Jornal da USP
08/06/2020
Um método estatístico desenvolvido no Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP identifica os pontos de mudança (“nós”) na curva de casos de covid-19 e permite detectar e prever alterações na evolução do contágio pela doença. Com base no método, os pesquisadores do Grupo de Pesquisa em Estatística Computacional (GPECA) do IME apontam que há hoje uma taxa de crescimento acentuada no número de casos de covid-19 que se mantém desde meados de abril. As estimativas sobre a doença são atualizadas diariamente e disponibilizadas no site do GPECA.
“A pesquisa busca ajustar, com métodos estatísticos, uma curva aos dados de casos reportados de covid-19 e determinar uma tendência de curto prazo, com base nessa curva”, afirma ao Jornal da USP a professora do IME Florencia Leonardi, que coordena o projeto. “Os pesquisadores usam os números de casos diários reportados de covid-19 disponíveis publicamente, em páginas da internet que coletam dados dos diferentes órgãos oficiais. São analisadas informações de países, Estados e cidades brasileiras com um número grande de casos.”
Segundo a professora, o método utiliza um critério estatístico para buscar a melhor curva disponível para ajustar aos dados observados. “Por meio desse critério foi desenvolvido um modelo para determinar, de forma automática, os pontos onde estas curvas são ancoradas, chamados de ‘knots’ (‘nós’, em inglês)”, explica. “Para o número de novos casos diários reportados de covid-19, esses ‘nós’ são interpretados como datas em que há mudanças de comportamento nas curvas, como tendência de aumento, diminuição ou estabilização.”
Taxa de crescimento
O método indica onde há mudanças na taxa de crescimento ou decrescimento dos dados, o que permite avaliar o efeito de algumas medidas adotadas para conter o número de casos da doença, como por exemplo, a quarentena ou o lockdown. “Além disso, o ajuste destas curvas também permite obter uma tendência para o número de casos para os próximos dias e fazer algumas predições com base nesta tendência”, ressalta Florencia. “O método pode ser aplicado em qualquer escala, regional ou nacional, desde que haja um número razoável de dados disponíveis.”
Com base no método, os pesquisadores apontam que atualmente há uma tendência crescente e bastante acentuada no número de casos na cidade de São Paulo. “Em particular, a taxa de crescimento do número de casos parece ter aumentado a partir de meados de abril”, destaca a professora ao Jornal da USP. “Caso estes números não possam ser atribuídos a outros fatores como, por exemplo, mudança na política de testagem, isso indicaria que a curva de contágios ainda está crescendo de forma bem acentuada na cidade.”
No caso do Estado de São Paulo e do Brasil, as análises indicam o mesmo padrão de crescimento, com uma taxa acentuada a partir dos últimos dias de abril. “Isto talvez possa ser atribuído ao relaxamento nas medidas de isolamento e distanciamento social por parte de população”, observa Florencia.
A metodologia foi desenvolvida no IME por uma equipe formada por Florencia, Alex Rodrigo de Sousa, que realiza pós-doutorado, e pelo doutorando Magno Tairone. Os resultados obtidos pelos pesquisadores são atualizados diariamente e colocados na página http://www.ime.usp.br/~gpeca/covid-19. O vídeo de divulgação do projeto foi premiado pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação da USP e pode ser acessado em:
Mais informações: email florencia@usp.br, com a professora Florencia Leonardi. [1]
[1] Texto de Júlio Bernardes.
Como citar esta notícia: Jornal da USP. “Desatando nós”: método identifica e prevê mudanças na curva de casos de Covid-19. Texto de Júlio Bernardes. Saense. https://saense.com.br/2020/06/desatando-nos-metodo-identifica-e-preve-mudancas-na-curva-de-casos-de-covid-19/. Publicado em 08 de junho (2020).