UnB
17/08/2020

UnB [1]

Lúcio Rennó

Nas primeiras semanas de junho, a Pesquisa Social da Universidade de Brasília coletou informações de mais de 25 mil membros de sua comunidade por meio de questionários disponibilizados on-line, por e-mail e por telefone. Foi a primeira do gênero, com ampla cobertura dos três setores da universidade: técnicos, discentes e docentes.

A pesquisa está inserida nas ações de enfrentamento da pandemia da covid-19, visando instruir o planejamento de curto prazo da universidade. Contudo, a Pesquisa Social é mais do que isso: é patrimônio da UnB, registrando o perfil e condições socioeconômicas dessa população. Permitirá, portanto, seu uso continuado nas atividades futuras de gestão e na realização de estudos sobre ensino superior no Brasil.


A pesquisa deve ser entendida como um mapa do perfil das pessoas que dão vida à UnB. Sobre alunos e professores, um aspecto salta aos olhos. Enquanto o perfil dos estudantes é extremamente heterogêneo, com características variadas de renda, cor da pele/etnia, gênero e local de moradia, o dos professores é bastante homogêneo, concentrado desproporcionalmente em pessoas brancas, de renda média alta e residentes nas áreas centrais do Distrito Federal.

Ou seja, a UnB tornou-se mais inclusiva em seu corpo discente, espelhando melhor a realidade social brasileira, mas não em seu corpo docente. Por um lado, isso é fruto de políticas de ampliação do acesso ao ensino superior como a diversificação das formas de ingresso, abertura de mais campus, de mais cursos e do turno noturno, adoção de cotas de vários tipos e ampliação da assistência estudantil. Por outro, demonstra que precisamos pensar mais sobre inclusão na carreira docente.


Dentre os estudantes que preencheram o questionário, 49% identificam-se como tendo cor da pele preta ou parda frente a 25% entre professores; 57% se definem como mulher, enquanto essas são 48% no corpo docente; 48% dos discentes não têm plano de saúde, enquanto 90% dos professores o têm; a grande maioria dos estudantes (80%) mora em regiões administrativas outras que o Plano Piloto, Lago Sul e Lago Norte, onde vivem 68% dos professores. Mais: 74% dos alunos dependem de ônibus para a locomoção ao câmpus onde estudam enquanto que 85% dos docentes usam carro. Finalmente, 22% dos alunos que participaram da pesquisa são beneficiários de programas de políticas sociais e 30% têm renda familiar abaixo de dois salários mínimos.

A realidade para o corpo discente, provavelmente, era muito distinta há dez anos. Infelizmente não sabemos, por falta de dados. Assim como, dada a maior diversidade de perfis na graduação, a homogeneidade do corpo docente poderá mudar em dez anos. Portanto, a continuação de pesquisas desse tipo ou o aprimoramento de cadastros é fundamental para acompanharmos as transformações da universidade pública.


E qual a qualidade desses dados? A taxa de resposta — quantos em cada grupo participaram da consulta em relação ao total de cada população — e as diferenças entre os que responderam e não responderam com base em outras fontes de dados são as formas usuais de avaliação do grau de distorção da amostra estudada.

A taxa de resposta de professores foi muito alta, 78%, o que já assegura ampla cobertura e mínimo viés. Para alunos, foi de 50%. Por isso, examinamos os registros administrativos dos cadastros dos estudantes para comparar os que responderam e os que não. Entre os limites desses dados, compostos por uma gama reduzida de informações, constatamos que os que participaram são muito parecidos com os que não responderam.

Se há uma diferença, é que a amostra que respondeu sobrerrepresentou os que moram em regiões administrativas de renda mais baixa, entraram na universidade pelo PAS em vez do vestibular e são cotistas em maior número. Portanto, a pesquisa não excluiu os mais vulneráveis e nos dá os melhores dados já coletados com a comunidade universitária, agora acessíveis no repositório de estudos sobre covid na UnB – http://repositoriocovid19.unb.br/pesquisa-social –, assegurando máxima transparência. [2]

[1] Imagem de Otávio Souza Junio por Pixabay.

[2] Lucio Remuzat Rennó Junior é professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília e ocupa a Direção do Instituto de Ciência Política para o mandato de 2020 a 2024. Tem experiência na área de Ciência Política, com ênfase em Política Comparada, Estudos Legislativos e Comportamento Eleitoral.

Como citar este artigo: UnB. A cara de uma universidade pública. Texto de Lúcio Rennó. Saense. https://saense.com.br/2020/08/a-cara-de-uma-universidade-publica/. Publicado em 17 de agosto (2020).

Notícias da UnB     Home