Ana Maia
20/02/2017
A técnica consiste em administrar, intravenosamente, nanopartículas que são compostas de um invólucro polimérico biodegradável e biocompatível, internamente preenchido por perfluorocarbono líquido e a droga desejada para entrega. Sob ação do ultrassom focalizado, o perfluorocarbono passa da fase líquida para a fase gasosa, se expandindo, rompendo o invólucro polimérico e liberando a droga localmente. A técnica é limitada localmente pelo ultrassom, que é aplicado de forma focada, e temporalmente pelo processo metabólico.
Já foram feitos testes bem-sucedidos em ratos. Pequenas quantidades de anestésico propofol foram liberadas localmente em modelos experimentais em crise aguda de epilepsia e as convulsões pararam assim que o ultrassom foi aplicado. Foi possível, portanto, “desligar” de forma segura apenas uma região do cérebro. Como a droga foi liberada apenas na região de interesse, foi necessária uma quantidade muito menor de propofol em comparação com uma administração sistémica, diminuindo os efeitos colaterais.
Uma limitação da técnica é que ela está restrita a agentes que conhecidamente podem atravessar a barreira hematoencefálica (blood-brain barrier). Já há, contudo, uma grande variedade de drogas de interesse psiquiátrico e neurológico que se enquadram neste grupo. E a grande vantagem nesta nova técnica é que estes agentes serão liberados apenas localmente, permitindo modulação da ação e diminuição significativa da quantidade de medicação. Outras técnicas de uso de ultrassom focalizado caminham na direção oposta, de permitir a ruptura temporária da barreira hematoencefálica, permitindo a ação de outros tipos de drogas [3]. No entanto, isto pode ser perigoso, uma vez que esta é uma barreira protetora, que resguarda o sistema nervoso central contra a ação de agentes potencialmente tóxicos presentes no sangue [4].
Embora as pesquisas ainda estejam na fase pré-clínica, os pesquisadores estão otimistas quanto ao início rápido dos testes clínicos e a viabilização final da técnica. Isto porque a técnica proposta faz uso de elementos já previamente aprovados em outras pesquisas: o uso de ultrassom focado em regiões milimétricas do cérebro já foi aprovado para outra técnica promissora, de ultrassom focado guiado por ressonância magnética (MRgFUS) [5], e todos os componentes das nanopartículas são autorizados para uso clínico.
[1] Crédito da imagem: Jean-Rémy Duboc (Flickr) / Creative Commons (CC BY 2.0). URL: https://www.flickr.com/photos/duboc/7896404652.
[2] RD Airan et al. Noninvasive Targeted Transcranial Neuromodulation via Focused Ultrasound Gated Drug Release from Nanoemulsions. Nano Lett 10.1021/acs.nanolett.6b03517 (2017).
[3] C Sierra et al. Lipid microbubbles as a vehicle for targeted drug delivery using focused ultrasound-induced blood-brain barrier opening. Journal of Cerebral Blood Flow & Metabolism 10.1177/0271678X16652630 (2016).
[4] A Maia. Freando a doença de Alzheimer com radioterapia. Saense. URL: http://www.saense.com.br/2016/02/freando-a-doenca-de-alzheimer-com-radioterapia/. Publicado em 15 de fevereiro (2016).
[5] FDA. FDA approves first MRI-guided focused ultrasound device to treat essential tremor. URL: https://www.fda.gov/NewsEvents/Newsroom/PressAnnouncements/ucm510595.htm. Publicado em 11 de julho (2016).
Como citar este artigo: Ana Maia. Técnica não invasiva com ultrassom promete entrega precisa de medicação no cérebro. Saense. URL: http://www.saense.com.br/2017/02/tecnica-nao-invasiva-com-ultrassom-promete-entrega-precisa-de-medicacao-no-cerebro/. Publicado em 20 de fevereiro (2017).