UnB
04/03/2020

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Carla Cavalcante Koike, Aletéia Araújo e Maristela Holanda

Grande parte das profissões que devem existir em 2030 ainda não foram criadas nem pensadas, mas terão, com certeza, alguma relação com tecnologia. Ciência, tecnologia e engenharia são essenciais no enfrentamento dos desafios da atualidade, porém o mercado sofre uma séria deficiência em profissionais nessas áreas, agravada pelas desigualdades em oportunidades e salários entre homens e mulheres.

Estudos econômicos estimam que a redução da desigualdade de gênero pode incrementar o produto interno bruto mundial, assim como aumentar os índices de emprego e promover o crescimento sustentável. Isso sem falar nas inúmeras melhorias que a justiça social decorrente do aumento da participação feminina na economia pode promover, como a redução da violência, das desigualdades sociais e da pobreza. De maneira geral, considera-se que a igualdade de gênero beneficia toda a sociedade e, por essa razão, um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU visa alcançar a equidade de gênero.

Mas quais contribuições efetivas uma maior participação feminina pode fornecer no ambiente de trabalho, e na produção da área de Tecnologia da Informação?

Estudos realizados em 31 países associados à OCDE analisaram as habilidades valorizadas pelo mercado de Tecnologia da Informação e concluíram que homens e mulheres possuem talentos diferenciados e complementares: as mulheres tendem a superar os homens na solução de problemas de forma colaborativa e nas habilidades interpessoais, habilidades do século XXI que o mercado de trabalho considera essenciais. O ambiente de trabalho diverso também estimula a criatividade, a inovação e aprimora a qualidade dos produtos finais. Além disso, é importante citar o público feminino que consome produtos e serviços de TI e necessita de produtos pensados e feitos especialmente para elas. Nada melhor do as próprias mulheres produzirem tecnologia voltada ao público feminino!

Perceber que o mercado de trabalho em tecnologia é marcado pelo desequilíbrio de gênero, nos faz refletir sobre a importância de criar oportunidades para que as mulheres também façam parte desta cena. Em um mundo cada vez mais digital, ser capaz de manipular ou criar meios para tecnologia e inovação é dominar a linguagem de comunicação do futuro, fazer parte efetiva da construção de produtos e, mais especificamente, da solução de problemas de toda a sociedade.

O caminho na direção da equidade de gênero ainda é longo, e depende de ações individuais, corporativas e políticas de governo, e vão desde assegurar que o cuidado com os filhos seja igualmente dividido entre mães e pais, quanto evitar comportamentos e falas misóginos no ambiente de trabalho e no dia a dia. Isso demanda uma mudança cultural em toda a sociedade!

O projeto Meninas.comp, do Departamento de Ciência da Computação da Universidade de Brasília, utiliza a divulgação da área entre meninas e jovens como forma de romper preconceitos, incentivar a reflexão sobre a equidade de gênero e estimular talentos nas áreas de computação e engenharia. A medida que as políticas de incentivo à equidade de gênero conseguem aumentar a diversidade nos ambientes de trabalho, estes se tornam mais acolhedores, e as pessoas, independente do gênero, estarão mais dispostas a escolherem suas áreas de atuação por critérios mais eficientes (como talento ou predisposição natural) e não por imposição da sociedade ou por estereótipos. [2], [3], [4]

[1] Imagem de Brenda Geisse por Pixabay.

[2] Carla Cavalcante Koike é professora do Departamento de Ciência da Computação da Universidade de Brasília desde 2006. Atua nas áreas de Robótica móvel, robótica educacional e Aprendizagem Ativa. Participa dos projetos Meninas.comp e Meninas Velozes, sobre empoderamento feminino em exatas e tecnologia.

[3] Maristela Holanda é professora do Departamento de Ciência da Computação da Universidade de Brasília desde 2009. Pesquisadora da área de banco de dados com ênfase em controle de concorrência, sistemas distribuídos e móveis, banco de dados geográficos, bioinformática, big data, análise de dados educacionais e mulheres na computação. Uma das fundadoras e coordenadora do Projeto Meninas.comp: Computação Também é coisa de Menina.

[4] Aletéia P. F. Araújo é professora do Departamento de Ciência da Computação da Universidade de Brasília desde 2009. Pesquisadora da área de sistemas distribuídos, computação de alto desempenho, nuvem computacional, e mulheres na computação. É uma das fundadoras e coordenadora do Projeto Meninas.comp: Computação Também é coisa de Menina, pois acredita que computação é para tod@s!

Como citar este artigo: UnB. Ciência e tecnologia também é coisa de mulher! Texto de Carla Cavalcante Koike, Aletéia Araújo e Maristela Holanda. Saense. https://saense.com.br/2020/03/ciencia-e-tecnologia-tambem-e-coisa-de-mulher/. Publicado em 04 de março (2020).

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