UFSC
20/08/2020

(Foto: Thomas Iversen/Unsplash)

Em uma parceria entre o setor privado, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), um grupo de pesquisadores investigou os efeitos de dois tipos de tratamento para a coccidiose, uma doença que atinge frangos e leva a perdas econômicas de bilhões de dólares na avicultura mundial. Foram comparados os efeitos do antibiótico tradicionalmente usado para a enfermidade (monensina) e da mistura dos óleos funcionais da casca de castanha de caju e de mamona. O estudo indica que os óleos funcionais regulam a microbiota intestinal dos animais e apresentam uma alternativa eficaz de tratamento para a doença, além de evitarem o desenvolvimento de resistência parasitária ao antibiótico. Os resultados foram publicados no início deste mês na revista científica Plos One.

A coccidiose é causada pelo parasita Eimeria spp. e tem como principal sintoma a diarreia. É uma enfermidade de fácil disseminação, que afeta o consumo de ração e o ganho de peso dos animais. Conforme alerta a professora do Departamento de Zootecnia e Desenvolvimento Rural da UFSC Priscila de Oliveira Moraes, uma das autoras da pesquisa, nem sempre os produtores enxergam os sinais clínicos de infecção. “Embora esse parasita não cause uma grande mortalidade, ele é capaz de causar grandes prejuízos porque durante o seu ciclo ele destrói as vilosidades (as células de absorção de nutrientes do intestino)”, comenta a docente. Isso leva a uma alteração na microbiota – o ecossistema de micro-organismos que vive no trato digestivo dos animais – e ao aumento da população de bactérias patogênicas.

Os antibióticos da classe dos ionóforos, como a monensina, têm sido utilizados há décadas para controlar a coccidiose. Estudos recentes, contudo, demonstram que há mecanismos de resistência do Eimeria spp. ao medicamento. A combinação de óleos funcionais, por sua vez, é um produto já comercializado que tem demonstrado efeito como modulador da microbiota e do sistema imune. A pesquisa, relata Priscila, “surgiu a partir da observação de campo, com o objetivo de compreender o papel dos óleos funcionais no metabolismo dos animais. Há uma grande importância em estudar substitutos aos antibióticos que são utilizados como promotores de crescimento, isto porque há bactérias que são resistentes aos antibióticos”.

Os testes incluíram 864 frangos, divididos entre grupos-controle e os que receberam os diferentes tratamentos. Os resultados demonstraram que os animais contaminados tratados com os óleos funcionais tiveram o mesmo desempenho daqueles que receberam monensina. É diferente, entretanto, o mecanismo de ação dos produtos. Enquanto o antibiótico age matando o parasita (o que pode desencadear a resistência), os óleos equilibram a microbiota e o sistema imune, fazendo com que a resposta contra o agente infeccioso seja dada pelo próprio organismo do animal. “Ambos os produtos, agindo de maneira diferente, foram capazes de melhorar o desempenho dos frangos infectados por coccidiose. Eu, como pesquisadora, enxergo que a vantagem de você produzir um frango utilizando os óleos funcionais, e não a monensina, está na redução da resistência do parasita à própria monensina. Além disso, você está trabalhando com um produto que possivelmente seria capaz de modular a microbiota frente a outros desafios. No entanto, ainda são necessário mais estudos para essa afirmação”, explica Priscila. 

A professora reforça a necessidade de ampliar o conhecimento da saúde intestinal para encontrar substitutos eficientes aos antibióticos: “Eu sempre digo aos meus alunos que no futuro vamos formular rações para os animais e tomar decisões com base em biomarcadores moleculares de saúde intestinal, que podem ser a comunidade microbiana, as interleucinas ou biomarcadores ainda não descobertos. Esta é a grande importância em compreender a microbiota intestinal e sua relação com o sistema imune e a dieta”. [1]

[1] Texto de Camila Raposo/Jornalista da Agecom/UFSC.

Como citar esta notícia científica: UFSC. Pesquisadores estudam óleos funcionais como alternativa a tratamento com antibiótico na produção de frangos. Texto de Camila Raposo. Saense. https://saense.com.br/2020/08/pesquisadores-estudam-oleos-funcionais-como-alternativa-a-tratamento-com-antibiotico-na-producao-de-frangos/. Publicado em 20 de agosto (2020).

Notícias científicas da UFSC     Home