UnB
13/12/2019

Foram 20 unidades de conservação visitadas, a exemplo da Área de Proteção Ambiental do Cairuçu, em Paraty, Rio de Janeiro, cuja sede apresentava essa faixa. Foto: Acervo do pesquisador

Quando trabalhou no Ministério do Meio Ambiente, entre 2009 e 2011, no Departamento de Políticas para o Combate ao Desmatamento, Alexandre Resende Tofeti começou a se interessar pelas unidades de conservação (UC), mais especificamente pelo modo como elas promovem mudanças nas localidades e na vida das populações que com elas se relacionam de alguma forma.

“Quando era criada uma unidade de conservação no lugar mais longínquo que fosse, muitas pessoas respeitavam aquele território, mesmo sem ter a figura de um gestor ou uma estrutura administrativa. As pessoas passavam a não mais usar aquele espaço. Como os moradores seguem isso naturalmente? Era uma das coisas que mais me intrigava”, explica o pesquisador.

Nascia a ideia de sua tese As transformações nos usos do território promovidas pelas unidades de conservação no Brasil, orientada pelo professor Neio Lúcio de Oliveira Campos, premiada com menção honrosa no Prêmio Capes de Tese 2019.

“Esse prêmio é uma grande vitrine para as melhores pesquisas desenvolvidas no âmbito acadêmico nacional. As teses laureadas ganham uma visibilidade que não só atinge o meio acadêmico, mas também ganham projeção extramuros, o que para mim era um dos grandes objetivos”, conta Alexandre sobre a importância de reconhecimento de seu trabalho. “É uma grande satisfação, é a coroação de um esforço muito grande”, completa o doutor em Geografia pela UnB, que também fez a graduação e o mestrado em Geografia na mesma instituição.  

A Universidade de Brasília figurou, mais uma vez, entre as instituições que tiveram trabalhos de doutorado reconhecidos pelo prêmio. Além de Alexandre, o pesquisador Nivaldo Adão Ferreira Júnior e seu orientador, André Borges de Carvalho, venceram o Prêmio Capes na área de Ciências Políticas com a tese Instituições informais, ambiente institucional e presidencialismo de coalizão: redesenho do processo político decisório no Congresso Nacional a partir do estudo de caso para medidas provisórias.  

Em todas as edições do prêmio – que está em sua 14ª edição – teses desenvolvidas no âmbito da pós-graduação da Universidade de Brasília foram laureadas. Com recorde de inscrições (1.140), este ano foram 49 áreas contempladas e 93 trabalhos receberam menções honrosas. A premiação ocorrerá nesta quinta-feira (12), após ter ocorrido o descontingenciamento de recursos para a Capes.

PRESERVAÇÃO – As UCs são territórios com recursos e características naturais relevantes, cuja função é de assegurar a representatividade de determinada população, habitat, biodiversidade ou ecossistema. De modo geral, as UCs servem para estudos, pesquisas, turismo, ordenamento territorial e educação ambiental. Atualmente, ocupam cerca de 18% do território brasileiro.

“O Brasil tem uma biodiversidade que não existe em nenhum país do mundo, e as UCs são fundamentais para conservá-la. As UCs fazem com que o Brasil seja reconhecido internacionalmente pela sua política de preservação e conservação e assim proporciona ao país poder de barganha nas esferas internacionais”, explica o pesquisador.  

A tese foi defendida num momento em que políticas ambientais estão sendo questionadas se são de fato efetivas para a sociedade ou não. “A minha tese mostra que a questão é muito mais complexa, não dá para tratá-la com base no binômio conservar/degradar. A pesquisa fez o esforço de avaliar a atual Política Nacional de Unidade de Conservação, mostrando como está, o que avançou, o que precisa melhorar. E propõe caminhos e avanços”, elucida.

Importante ressaltar que as UCs levam educação ambiental, conhecimento e oportunidades para a população. Elas podem gerar renda e desenvolvimento por meio do turismo. Mais de 12 milhões de turistas já visitaram unidades de conservação no Brasil.

TRABALHO DE CAMPO – Para estudar a fundo as unidades, Alexandre passou um período de três meses viajando por quatro biomas brasileiros (Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Floresta Amazônica), totalizando 20 unidades de conservação visitadas e 80 pessoas entrevistadas. “Por meio de crowndingfunding (financiamento coletivo), consegui arrecadar uma pequena quantia que cobriu parte dos custos da pesquisa”, explica.

Por conta do longo período de trabalho de campo, levou com ele a esposa e os filhos. A UnBTV apoiou o registro de todo o processo, que resultou no documentário Unidades de conservação na vida das pessoas, feito em conjunto com Alexandre, formado por imagens das UCs e depoimentos dos moradores. “Uma das características mais inovadoras da tese foi a proposta de devolver algo para aqueles que colaboraram com as entrevistas. Para vencer certa resistência de alguns entrevistados, bem como para ser ético numa pesquisa desse tipo, me dispus, com apoio da UnBTV, a produzir um documentário que retratasse um pouco dos achados da tese”, explicou o Geógrafo.

O pesquisador deparou-se com diversas histórias das unidades e das pessoas que moram próximo a elas. Na Amazônia, foi surpreendido ao conversar com membros de uma comunidade isolada, situada às margens de uma UC de uso restrito (onde não se pode exercer nenhum tipo de atividade, com exceção de pesquisas e educação ambiental), a Reserva Biológica do Tapirapé, situada a 200 km de estrada de chão da cidade de Marabá, no Pará. Alexandre descobriu que a maioria dos moradores se posiciona a favor da UC, mesmo ali não sendo permitida a prática da caça e pesca e da extração da madeira.

“Os moradores falavam que a unidade de conservação deu a oportunidade de eles terem acesso ao conhecimento, que é tão inacessível para essas pessoas lá no interior do Pará. Poder trocar informações sobre educação ambiental com o gestor da UC fomentava nelas sentimento de gratidão pela unidade de conservação”, recorda.

Além de fundamentais para a preservação da biodiversidade dos ecossistemas, as UCs desempenham também função crucial de gerar oportunidades, conhecimento, desenvolvimento e empregos, concluiu a tese. “A importância das unidades de conservação vai muito além da preservação e conservação. Por exemplo, ela leva conhecimento para as pessoas que nunca tiveram nada, coisas simples”, reforça o pesquisador, lembrando que sua tese retratou a vida das pessoas que moram dentro ou próximo a essas unidades de conservação, revelando suas dificuldades e seus desafios. [1]

[1] Texto de Leonardo Gomes, da Agência Facto.

Como citar esta notícia científica: UnB. Transformações territoriais promovidas pelas unidades de conservação. Texto de Leonardo Gomes. Saense. https://saense.com.br/2019/12/transformacoes-territoriais-promovidas-pelas-unidades-de-conservacao/. Publicado em 13 de dezembro (2019).

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