Matheus Macedo-Lima
23/11/2016
Mães grávidas geralmente aguardam ansiosas o primeiro chute. Quando ele vem, é acompanhado de surpresa e alegria, mas os muitos chutes subsequentes talvez não sejam mais tão bem-vindos… Mas você já se perguntou o motivo pelo qual bebês chutam? Será que é porque querem sair? Bem, um novo estudo oferece uma explicação para isso [2].
Nesse estudo, os pesquisadores examinaram ratos com 5 a 10 dias de idade. Filhotes de ratos nascem num estágio considerado prematuro, cegos e sem pelo. Por meio de estudos comparando o desenvolvimento de diversos órgãos, estima-se que essa idade dos ratos seja similar à segunda metade da gestação em humanos [3]. Também nessa idade, os ratinhos têm espasmos e outros movimentos espontâneos, como chutes – porém já fora da barriga, para a sorte das mães ratas!
Medindo a atividade elétrica da medula espinhal enquanto observavam cuidadosamente os movimentos dos ratos, os cientistas identificaram que a atividade dos neurônios motores da medula (que realizam movimentos) acontecia antes dos movimentos, enquanto a atividade dos neurônios sensitivos acontecia depois dos movimentos. Essa ordem (neurônios motores → movimento → neurônios sensitivos) indica que o movimento nos fetos é diferente de reflexos – por exemplo, retirar a mão quando se toca em uma panela muito quente –, nos quais sensações físicas desencadeiam movimentos sem o envolvimento direto do cérebro (na ordem neurônios sensitivos → neurônios motores → movimento).
Na realidade, o estudo mostra que os movimentos espontâneos dos fetos são o que desencadeiam as sensações físicas. Por causa disso, os pesquisadores sugerem que os movimentos dos fetos são importantes para sincronizar a atividade motora com as sensações físicas.
Esse estudo sugere que aquele chute doloroso na costela pode ser benéfico para o desenvolvimento motor do bebê, pois contribui para a maturação da medula espinhal. Então, quando alguém falar aquela frase batida: “Vai ser jogador de futebol!”, você pode contribuir com a informação desse artigo e dizer que, realmente, de acordo com a ciência, dá para se sugerir que aqueles chutes contribuam para o futuro futebolístico do bebê!
[1] Crédito da imagem: Remon Rijper (Flickr) / Creative Commons (CC BY-NC-ND 2.0). URL: https://www.flickr.com/photos/remonrijper/7670912988/.
[2] AR Inácio et al. Sensory feedback synchronizes motor and sensory neuronal networks in the neonatal rat spinal cord. Nat Commun 7, 13060 (2016).
[3] B Clancy et al. Translating developmental time across mammalian species. Neuroscience 105, 7 (2001).
Como citar este artigo: Matheus Macedo-Lima. O bebê chutou! Mas por quê? Saense. URL: http://www.saense.com.br/2016/11/o-bebe-chutou-mas-por-que/. Publicado em 23 de novembro (2016).
Adoro as finalizações dos seus textos!!
Excelente!
Muito obrigada por compartilhar essas informações!!
Obrigado, Luana.
Seu comentário reforça meus motivos para continuar escrevendo! 🙂
Um abraço!