UFPR
15/03/2024

Nova espécie de árvore conhecida como quaresmeira é descoberta na região da Grande São Paulo
A quaresmeira é nativa do Brasil, sendo raramente encontrada fora do país. A árvore tem papel fundamental para a recuperação de áreas desmatadas e é bastante útil no reflorestamento de florestas degradadas. Foto: Meyer e Goldenberg/PG Botânica UFPR/Acervo

O final do verão é invadido por tons intensos de rosa e roxo em diversas cidades do Brasil graças à florada das quaresmeiras e dos manacás-da-serra, espécies de plantas muito presentes na arborização de centros urbanos. Inclusive o nome popular da quaresmeira foi dado devido às flores desabrocharem nesta época do ano, que antecede a Páscoa e sucede ao Carnaval. 

De copa arredondada, com folhas verde-escuras e carregadas com flores roxas ou rosadas, essas árvores apresentam um porte pequeno a médio, chegando até 12 metros de altura, e pertencem a espécies do gênero Pleroma. Apesar de nativas de florestas úmidas, elas atualmente podem ser encontradas em todo o país, devido à popularização do cultivo e a sua capacidade de tolerância à poluição.  

Em setembro de 2023, pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Botânica da Universidade Federal do Paraná (UFPR) descreveram uma nova espécie de Pleroma, encontrada no Núcleo Curucutu do Parque Estadual da Serra do Mar, localizado, em parte, no município de São Paulo. 

O exemplar foi coletado em fevereiro de 2012 e o pesquisador Fabrício Schmitz Meyer, atualmente em pós-doutorado na UFPR e especialista nesse gênero de planta, levou mais de dez anos para estudá-lo detalhadamente e chegar à conclusão que se tratava de uma nova espécie. A descoberta foi publicada na revista de taxonomia botânica Phytotaxa 

Em homenagem ao Núcleo Curucutu, do Parque Estadual da Serra do Mar, único local de ocorrência da espécie conhecido até o momento, a planta foi batizada de Pleroma curucutuense.

“Ela é uma parente das quaresmeiras e manacás, mas ao contrário das mais conhecidas, possui um porte menor, as flores reunidas em inflorescências e as pétalas são roxas, apenas com a porção basal branca, ou seja, não mudam de brancas para lilases durante a abertura”, explica Meyer à Ciência UFPR

O fato de a espécie ser endêmica apenas da região do parque pode significar que há risco de extinção, devido a sua distribuição restrita. Os pesquisadores acreditam não ser provável que exemplares da planta sejam encontrados fora desta área, mas que é possível que ela esteja amplamente distribuída dentro do próprio núcleo em que foi coletada.  

“A espécie só foi apanhada em campos de altitude próximos da sede do parque, mas estas formações se estendem mais a leste e a sul nas cristas mais altas desta porção da Serra do Mar. Assim, suspeitamos que existam mais populações da espécie em áreas insuficientemente amostradas dentro do próprio parque e, quanto maiores forem as populações, menos risco ela corre”, avalia o autor do artigo. 

Apesar de ter sido descrita só agora, a espécie foi coletada pela primeira vez em 1996 e ficou depositada na coleção biológica da UFPR, chamada herbário, por todo esse tempo.

“Isso é comum acontecer, pois a pessoa que coletou antes não conseguiu identificar como uma nova espécie, já que para estudar a flora, dependemos de amostras depositadas no herbário. E este é um trabalho geralmente realizado em longo prazo pois passa por diversas etapas”, conta o professor do Departamento de Botânica da UFPR e supervisor da pesquisa, Renato Goldenberg.  

Semelhanças com outras espécies do gênero 

Pleroma curucutuense é morfologicamente parecida com Pleroma caissara, espécie descrita pelos mesmos autores em 2014. As principais diferenças dizem respeito ao porte reduzido, folhas menores com apenas três nervuras, flores e peças florais menores.

“Elas também ocorrem em habitats diferentes. P. curucutuense ocorre acima de 750 metros, em campos de altitude, enquanto P. caissara ocorre entre dez e 400 metros de altitude, próximo à costa, na restinga e na Mata Atlântica de várzea e submontana”, revela Meyer. 

Ainda que suas parentes, quaresmeiras e manacás-da-serra, sejam comuns em diversas áreas do território brasileiro, não se sabe se a nova espécie descrita poderia ser cultivada em outras regiões, já que essa situação só poderá ser constatada após testes. Contudo, o padrão é que as quaresmeiras são plantas de fácil cultivo a partir de sementes e possuem enorme potencial ornamental. 

Uma das principais regiões do país ainda tem flora desconhecida    

Embora cada novo táxon (agrupamento de organismos biológicos construído com base em uma definição) descoberto represente um incremento do conhecimento sobre a biodiversidade, o fato de encontrar uma espécie inédita próxima a grandes núcleos urbanos é um dos aspectos considerados mais interessante da pesquisa. 

“Chama atenção que uma espécie, até então desconhecida, seja reconhecida como nova no município de São Paulo, que inclui uma das maiores áreas urbanas do mundo e a maior da América do Sul, comportando milhões de pessoas. É impressionante que uma cidade desse porte ainda tenha áreas naturais com flora não totalmente conhecida”, assegura Goldenberg. 

O Parque Estadual da Serra do Mar abrange parte de 23 municípios, indo da divisa de São Paulo com o Rio de Janeiro até Itariri, no sul do estado paulista e cobrindo toda a região serrana e arredores da Serra do Mar. A área de preservação possui uma vegetação bastante rica, com pelo menos 512 espécies nativas já inventariadas em seus campos de altitude. 

O Núcleo Curucutu, local onde P. curucutuense foi coletada, está localizado entre a região metropolitana da baixada santista e a grande São Paulo. [1], [2]

[1] Texto de Jéssica Tokarski

[2] Publicação original: https://ciencia.ufpr.br/portal/nova-especie-de-arvore-conhecida-como-quaresmeira-e-descoberta-na-regiao-da-grande-sao-paulo/

Como citar este texto: UFPR. Nova espécie de árvore conhecida como quaresmeira é descoberta na região da Grande São Paulo. Texto de Jéssica Tokarski. Saense. https://saense.com.br/2024/03/nova-especie-de-arvore-conhecida-como-quaresmeira-e-descoberta-na-regiao-da-grande-sao-paulo/. Publicado em 15 de março (2024).

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