Luana Mendonça
16/01/2018

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Invasão biológica ou bioinvasão constitui “o ato ou efeito de um ou mais organismos invadirem e se estabelecerem onde não havia registros anteriores para a espécie” [2]. Essa invasão pode ocorrer de duas formas, a expansão, na qual organismos se dispersam por mecanismos naturais (correntes marinhas, eventos extremos e outros) e a introdução, que ocorre quando espécies são transportadas por atividades humanas, intencionais ou não, dos seus locais de origem ou áreas de distribuição histórica.

Alguns mecanismos como transporte legal/ilegal de plantas, introdução de espécies para controle biológico (plantas, insetos), cultivo de espécies exóticas (peixes, crustáceos, moluscos), água de lastro (a água do mar captada no local de saída pelo navio para garantir sua estabilidade que é despeja no local de chegada) e até a comercialização de animais exóticos considerados ‘bonitos e fofos’ para criação doméstica são alguns exemplos das formas em que as espécies estão sendo levadas dos seus locais de origem para locais onde provavelmente nunca ocorreriam.

E qual o problema de termos espécies não nativas em locais onde primariamente elas não ocorreriam? O problema reside no fato de, essas novas espécies, estarem sendo inseridas em um sistema onde já existem outras, as nativas, com as quais vão competir. Essa competição pode causar problemas para as espécies nativas… pensem comigo, você está em sua casa, onde você reside há 10 anos e, obviamente, você está acostumado com o ambiente, sabe onde ficam suas coisas, sabe onde está sua comida e o quanto você precisa comer, enfim, você tem tudo o que precisa e está em equilíbrio com o seu lar… aí você descobre que tem um primo, que você nunca soube nem viu na vida e ele vai ter que morar com você… seu primo entra na sua casa, desarruma tudo, come sua comida, não contribui com nada e está decidido a morar com você para sempre… imagina o desastre que isso causaria em sua vida. Essa é basicamente a mesma coisa que acontece quando uma espécie exótica entra em um ambiente em que existem espécies similares.

Não apenas um problema ambiental, as espécies exóticas também são um problema social, de saúde e econômico, como, por exemplo, o lírio-do-brejo (Hedychium coronarium) originário da Ásia, que foi introduzido como uma planta ornamental e se difundiu no país inteiro. A planta expulsa as nativas nos locais em que habita e cresce tanto que chega a entupir tubulações de hidrelétricas. Outro conhecido exótico é o mosquito da dengue (Aedes aegypti), originário da Etiópia e Egito, que vem causando sérios problemas, bem conhecidos, de saúde pública. Outro exemplo conhecido é o coral-sol (Tubastraea coccínea), originário do Pacífico Ocidental, que além de se reproduzir absurdamente rápido, também produz toxinas que suprimem não apenas o desenvolvimento dos corais nativos, mas também de qualquer outra espécie nos locais em que estão.

Os exemplos acima são ínfimos em relação ao número de espécies que já se sabe que foram introduzidas no Brasil (imagine as que não temos conhecimento ainda!) e ao número de espécies que foram introduzidas em outras regiões do mundo. Todo esse fluxo de espécies exóticas vem causando sérios problemas ambientais, inclusive um acréscimo nas taxas de extinção.

Obviamente, o processo de extinção é complexo e se dá por inúmeras causas naturais, inclusive a expansão natural de uma espécie exótica pode levar a extinção do seu concorrente nas novas áreas em que ela chegar. O que vamos falar a respeito é das espécies que foram introduzidas pelo homem e o seu efeito no número de espécies extintas.

O levantamento desse efeito foi realizado por Bellard e colaboradores [3] que acessaram a lista das espécies extintas e extintas na natureza (com exemplares apenas em cativeiro) da IUCN (International Union for Conservation of Nature), verificando o possível responsável pelo processo de extinção que está disponibilizado nas informações da lista e anotando todas as espécies cujo responsável era uma ou mais espécies exóticas.

Os resultados do levantamento mostraram que 58% das espécies extintas e 31% das extintas na natureza têm espécies exóticas listadas como motivo para sua extinção. Dentre as espécies estão representantes de plantas, anfíbios, répteis, pássaros e mamíferos e, os mamíferos parecem ser mais susceptíveis ao processo extinção por introdução de espécies exóticas.

Esses resultados também mostram, segundo os autores, que espécies exóticas são a segunda maior ameaça associada às espécies que foram completamente extintas. Isso mostra o quanto invasões biológicas promovidas pelo homem afetam e continuarão afetando o ambiente e as comunidades e, obviamente, a nossa própria espécie.

[1] Crédito da imagem: Runner1928 (Wikimedia Commons) / Creative Commons (CC-BY-SA-3.0). https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Exotic_Species_Alert_for_Mississippi_River_from_Minnesota_Department_of_Natural_Resources.JPG.

[2] RCCL Souza et al. Bioinvasão Marinha. In: RC Pereira, A Soares-Gomes. Biologia Marinha. 2a ed. Interciência (2009).

[3] C Bellard et al. Alien species as a driver of recent extinctions. Biology Letters 10.1098/rsbl.2015.0623 (2016).

Como citar este artigo: Luana Mendonça. Invasões biológicas: espécies exóticas promovem a extinção. Saense. http://www.saense.com.br/2018/01/invasoes-biologicas-especies-exoticas-promovem-a-extincao/. Publicado em 16 de janeiro (2018).

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