UFRGS
04/09/2025

O custo da alta performance: a busca por maior desempenho cognitivo na Universidade
Foto: Flávio Dutra/JU

Uma sociedade cada vez mais complexa e pautada por valores de desempenho constante acaba por exercer demandas crescentes sobre as funções cognitivas, como a memória, atenção e raciocínio. No entanto, nossas capacidades cognitivas, como capacidade atencional e de velocidade de processamento de informações, são claramente limitadas, conforme demonstram inúmeros estudos ao longo de décadas de investigação das Ciências Cognitivas.

Apesar disso, não necessariamente atual, mas um fenômeno em crescimento, é o que vem sendo chamado de cognitive enhancement, e uma população especificamente vulnerável a ele são os estudantes universitários. Tal termo se refere ao uso não médico de medicamentos prescritos, álcool ou drogas ilícitas, ou dos chamados soft enhancers, como suplementos alimentares (por exemplo, vitaminas), produtos com cafeína, bebidas energéticas e medicamentos de venda livre disponíveis em farmácias com o objetivo de melhorar a cognição.

No Brasil, alguns estudos vêm indicando índices significativos na utilização indiscriminada de substâncias químicas que prometem aprimorar o desempenho cognitivo de estudantes no contexto universitário, como energéticos ou medicamentos psicoestimulantes. Estes últimos sem prescrições e recomendações médicas. As motivações por trás desse uso estão principalmente na busca por maior performance de raciocínio, memória, concentração e, também, na compensação da privação de sono.

Um desses estudos com alunos de uma universidade brasileira indicou que os participantes que faziam ou fizeram uso de metilfenidato (opção que se demonstra eficaz para o manejo dos sintomas do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade/Impulsividade – TDAH) por motivos não prescritos disseram que a principal razão de uso era o aprimoramento cognitivo, e a universidade foi o principal local de início desse uso.

Um ponto que chamou atenção no estudo foram os efeitos indesejáveis – declarados por 50% dos participantes – do uso não prescrito do metilfenidato. Os mais apontados foram taquicardia (relatada por 33,3% dos participantes) e ansiedade (relatada por 13% dos participantes). Preocupam muito esses dados e a universidade como contexto de início do uso dos cognitive enhancers (especialmente do metilfenidato).

De fato, a crescente utilização não terapêutica como, por exemplo, do metilfenidato, vem levantando preocupações no âmbito da saúde pública e coletiva no Brasil. Em 2024, um dos objetivos principais do Sistema Único de Saúde (SUS) tornou-se informar a população sobre os riscos da automedicação, especialmente quanto ao uso de medicamentos controlados, salientando a seriedade com que essa questão deve ser tratada, pois ela envolve riscos à saúde de variadas formas.

É importante ressaltar, por fim, que, dentro do que se chama aprimoramento cognitivo, outros esforços em nível individual com muito menos (ou nulos) efeitos colaterais podem ser adicionados à rotina e mantidos em longo prazo para contribuir com a saúde cognitiva. São alguns exemplos: aprendizagem de uma segunda língua, exercício físico regular, alimentação equilibrada, hábitos de leitura e escrita, ouvir um podcast que faça refletir sobre um assunto diferente, encontrar amigos e desenvolver habilidades sociais, assim como descobrir novos hobbies e talentos, entre outras atividades. 

Com a aceleração da busca por aprimoramento cognitivo na atualidade, é preciso retomar que a saúde cognitiva e os desempenhos acadêmico e profissional sólidos talvez sejam construídos por meio da desaceleração, do cuidado e do respeito aos limites (cognitivos e de saúde mental/emocional) inerentes a cada um, pois, como disse Albert Einstein, somente quando aceitamos nossos limites conseguimos ir além deles.

Ao reconhecermos nossos limites, poderemos gerir melhor as demandas pelo que nos for possível – dirimindo sensações de exaustão -, pedir auxílio a pessoas próximas ou mesmo profissional e/ou institucional quando sentirmos a necessidade e saberemos priorizar tarefas ou delegar algumas delas, quando possível. Aprender estratégias comportamentais e emocionais para lidar com as exigências, responsabilidades e necessidades do ambiente parece uma medida mais segura e saudável. [1], [2]

[1] Texto de Gabriella Koltermann

[2] Publicação original: https://www.ufrgs.br/jornal/o-custo-da-alta-performance-a-busca-por-maior-desempenho-cognitivo-na-universidade/

Como citar esta notícia: UFRGS. O custo da alta performance: a busca por maior desempenho cognitivo na Universidade. Texto de Gabriella Koltermann. Saense. https://saense.com.br/2025/09/o-custo-da-alta-performance-a-busca-por-maior-desempenho-cognitivo-na-universidade/. Publicado em 04 de setembro (2025).

Notícias científicas da UFRGS Home