram uma excelente sanidade e elevado grau de maturação –  entre 16 e 19 graus Brix (o normal é entre 13 a 15º Brix), o que deve se traduzir em espumantes intensos em aroma, de sabor nítido, sem defeitos e de elevada qualidade.  Outro produto de destaque nesta safra serão os espumantes de Prosecco, que deverão ter sabor mais acentuado que o usual, pois as uvas estavam 100 % sadias e atingiram elevado grau de maturação (15 a 17º Brix),

As principais uvas para elaboração de vinhos tintos, como a Teroldego, Merlot, Cabernet  Franc, Tannat e Cabernet Sauvignon, apresentaram um elevado grau de maturação (entre 20 a 24 °Brix) e originarão, por consequência, vinhos de coloração intensa, potentes e encorpados, com taninos agradáveis e macios.  Muitos destes vinhos, a depender do processo de extração/elaboração) elegido pelos enólogos,  poderão apresentar excelente potencial de guarda.

RESUMO
Os relatos dos agrônomos e enólogos, os dados de clima e as observações das uvas de vinhedos experimentais sobre a safra 2020 é de que foram processadas uvas equilibradas em acidez, concentradas em açúcares, taninos e pigmentos. A quantidade da safra, porém, será um pouco menor do que as médias históricas.

Quanto à qualidade dos vinhos, somando-se o efeito da qualidade da matéria-prima com a utilização de alta tecnologia no processamento, pode-se afirmar que teremos uma das melhores safras dos últimos 20 anos.

Tabela 1. Condições meteorológicas ocorridas durante a maturação das uvas na Estação Meteorológica Automática localizada na Embrapa Uva e Vinho, Bento Gonçalves – RS, Safra 2020.

Referências

INMET. Instituto Nacional de Meteorologia. Estações Automáticas. Brasília, 2020. Disponível em: <http://www.inmet.gov.br/sonabra/pg_dspDadosCodigo_sim.php?QTg0MA==>. Acesso em: 07 abr. 2020.

Como citar este artigo: Embrapa. Safra da Uva 2020 na Serra Gaúcha.  Texto de Mauro Celso Zanus. Saense. https://saense.com.br/2020/04/safra-da-uva-2020-na-serra-gaucha/. Publicado em 28 de abril (2020).

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