CCS/CAPES
14/10/2019

Ilustração do mamífero que viveu no período geológico conhecido como Cretáceo, que durou 145 e 66 milhões de anos atrás (Foto arquivo pessoal)

Biólogo, doutorando e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), Pedro Victor Buck, fez uma importante descoberta científica: pegadas fósseis de um mamífero que viveu no período geológico conhecido como Cretáceo, que durou entre 145 e 66 milhões de anos atrás.

De onde surgiu seu interesse pelo assunto?
Desde criança eu sempre tive interesse em biologia, em especial nos organismos do passado, como os dinossauros. Minha mãe e meu pai me incentivaram, ao longo do meu desenvolvimento, com revistas, filmes e outros materiais sobre o tema. Quando terminei o ensino médio, decidi estudar Ciências Biológicas com o objetivo de me tornar paleontólogo. Então, eu conheci a Paleoicnologia, minha principal área de atuação dentro da Paleontologia, por meio do meu orientador, o Prof. Dr. Marcelo Adorna Fernandes, com quem, então, fui fazer o mestrado e atualmente faço o doutorado.

Fale um pouco sobre o seu trabalho de pesquisa
De maneira geral, eu trabalho com Paleontologia, que é o estudo dos organismos antigos e que já foram extintos. Meu trabalho está inserido dentro da Paleoicnologia, que é o estudo dos vestígios fósseis. Os fósseis podem ser subdivididos em dois principais tipos, os fósseis corporais (todo ou parte do corpo dos organismos) e os icnofósseis (vestígios produzidos pela atividade e comportamento dos organismos). Meu foco são as pegadas fósseis de, aproximadamente, 130 milhões de anos que são encontradas nos arenitos da Formação Botucatu, na região do município de Araraquara (Estado de São Paulo). Estes arenitos representam um antigo deserto de dunas que cobriu grande parte do território brasileiro durante a era dos dinossauros (Mesozoico). Diversos animais que viveram ali, dentre eles dinossauros carnívoros e herbívoros, mamíferos primitivos, escorpiões e insetos, deixaram seus registros fósseis sob a forma de pegadas.

Fale um pouco sobre sua descoberta
O fóssil em questão, se trata de pegadas. Nós atribuímos essas pegadas a um mamífero, de acordo com o formato das pegadas e dos dedos que ficaram preservados. As rochas contando as pegadas foram coletadas pelo meu orientador ao longo de vários anos.

Qual o objetivo da pesquisa?
O principal objetivo da minha pesquisa é a análise da diversidade de pegadas fósseis atribuídas a mamíferos primitivos do período Cretáceo que são encontradas em rochas da Formação Botucatu.

Como são feitas as análises?
O estudo se inicia com a coleta de material em campo, para posterior análise em laboratório. As pegadas são mensuradas e os dados coletados são interpretados e comparados com outras ocorrências fósseis ao redor do mundo e também com pegadas e animais atuais. Dessa forma, pode-se determinar o grupo biológico da espécie responsável pela produção das pegadas para, então, partir para objetivos mais específicos.

Qual a importância do trabalho para a realidade brasileira?
O atual trabalho tem grande importância, uma vez que o registro de mamíferos primitivos brasileiros durante a era dos dinossauros ainda é muito escasso, sendo estas pegadas uma das poucas possibilidades de se conhecer aspectos sobre a evolução e diversidade destes animais para este intervalo de tempo. Além disso, o estudo dos fósseis é a única maneira de se conhecer sobre a história biológica da Terra ao longo do tempo. Outra grande relevância é a possibilidade de se realizar divulgação científica e trabalhos de extensão com base nos dados gerados pela pesquisa, criando, assim, potencial para que as pessoas se interessem pela ciência e busquem carreiras científicas, ou mesmo valorizem o que é produzido no Brasil.

Qual o impacto no âmbito internacional?
Os resultados produzidos pela pesquisa até o momento já foram citados por outros trabalhos publicados em revistas científicas internacionais e também em veículos de mídia estrangeiros, como o jornal The Guardian.

O que ela traz de novo?
Cada pesquisa traz a sua interpretação, sempre fundamentada e discutida, sobre determinado aspecto da natureza. Até o momento, nós agregamos conhecimento sobre os animais que viviam na região de Araraquara há 130 milhões de anos, fornecendo nossas interpretações, por meio das pegadas analisadas, sobre os comportamentos, a diversidade biológica e também sobre o ecossistema desértico em que eles viviam. Foi possível identificar duas espécies diferentes de mamíferos primitivos que produziram as pegadas, sendo uma de pequeno porte e a outra um pouco maior. Com base no funcionamento ecológico de desertos de areia atuais, é possível inferir que os produtores das pegadas fósseis provavelmente se alimentavam de insetos e aracnídeos que também viviam na mesma região. Estes mamíferos, por sua vez, eram presas para os dinossauros carnívoros.

Qual a importância do apoio da CAPES?
O auxílio financeiro da CAPES é de vital importância para minha permanência na universidade e o desenvolvimento da pesquisa.

Como citar esta notícia: CCS/CAPES. Bolsista da CAPES descobre fóssil de mamífero. Saense. https://saense.com.br/2019/10/bolsista-da-capes-descobre-fossil-de-mamifero/. Publicado em 14 de outubro (2019).

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