IPT
11/07/2019

O uso off-label de seringas
para injeções intravítreas (ou intraoculares) em oftalmologia é cada vez maior
por conta de sua eficiência reconhecida no tratamento da degeneração macular
relacionada à idade, doença que ocorre em uma parte da retina chamada mácula e
que leva à perda progressiva da visão central. O processo de fabricação da
maior parte das seringas comercialmente disponíveis no Brasil envolve a
siliconização da superfície interna do corpo da seringa, o que auxilia a
reduzir a força para iniciar o movimento do êmbolo e seu deslizamento – este
atrito, no entanto, pode trazer como consequência a introdução de gotículas de
óleo de silicone nos olhos dos pacientes durante a aplicação.
Um estudo sobre o tema coordenado pelo médico Gustavo Barreto
Melo, do Hospital de Olhos de
Sergipe, acaba de ser reconhecido com o Prêmio Presidente da
Academia Nacional de Medicina na Secção Medicina. O projeto foi feito em
parceria com profissionais do Departamento
de Oftalmologia e Ciências Visuais da Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp), do Retina Center of
Minnesota (EUA), do Instituto
Paulista de Estudos e Pesquisas em Oftalmologia (Ipepo) e do Laboratório de
Análises Químicas do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). O termo off label é usado para
se referir a um uso diferente do aprovado em bula, ou ao uso de um produto não
registrado no órgão regulatório de vigilância sanitária no País.
Para este procedimento, a aplicação da injeção é feita
diretamente no olho, liberando os medicamentos em um local denominado vítreo
(ou humor vítreo). Gotículas de óleo de silicone na região já haviam sido
identificadas em estudos clínicos realizados em outros países – considerando
que as seringas seriam as mais prováveis fontes da presença de gotas de óleo
nos olhos dos sujeitos que foram submetidas a injeções intravítreas, a
finalidade do estudo foi avaliar o desempenho de oito marcas de seringas,
usadas sob as mais diversas condições.
O grupo de trabalho brasileiro identificou, em seu
levantamento, gotículas no vítreo de 68% e 75% de 37 olhos de pacientes
consecutivos tratados com injeções intravítreas em avaliações com lâmpada de
fenda e ultrassonografia, respectivamente. A análise do material extraído da ponta interna
do êmbolo, feita por espectroscopia de infravermelho com
transformada de Fourier (FTIR), foi realizada no laboratório do IPT pela
pesquisadora Shoko Ota para identificar o composto em cada seringa e foi
indicada a presença do composto posiloxano – o óleo de silicone – em todas
as seringas, exceto em um dos modelos.
Os Prêmios da Academia Nacional de Medicina, fundada sob o
reinado do imperador D. Pedro I em 30 de junho de 1829, têm o objetivo de
homenagear trabalhos inéditos que contribuam substantivamente para o
conhecimento em alguma área da Medicina, podendo ser concorrentes médicos do
Brasil, individual ou coletivamente, nas categorias Prêmio Academia Nacional de
Medicina: Área de Cirurgia e Prêmio Presidente da Academia Nacional de
Medicina, com três prêmios nas secções Medicina, Cirurgia e Ciências Aplicadas
à Medicina.
Como citar esta notícia de inovação: IPT. Estudo sobre uso de seringas em oftalmologia coordenado pelo médico Gustavo Barreto Melo, do Hospital de Olhos de Sergipe, é premiado na Academia Nacional de Medicina. Saense. https://saense.com.br/2019/07/estudo-sobre-uso-de-seringas-em-oftalmologia-coordenado-pelo-medico-gustavo-barreto-melo-do-hospital-de-olhos-de-sergipe-e-premiado-na-academia-nacional-de-medicina/. Publicado em 11 de julho (2019).