Carlos Anselmo Lima
14/08/2018
O carcinoma de pele é o tipo de câncer mais frequente em homens e mulheres. Sua incidência aumenta com a idade e devido a exposição solar, principalmente pelos raios ultravioleta, em pessoas susceptíveis, aquelas de cor de pele clara.
Existem dois tipos principais: os não-melanomas ou queratinocíticos e os melanomas. Os primeiros são bem mais comuns e bem mais facilmente curáveis com simples excisão, se realizada mais precocemente. Os melanomas, embora raros, podem apresentar agressividade e causam impacto de mortalidade entre os portadores.
Os dados sobre a real incidência dos tumores não-melanoma são frequentemente subnotificados ou não computados no mundo inteiro, frequentemente porque essas lesões são, às vezes, retiradas e não enviadas para os laboratórios de patologia, ou porque os indivíduos não procuram atenção médica, ou mesmo pela falha de identificação de múltiplos tumores no mesmo indivíduo.
A forma de estabelecer os dados estatísticos sobre a ocorrência do câncer é através dos Registro de Câncer de Base Hospitalar e Populacional. Os de Base Populacional são aqueles que fornecem estatísticas sobre a incidência de câncer; isto é, a computação de casos novos por ano numa população definida.
A maioria dos Registros de Câncer do mundo não computam os casos de câncer de pele não-melanoma. Os Registros do Brasil processam essas informações, mas com completude e qualidade variável. O Registro de Câncer de Aracaju inclui esse tipo de câncer no seu banco de dados e tem qualidade superior atestada nacional e internacionalmente.
Lima e colaboradores [2] decidiram realizar um estudo para descrever os padrões de ocorrência do câncer de pele não-melanoma em Aracaju e assim contribuir com a literatura mundial, carente de publicações sobre a incidência desse tipo de câncer. Como desfecho local, os dados podem servir de base para o planejamento de estratégias de prevenção, tratamento e controle dessa neoplasia, que embora não esteja presente nas estatísticas de óbito, causa impacto nos serviços de saúde.
Os autores identificaram 5.695 casos do câncer de pele em homens e 5.781 em mulheres, a partir da série temporal de 1996 a 2012, estabelecendo taxas médias de incidência padronizada por idade de 220,6/100.000 homens e 145,4/100.000 mulheres. A diferença entre as taxas, a maior no gênero masculino, expressa uma maior exposição acumulativa ao sol por parte deles. O tipo mais comum foi o carcinoma basocelular, principalmente localizado na face e no pescoço, regiões de maior exposição solar.
No período analisado, percebeu-se uma tendência de crescimento da incidência, bem maior a partir dos 45 anos, estabilizando-se ao longo dos anos mais recentes. As taxas mencionadas acima foram calculadas pela média dos anos recentes, refletindo, pois, as taxas mais atuais. As altas taxas registradas na nossa população são semelhantes às registradas em Israel [3], localizado em latitude semelhante, mas inferiores àquelas estabelecidas na Austrália [4], país-continente tropical, mas de população de descendência europeia e, portanto, de maior susceptibilidade para o câncer de pele.
O estudo sinaliza que os Registros de Câncer podem ter boa qualidade na coleta dos dados, incluir o câncer de pele não-melanoma e assim ajudar a definir melhores estratégias para o combate desses tumores.
[1] Crédito da imagem: Hayfaa A.Alshammary, CC BY 4.0, via Wikimedia Commons. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Skin_cancer.jpg.
[2] CA Lima et al. Do cancer registries play a role in determining the incidence of non-melanoma skin cancers? Eur J Dermatology 10.1684/EJD.2018.3248 (2018).
[3] T Sella et al. Incidence trends of keratinocytic skin cancers and melanoma in Israel 2006-11. Br J Dermatol 10.1111/bjd.13213 (2015).
[4] E Perera et al. Incidence and prevalence of non-melanoma skin cancer in Australia: A systematic review. Australas J Dermatol 10.1111/ajd.12282 (2015).
Como citar este artigo: Carlos Anselmo Lima. As estatísticas do câncer de pele não-melanoma. Saense. http://saense.com.br/2018/08/as-estatisticas-do-cancer-de-pele-nao-melanoma/. Publicado em 14 de agosto (2018).