UFMG
26/11/2019

Casa de cultura do povo Xacriabá. Foto: Edgar Kanaykõ Xakriabá

A palavra cantada encontra os ouvidos do visitante que adentra o segundo andar do Espaço do Conhecimento UFMG. Os sons se revezam, partindo de lados diferentes do salão. São as vozes de alguns povos indígenas do Brasil que, no museu, revelam suas formas de estar em seus mundos. O cantar é um aspecto que conecta comunidades diferentes e ricas em suas particularidades.

Esse cenário poderá ser apreciado, a partir de 3 de dezembro, pelos visitantes da exposição Mundos indígenas. Nela, esses cantos se associarão a artefatos, gravuras, vídeos e imagens em um passeio interativo pelos saberes dos povos Maxakali, Pataxoop, Yanomami, Ye’kwana e Xakriabá. Sem trajeto predefinido e repleta de estímulos sensoriais, a visita é um convite ao entendimento e ao respeito às populações que selecionaram conceitos para mostrarem seus mundos. Trata-se de uma experiência inédita no museu: a curadoria indígena.

A exposição, que ficará em cartaz até julho de 2020, foi concebida e produzida de forma colaborativa com base em proposta conceitual elaborada pela professora Deborah Lima, do Departamento de Antropologia e Arqueologia da Fafich. Segundo ela, a mostra pretende promover o entendimento de outras formas de realidade e de se viver no mundo. “Esperamos que haja uma maior aproximação, encantamento e – por que não? – amor aos povos indígenas. Esse modo de entender o mundo indígena, direto, sem mediação, sem tradução, sem teoria, tenderá a promover um favorecimento da convivência entre indígenas e não indígenas”, explica.

A forma diferenciada de pensar a mostra é apresentada pelo projeto Antropologia na Escola, da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, e pelo Grupo de Pesquisa e Extensão em Educação Indígena, da Faculdade de Educação. Seus integrantes trabalharam junto com a equipe multidisciplinar do Núcleo de Expografia do Espaço do Conhecimento UFMG para dar forma a essas reflexões. Em conjunto com os curadores indígenas e seus assistentes, as discussões e os vários encaminhamentos, concretizados em articulações singulares, possibilitaram a montagem colaborativa.

Deborah Lima ressalta que a experiência de viver o mundo indígena depende muito de abertura e de disposição para aceitar essa diferença, o que foi abarcado pelo museu. Afinal, os protagonistas da mostra são os curadores, responsáveis por determinar os conceitos que guiam Mundos indígenas. De Roraima, Júlio Magalhães e Viviane Rocha apresentam o mundo dos Ye’kwana. Recém-premiado com um Nobel alternativo pela proteção do seu povo e da Amazônia, Davi Kopenawa se junta a Joseca na curadoria Yanomami. De Minas Gerais, Vicente, Edvaldo e Célia estão à frente dos Xakriabá, e Sueli e Isael, dos Maxakali. Dona Liça e Kanatyo são os curadores Pataxoop.

Para a coordenadora expográfica do museu e professora da Escola de Arquitetura e Design da UFMG, Renata Marquez, além do ineditismo da curadoria indígena, o caráter coletivo da exposição é o que torna o processo tão interessante. “Os conceitos dos curadores foram definidores, mas a escolha dos objetos, dos elementos, dos filmes, das fotografias e de tudo que vai compor o espaço dos cinco povos é coletiva, sobretudo com a participação dos curadores, de outros indígenas, dos assistentes de curadoria, das antropólogas, da equipe da expografia”, explica.

Experiência de proximidade

A mostra trata de modos de viver, de saber e de cuidar dos povos indígenas de uma forma acessível a todas as idades, especialmente aos jovens e às crianças. Com Mundos indígenas, o Espaço do Conhecimento UFMG passa a oferecer uma nova experiência aos pequenos e às suas famílias. De acordo com Renata Marquez, a mostra apresenta um olhar para a infância, o que a torna ainda mais encantadora. “As crianças são mais abertas do que os adultos para outros modos de vida”, argumenta.

A visita também promete ser divertida. Professora da Faculdade de Educação da UFMG, Ana Gomes trabalhou com os curadores na concepção da mostra e garante que a experimentação sensorial será peça-chave da experiência. “Não é uma exposição do tipo ‘proibido tocar’, pois as crianças vão poder mexer, interagir e se movimentar”, garante.

Para além da Universidade

O vínculo da UFMG com os povos indígenas remonta a pelo menos 25 anos atrás, e Mundos indígenas é mais um capítulo desse relacionamento. Os curadores convidados são de cinco povos com os quais a UFMG tem trabalho consolidado há mais tempo. “O convite decorreu da presença deles, das relações que eles já construíram, do interesse em cultivar e fazer avançar e ampliá-las para um público externo à própria Universidade”, explica Ana Gomes. O objetivo, agora, é outro: encorajar o entendimento das formas de viver dos povos indígenas pelo público da cidade e pela sociedade em geral.

O Espaço do Conhecimento UFMG, localizado na Praça da Liberdade, funciona de terça-feira a domingo, das 10h às 17h, e aos sábados, das 10h às 21h. 

(Alice Sá e Juliana Ferreira / Jornalistas do Espaço do Conhecimento UFMG)

Como citar esta notícia científica: UFMG. Universo sem mediação. Texto de Alice Sá e Juliana Ferreira. Saense. https://saense.com.br/2019/11/universo-sem-mediacao/. Publicado em 26 de novembro (2019).

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