Jornal UFG
21/04/2020
Alethéia Ferreira da Cruz*
Como a economia irá se restabelecer no Brasil? Hoje é a pergunta que vale alguns bilhões de reais. Tudo ainda é incerto e depende de variáveis que necessariamente não estão sob nosso controle, como o curso do vírus na nossa sociedade. Há pelo menos três potenciais cenários de comportamento econômico a se considerar pós pandemia corona vírus: uma curva em V, uma em U e outra em L. Para compreender melhor estes cenários, é preciso focar em dois impactos econômicos gerados pela Pandemia, àquele associado diretamente ao combate ao vírus e outro relacionado as políticas econômicas adotadas para a proteção da economia e dos mais vulneráveis.
Embora sejam estratégias independentes, é a ação conjunta da preservação da saúde pública e da economia que permitirá que tenhamos o melhor dos cenários pós pandemia, um comportamento econômico em V, o que está acontecendo exatamente agora na China. É a presença forte e efetiva de ambos fatores, controlar e desacelerar a disseminação e promover medidas de contenção do vírus, bem como mitigar os potenciais danos econômicos por meio de medidas protetivas de política econômica via Estado, que pode resultar em uma retomada mais rápida como na Figura 1.
Ou seja, não há um trade-off entre saúde e economia em jogo. É preciso trabalhar efetivamente nas duas frentes para que os impactos sejam rapidamente superados.
No entanto, se há um médio ou fraco controle de disseminação e de medidas de contenção da COVID-19, mesmo embora haja uma adoção efetiva de medidas político-econômicas pelo Estado, teríamos o comportamento econômico em U, cuja retomada econômica demoraria mais e os efeitos seriam sentidos principalmente com o fechamento de negócios e dificuldade de manutenção do consumo pelas famílias, conforme a Figura 2.
O pior dos cenários é o comportamento econômico em L. É o que aconteceu durante a grande recessão americana, que levou 10 anos para se recuperar completamente pós crise. Esse comportamento pode acontecer caso as medidas de contenção do vírus falhem e a doença continue a espalhar pelo país e as políticas econômicas sejam fracas e incapazes de desacelerar os prejuízos econômicos, como na Figura 3.
Tudo é incerto com forte dependência de como o vírus irá se espalhar. No entanto, a força das medidas de contenção é um dos fatores que influenciam diretamente o formato das curvas. Uma das medidas é o isolamento que depende de cada um de nós. As políticas econômicas estão sendo apresentadas. Serão suficientes? Não sabemos ainda. Que curva queremos, V, U ou L?
* Alethéia Ferreira da Cruz é professora adjunta da Faculdade de Administração, Ciências Contábeis e Ciências Econômicas (FACE) da Universidade Federal de Goiás (UFG)
[1] Imagem de Gerd Altmann por Pixabay.
Como citar este artigo: Jornal UFG. A pergunta que vale alguns bilhões de reais. Texto de Alethéia Ferreira da Cruz. Saense. https://saense.com.br/2020/04/a-pergunta-que-vale-alguns-bilhoes-de-reais/. Publicado em 21 de abril (2020).