UnB
13/09/2022

O Cerrado e as eleições 2022
[1]

Marcelo Bizerril

Esse não é um texto para falar das muitíssimas importâncias do Cerrado para a vida no Brasil e no planeta. Apesar do Cerrado continuar a sofrer com a destruição em mais um dia a ele dedicado, não escrevo para exaltar sua biodiversidade, os conhecimentos e culturas dos povos cerratenses, os serviços ambientais prestados, dentre eles o papel fundamental na malha hidrológica brasileira, ou ainda seu valor intrínseco, seu direito de existir, e o dos seres humanos de poderem admirá-lo. Até poderia dedicar o texto a esses essenciais assuntos, merecedores de toda a atenção. Mas é mais urgente falar da ausência do Cerrado no debate eleitoral.

Ainda que às custas de muita destruição e perdas de vidas humanas, a temática ambiental finalmente vem adquirindo força e centralidade no debate político no país. O centro das atenções é o desmatamento da Amazônia, alvo de críticas severas quanto o assunto é o descaso com o meio ambiente e a conivência com a violência no campo, e objeto de preocupação de candidatos e mídia quando o debate se volta aos cuidados com o planeta e, sobretudo, às relações internacionais e a preocupação global com o modo como o Brasil tem (des)cuidado da floresta.

Enquanto isso, o discurso hegemônico de exaltação do Agronegócio segue firme e inabalável na bancada da imprensa comercial e nos pronunciamentos dos políticos. Apesar de todas as evidências indicarem o Agronegócio como o principal agente destruidor do Cerrado, ele continua sendo “tech, pop e parceiro do meio ambiente” para a mídia comercial, e exemplo do “Brasil que dá certo” nas falas de candidatos liberais e ultraliberais. Mesmo nos discursos mais afinados com a ideia de sustentabilidade e de respeito aos povos tradicionais, o Cerrado não é sequer citado, sendo completamente excluído do plano de conservação e uso sustentado que parece incluir apenas a Amazônia.

É, portanto, fundamental que o Cerrado seja incluído nessa onda que vem se consolidando de transformar o Brasil em modelo mundial de preservação ambiental e de desenvolvimento a partir da Amazônia. Propostas e projetos já existem, inclusive no Congresso Nacional. A PEC 504/2010, aprovada por unanimidade no Senado, aguarda desde 2010 ser pautada na Câmara para incluir Cerrado e Caatinga dentre os biomas tratados como patrimônio nacional no artigo 225 da Constituição Federal. Já o projeto de lei nº 5462/2019, que dispõe sobre a Política de Desenvolvimento Sustentável do Bioma Cerrado, tramita lentamente pela burocracia do poder legislativo. Ambos precisam ser tratados como prioridade pelo novo governo e a nova legislatura. Essas e outras políticas de valorização do segundo maior bioma brasileiro são primordiais para reverter o quadro de descaso que tem resultado em tamanha destruição. Ambientalistas, cientistas e políticos responsáveis com o futuro do planeta não podem perder essa derradeira oportunidade de salvar o que resta do Cerrado. [2]

[1] Imagem: KleberSilva / Pixabay

[2] Marcelo Ximenes Aguiar Bizerril é professor e doutor em Ecologia pela Universidade de Brasília

Como citar este texto:  UnB. O Cerrado e as eleições 2022. Texto de Marcelo Bizerril. Saense. https://saense.com.br/2022/09/o-cerrado-e-as-eleicoes-2022/. Publicado em 13 de setembro (2022).

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