UFRGS
23/09/2025

Quando estamos em uma conversa com colegas ou amigos e dizemos que nossa rotina está muito corrida, todos parecem entender o que queremos dizer. Alguns até podem julgar que não somos tão ocupados e que estamos reclamando sem razão, mas a verdade é que todos sabem como é ter essa sensação. Afinal, quem nunca sentiu que tudo o que fazemos é insuficiente?
Mesmo naqueles dias em que nos planejamos acordar mais cedo e chegar antes do horário do trabalho para dar conta das demandas pendentes, e efetivamente conseguimos fazer isso, o sentimento que fica é de que não há tempo suficiente para tudo. Parece que estamos sempre brigando com o nosso relógio, chegando atrasados aos compromissos ou não conseguindo finalizar tudo aquilo que nos propomos fazer.
Muitas vezes desistimos de ter uma alimentação de qualidade em função de outras atividades que surgem em horários de refeição. Quem nunca marcou uma reunião no almoço ou um jantar de negócios? E quando marcamos um compromisso atrás do outro, sem muito tempo de folga entre os eventos, impedindo nossa alimentação? A sensação de estar atrasado ou correndo atrás do relógio é ainda mais constante. Otimização do tempo é algo interessante, mas não deve ser às custas de nosso bem-estar.
Por mais que haja uma supervalorização das pessoas que fazem diversas tarefas durante o dia em nossa sociedade, não podemos esquecer que, quando adoecemos, todas as nossas obrigações e compromissos caem por terra, provando que tudo pode, sim, ser adiado ou realizado por outras pessoas.
Essa rotina cheia de afazeres e a agenda lotada de compromissos podem ser reflexo da cobrança pela produtividade, em que até um momento de autocuidado, como um passeio no parque, pode ser malvisto por outros e por nós mesmos. Esse comportamento, entretanto, também pode ser adoecedor em longo prazo, pois precisamos de descanso, de diversão e de lazer com a família e com os amigos, de períodos sem tarefas.
Você lembra quando foi a última vez que fez algo novo? Caso não se lembre, talvez esteja na hora de refletir sobre sua rotina e se questionar se ela não anda muito “tarefeira”. E aqui não estamos falando que o algo novo precisa ser caro ou extremamente elaborado; pelo contrário, você pode tentar fazer coisas novas e simples, como cozinhar uma receita diferente, caminhar em um parque novo ou ler algum livro. Mas lembre-se: para isso, você precisará de tempo! Um tempo de qualidade para seu autocuidado.
Nessa mesma linha de raciocínio, podemos tentar repensar sobre a marcação das nossas reuniões e atividades diárias – ou também aquelas de cunho mais eventual. Por que marcar um compromisso atrás do outro, quando até alguns programas de otimização da produtividade encorajam pequenos momentos de descanso?
O método Pomodoro, por exemplo, recomenda a divisão de atividades por blocos de 25 minutos – denominados pomodoros – com intervalos curtos de até cinco minutos entre um e outro período. A ideia é que nos concentremos na execução das atividades nesses 25 minutos, evitando ao máximo a ocorrência de distrações. Ao final de cada período, você pode se levantar, ir ao banheiro, pegar uma água ou café e voltar para os próximos 25 minutos de atividades. Você pode usar o alarme do seu celular para configurar esses pomodoros e os intervalos, seja para o trabalho ou para alguma atividade acadêmica.
Enfim, estamos tão acostumados com a correria cotidiana que clamar por momentos de descanso ou de intervalos maiores entre nossos compromissos pode ser visto como algo transgressor. É preciso considerar, entretanto, que essa exacerbação de atividades pode justamente afetar a nossa tão almejada alta produtividade. Por isso, fica aqui o convite para refletirmos sobre nossas rotinas, tão atravessadas por compromissos e deslocamentos infindáveis entre uma atividade e outra.
Sabemos que algumas tarefas são obrigatórias e não temos muita opção de deixar de fazer, mas, da próxima vez que tentarem marcar uma reunião no horário do almoço, que tal sugerir um outro horário que não interfira no seu momento de refeição? Talvez o que estamos precisando urgentemente sejam pequenas atitudes de protesto a favor do nosso bem-estar e autocuidado. [1], [2]
[1] Texto de Fabiana Tanabe
[2] Publicação original: https://www.ufrgs.br/jornal/por-que-estamos-sempre-correndo-atras-do-relogio/
Como citar esta notícia: UFRGS. Por que estamos sempre correndo atrás do relógio. Texto de Fabiana Tanabe. Saense. https://saense.com.br/2025/09/por-que-estamos-sempre-correndo-atras-do-relogio/. Publicado em 23 de setembro (2025).