UnB
03/01/2020

Enrique Huelva
Não é preciso muito esforço para reconhecer a
importância estratégica da China, em termos políticos, econômicos, culturais e
científicos. O país asiático tem a segunda maior economia do mundo e deve
chegar à primeira posição até 2030. É o principal parceiro comercial do Brasil:
no ano passado, as trocas entre as duas nações somaram US$ 98,8 bilhões, um
recorde. De janeiro a agosto deste ano, a China foi o destino de quase 28% das
exportações brasileiras. Nas importações, empresas chinesas respondem por 20,3%
de tudo que chegou ao nosso país no mesmo período.
Embora os números saltem aos olhos, é preciso fazer uma análise sobre aspectos
que podem ser potencialmente melhorados na qualidade dessa relação. Uma das
questões centrais diz respeito ao tipo de produto que importamos e àquele que
exportamos. Enquanto a China se destaca mundialmente como produtora de
manufaturados – tais como circuitos integrados, equipamentos de transmissão e
smartphones -, o Brasil permanece como um grande exportador de commodities (e
isso não apenas para a China).
A qualificação da relação passa, necessariamente, pelo mapeamento de áreas de
interesse comum e pela discussão de acordos que contemplem não apenas a compra
e a venda de produtos, mas também o desenvolvimento científico e tecnológico.
Nesse sentido, é crucial o envolvimento de universidades e institutos de
pesquisa brasileiros, muitos dos quais já com frutíferas relações de
intercâmbio com a China e demais países do Brics.
Na Universidade de Brasília, por exemplo, há sete acordos de cooperação
vigentes com universidades chinesas. Os artigos científicos publicados em
coautoria entre pesquisadores da Universidade e da China têm impacto acima da
média global, conforme análise feita pela plataforma SciVal, ferramenta que
fornece métricas da produção científica de mais de 8,5 mil instituições de todo
o mundo.
O SciVal indica, ainda, o quão são profícuas as trocas entre o Brasil e a China
na área de pesquisa. Entre os anos de 2013 e 2019 (dados até abril), foram
publicados 7.013 artigos em periódicos de estratos superiores em coautoria
entre brasileiros e chineses. A principal área de cooperação, com quase 30% das
publicações mapeadas pelo SciVal, é nos campos de Física e Astronomia – reflexo
também do Programa CBERS (sigla em inglês para Satélite de Recursos Terrestres
Brasil-China), criado no final dos anos 1980. Em seguida, aparecem as áreas de
Medicina (12,6%) e Engenharia (9,2%).
Embora crescente, a cooperação Brasil-China pode ser ampliada e trazer retornos
ainda mais robustos para os dois países. Para isso, contudo, é necessário um
mapeamento consistente de áreas potenciais para o intercâmbio científico e
tecnológico. Outro passo importante é o investimento no ensino do português
como língua estrangeira. Há uma enorme demanda nesse aspecto, mas atualmente
muitos chineses acabam buscando o aprendizado em outros países lusófonos –
principalmente Portugal.
A China tem avançado muito na difusão de sua política linguística, com a
instalação de unidades do Instituto Confúcio em universidades brasileiras – a
UnB tem a honra de ser uma delas. Com o instituto, promove-se não apenas o
idioma, mas também a cultura chinesa, algo que ajuda a aproximar brasileiros de
seus parceiros no país asiático. Um caminho é tomar como inspiração esse tipo
de iniciativa e fortalecer, também, a formação de professores para o ensino do
português para além de nossas fronteiras. Ganharemos todos, deste e do outro
lado do globo. [2]
[1] Imagem de David Mark por Pixabay.
[2] Enrique Huelva Unternbäumen é vice-reitor da Universidade de Brasília. Possui mestrado em Filologia Germânica, Filologia Hispânica e História e doutorado em Linguística pela Universidade de Bielefeld (Alemanha), onde lecionou Filologia Hispânica. É professor do Departamento de Línguas Estrangeiras e Tradução da UnB na graduação em Letras e no Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada. Na UnB, foi coordenador dos cursos de graduação, chefe do Departamento de Línguas Estrangeiras e Tradução, vice-diretor do Instituto de Letras, coordenador do Núcleo de Recursos e Estudos Hispânicos, coordenador do Núcleo Instituto Confúcio e Diretor do Instituto de Letras.
Como citar este artigo: UnB. Universidades ajudam na qualificação das relações Brasil-China. Texto de Enrique Huelva Unternbäumen. Saense. https://saense.com.br/2020/01/universidades-ajudam-na-qualificacao-das-relacoes-brasil-china/. Publicado em 03 de janeiro (2020).