Agência FAPESP
18/02/2019
Quando ocorre uma enchente – algo tão comum no cotidiano das cidades brasileiras – os alertas gerados pelos centros de monitoramento são fundamentais para preparar a população e evitar a perda de vidas.
Esses centros trabalham com dados obtidos por instrumentos científicos que auxiliam na previsão, mas há outros tipos de informação também importantes, que podem contribuir para diminuir o impacto de desastres. São as notificações enviadas pelos próprios moradores dos locais afetados, que conhecem melhor do que qualquer um a dimensão do problema.
O transtorno causado pelas enchentes tende a aumentar em decorrência das mudanças climáticas globais. Por conta disso, um novo projeto de pesquisa pretende investigar como melhorar o fluxo de informações entre as partes envolvidas em eventos como inundações. Trata-se de uma iniciativa internacional que está sendo desenvolvida por cientistas de vários locais.
Intitulado “Dados à prova d’água: engajando na governança sustentável dos riscos de inundações para resiliência urbana”, o trabalho é coordenado por Maria Alexandra da Cunha, professora na Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
O projeto foi um dos quatro selecionados em janeiro em uma chamada de propostas lançada pela FAPESP em conjunto com o Belmont Forum, grupo de instituições de fomento à pesquisa sobre mudanças globais.
“‘Dados à prova d’água’ trata do fluxo de dados, especialmente do fluxo de dados quando acontecem eventos de enchentes”, disse Cunha em Londres, onde foi uma das palestrantes na FAPESP Week London, simpósio realizado nos dias 11 e 12 de fevereiro de 2019 na Royal Society, no centro da capital londrina.
“Vamos desenvolver três métodos. Um para melhorar e dar visibilidade ao fluxo de dados relacionados a inundações entre os centros de especialistas. Um segundo método para incrementar a maneira como a população se engaja com a produção e a circulação de dados sobre enchentes. E um terceiro que pretende, a partir de plataformas de mapeamento colaborativo, fazer com que os dados produzidos localmente possam ser usados pelos centros de especialistas e vice-versa”, disse à Agência FAPESP.
Cunha conta que o projeto pretende envolver os cidadãos para “produzir, circular e utilizar dados que incorporem memórias de inundações e o conhecimento local do risco de inundação, de modo a aumentar a resiliência da comunidade”.
“Queremos integrar dados gerados por cidadãos com outros tipos, sociodemográficos ou gerados por sensores ambientais e pelo mapeamento de riscos, de forma a apoiar a tomada de decisões e a formação de políticas públicas sobre inundações”, disse.
“Fundamentalmente, o que pretendemos é transformar as práticas ao redor da gestão de dados de enchentes e, eventualmente, traduzir esses dados para outras localidades. Isso será feito com um estreito diálogo entre o nosso projeto e governos locais no Brasil, na Alemanha e no Reino Unido”, disse a pesquisadora.
Parceria internacional
Cunha explica que a equipe envolve pesquisadores de três instituições acadêmicas, a Fundação Getúlio Vargas (no Centro de Estudos em Administração Pública e Governo), a Universidade de Warwick, com João Porto de Albuquerque como principal investigador, e a Universidade de Heidelberg, com o grupo de Alexander Zipf.
“Contamos também com um grande número de parceiros, como o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), a Prefeitura de São Paulo e o Governo do Estado do Acre, por meio da Secretaria do Meio Ambiente. Há ainda colaboradores que fazem parte do comitê consultivo, que farão parte de nossas discussões mais amplas”, disse Cunha.
A pesquisadora ressaltou que a cooperação internacional é financiada pelo Belmont Forum, pelo Economic and Social Research Council no Reino Unido, a FAPESP no Brasil e o BMBF (Ministério de Educação e Pesquisa) na Alemanha.
“Esse financiamento é muito importante, pois em várias localidades do mundo estamos experimentando eventos extremos, como enchentes, e o projeto permite que pesquisadores do Reino Unido, da Alemanha e do Brasil estejam juntos e aprendendo uns com os outros. Especialmente para nós é importante por tratar de conhecimento produzido no Brasil e que poderá informar o hemisfério Norte”, disse.
Segundo Cunha, repensar como os dados relacionados a inundações são produzidos e como se disseminam pode auxiliar na construção de comunidades sustentáveis e resilientes a inundações.
“A proposta final é mudar a forma como os dados de inundações são produzidos e fluem, criando novos arranjos de governança entre cidadãos, estado e especialistas em inundações e, com isso, melhorar a resiliência das comunidades em relação a inundações”, disse.
Cunha também coordena o Projeto Temático FAPESP “Governança inteligente em cidades sustentáveis (Smartgov)”, em colaboração com pesquisadores da University of Stirling (Escócia) e a da Universidade de Utrecht (Holanda). [2]
[1] Crédito da imagem: Antônio Cruz/ABr, CC BY 3.0 br,
https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=6820899.
[2] Esta notícia científica foi escrita por Heitor Shimizu.
Como citar esta notícia científica: Agência FAPESP. Melhora no fluxo de informações pode diminuir impacto de enchentes. Texto de Heitor Shimizu. Saense. http://www.saense.com.br/2019/02/melhora-no-fluxo-de-informacoes-pode-diminuir-impacto-de-enchentes/. Publicado em 18 de fevereiro (2019).