UnB
27/12/2019
Dioclécio Campos Júnior
A era da ciência tem produzido sólidos
conhecimentos em todos os campos de pesquisa. São recursos que, se fossem bem
utilizados, poderiam, de fato, ter contribuído para o verdadeiro progresso da
humanidade, avanço que não ocorreu na devida proporção. As evidências
científicas, disponibilizadas ao longo do tempo, não têm merecido a devida valorização
como fonte de energia construtiva de uma sociedade saudável da espécie humana.
De fato, o desenvolvimento socioeconômico que tomou conta do planeta baseia-se
unicamente na lógica do lucro que abastece os interesses dominantes. Tudo o
mais é menosprezado.
Grande parte das pesquisas científicas envolve os componentes físicos,
químicos, biológicos e sociais do universo ecológico. Todavia, a relevância do
meio ambiente para a qualidade de vida das pessoas é desprezada. Exemplo
demonstrativo desse argumento é a crescente poluição dos espaços urbanos em que
vive a maioria da população do mundo. No passado, não havia a comprovação dos
efeitos prejudiciais da fumaça, bebida alcoólica, cigarro e barulho sobre a
saúde das pessoas. Com o progresso da ciência, já não restam dúvidas sobre os
males que provocam. Porém, a necessária prevenção de tais agravos não é
promovida pelos governantes. Por isso, os agentes poluidores deterioram cada
vez mais o meio ambiente das cidades.
Os dados da Organização Mundial da Saúde revelam que a maior taxa de
mortalidade no planeta já não é mais a das doenças transmissíveis. Prevalecem,
no novo século, os efeitos letais das enfermidades causadas pelos referidos
agravos ambientais. O estresse é outro distúrbio que tomou conta do perfil
comportamental das pessoas, criado pelo modelo consumista e poluidor imposto às
novas gerações.
A poluição atmosférica deteriora a saúde das populações urbanas. O tráfego de
veículos automotores é progressivamente maior nas cidades. A fumaça por eles
emitida expõe a maioria dos habitantes ao risco de diversas morbidades
potencialmente letais. São doenças cardíacas, acidente vascular cerebral,
câncer do pulmão e a doença pulmonar obstrutiva crônica cuja sigla é Dpoc. Sem
falar dos acidentes de trânsito, cujas vítimas morrem ou sobrevivem com
sequelas irreparáveis.
Outra situação que atinge os moradores das cidades é a poluição sonora. Resulta
dos ruidosos automóveis, ônibus, caminhões e motocicletas; do impacto das
buzinas e alarmes; e de megaeventos em locais estratégicos, que lesam parcelas
significativas da população. Esse agente poluidor é um dos mais agressivos à
saúde humana. Cresce sem limites.
Pesquisas científicas comprovam o que diz a sabedoria popular: “O barulho
é ensurdecedor!” De fato, está provado que a exposição ao ruído diminui a
capacidade de audição. Por seu lado, gera distúrbios do sono com sérias
consequências; afeta a capacidade de concentração mental, indispensável ao
equilíbrio das atividades cotidianas; e acentua os índices de estresse,
tornando-se fator predisponente da hipertensão arterial.
As crianças são as maiores vítimas desse cenário tão agressivo. Muitas delas
sofrem os maléficos efeitos do cigarro, desde a vida intrauterina. O impacto é
a redução do crescimento fetal, que gera o recém-nascido de baixo peso, com o
risco de repercussões na vida futura. Além disso, a ansiedade da gestante
repercute fortemente nessa fase de vida em que é formado o organismo da nova
criatura. O consumo de bebida alcoólica na gravidez é outro agravante para o
feto, causando-lhe a síndrome alcoólica fetal, com prejuízos consideráveis para
o novo ser humano.
A exposição da criança à poluição sonora repercute desfavoravelmente no
potencial cognitivo que é próprio da infância. Estudos feitos em diversos
países demonstram que um grande percentual das unidades escolares está
localizado em pontos urbanos com elevada agressão sonora do tráfego. Constatam
também que os altos índices de déficit de atenção e aprendizagem são mais
frequentes na população infantil exposta a esse agente poluidor. Com efeito, o
desempenho escolar é prejudicado quando a fala do professor é ininteligível em
virtude da poluição sonora na sala de aula.
Em síntese, não faltam provas de que saúde é requisito prioritário para a boa
educação sem a qual não haverá saúde. São os dois pilares indissociáveis de uma
sociedade saudável que requer a despoluição ambiental para garantir o bem-estar
físico, mental e social de todos os seres humanos. Se o meio ambiente não for
despoluído, saúde e educação de qualidade serão inviáveis. [2]
[1] Imagem de JuergenPM por Pixabay.
[2] Dioclécio Campos Júnior é professor emérito da Universidade de Brasília. Graduado em Medicina pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro, é mestre e doutor em Pediatria, ambos pela Universidade Livre de Bruxelas. Ex-presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, membro titular da Academia Brasileira de Pediatria e presidente do Global Pediatric Education Consortium (GPEC). Atua principalmente nos temas: vínculo mãe-filho, aleitamento materno, nutrição infantil, crescimento e desenvolvimento, desnutrição, estreptococcias, parasitologia, saúde pública e comunicação.
Como citar este artigo: UnB. Poluição prejudica saúde e educação. Texto de Dioclécio Campos Júnior. Saense. https://saense.com.br/2019/12/poluicao-prejudica-saude-e-educacao/. Publicado em 27 de dezembro (2019).