Embrapa
19/04/2020
Humberto Rollemberg Fontes*
José Henrique de Albuquerque Rangel**
De acordo com o Marco Referencial a Integração Lavoura Pecuária Floresta, (ILPF) constitui-se numa “estratégia que visa a produção sustentável e que integra as atividades agrícolas, pecuárias e florestais na mesma área, em cultivo consorciado, em sucessão ou rotacionado e que busca efeitos sinergéticos entre os componentes dos agroecossistemas, contemplando a adequação ambiental, a valorização do homem e a viabilidade econômica”. Por outro lado, o programa ABC (Agricultura de Baixo Carbono) instituído pelo governo federal, contempla uma linha de crédito que disponibiliza recursos para financiar práticas adequadas, tecnologias adaptadas e sistemas eficientes que contribuam para mitigação da emissão de gases do efeito estufa. Entre os processos tecnológicos contemplados neste programa, destacam-se a Integração Lavoura Pecuária e Floresta (ILPF) e a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN).
Encontra-se atualmente em forte expansão no Brasil a adoção dos sistemas ILPF, utilizando-se o cultivo do eucalipto consorciado com lavouras e gramíneas forrageiras, visando o melhor aproveitamento da área, o maior conforto animal, possibilitando ainda a produção da Carne Carbono Neutro (CCN), onde os gases emitidos pelos animais seriam neutralizados com o sequestro de carbono, o qual passa a ser imobilizado principalmente no tronco das árvores. Diante deste contexto, vislumbra-se a possibilidade de utilização da cultura do coqueiro como componente arbóreo, em sistemas integrados de produção com outras culturas e/ou associação com animais no Nordeste do Brasil.
Com o objetivo de avaliar a adequação do cultivo do coqueiro às linhas de crédito contempladas pelo programa ABC, apresentamos a seguir os principais sistemas integrados de cultivo em uso na cultura do coqueiro, com base em resultados de pesquisa obtidos pela Embrapa Tabuleiros Costeiros e observações realizadas junto ao produtor de coco. Observa-se assim, que desde que realizadas as devidas adequações, seria possível o produtor de coco ser contemplado pelo supra citado programa, beneficiando-se assim de linhas de crédito com menores taxas de juros e maiores prazos de carência.
1. ILF – Integração Lavoura x Floresta
Nos plantios realizados em sequeiro, é comum o cultivo consorciado do
coqueiro como outras culturas tais como: mandioca, milho, feijão de
corda entre outras, sendo esta uma prática frequentemente utilizada
por pequenos produtores de coco que cultivam a variedade Gigante ao longo
da faixa litorânea do Nordeste. Nos sistemas irrigados, a associação com
frutíferas (mamão e banana), também pode ser utilizada, sendo que neste caso, o
plantio das culturas consorciadas pode ser realizado na zona de abrangência dos
micro aspersores ou entre coqueiros, deslocando-se neste caso, um dos micro
aspersores para atender as exigências hídricas da cultura consorciada.
2. IPF – Integração Pecuária Floresta
Sistema tradicionalmente utilizado por produtores de coqueiros da variedade
gigante, cultivados em sequeiro, utilizando principalmente a vegetação natural,
onde predomina o capim gengibre (Paspalum maritimum Trind), que
apresenta bom potencial forrageiro para bovinos e ovinos. Há situações também,
onde se verifica a introdução de pastagens artificiais à base de capim
Brachiaria spp. Em ambas as situações, esta prática deve ser utilizada em
plantios adultos evitando danos dos animais aos coqueiros na fase jovem. A
depender das condições edafoclimáticas locais, poderá ocorrer competição por
água e nutrientes, especialmente por nitrogênio, que poderá ser compensado, em
parte, pelo ganho adicional de carne e/ou leite, como também pelo controle
natural das plantas daninhas, e pela produção adicional de esterco. Mais
recentemente, tem-se observado incremento da produção intensiva de leite em
associação com áreas cultivadas com coqueiros, neste caso, utilizando sistemas
irrigados por aspersão, beneficiando as plantas forrageiras e indiretamente o
coqueiro.
3. ILPF – Integração Lavoura x Pecuária x Floresta
Plantio de culturas consorciadas nas entrelinhas durante os primeiros anos de
plantio (3 a 4 anos), incluindo na fase adulta o componente animal para pastejo
da vegetação natural ou introduzindo-se a pastagem artificial implantada. Em
sistemas mais intensivos, a cultura do milho poderia ser utilizada como base
para produção de forragem, utilizando-se preferencialmente o plantio direto na
palha realizando-se o manejo da sua biomassa como cobertura morta após a
colheita do grão. A utilização de maiores espaçamentos e a adoção de sistemas
de plantio do coqueiro em quadrado, a despeito de reduzir em 15% o número
de coqueiros/área plantada, possibilitaria melhor aproveitamento da área
disponível com outras culturas e/ou plantas forrageiras, com ganhos na produção
como um todo..
4. FBN – Integração do cultivo do coqueiro com leguminosas arbóreas perenes, como a Gliricídia sepium, plantadas obedecendo à linha de plantio dos coqueiros, mantendo-se uma distância de aproximadamente 2,5 m em relação ao estipe. O plantio pode ser realizado também nas entrelinhas ou em área total, podendo ser realizado em faixas alternadas para facilitar o corte e trânsito de máquinas. O plantio da gliricídia pode ser realizado durante a fase de implantação do coqueiro ou mesmo em plantios adultos constituindo-se uma grande possibilidade de integração de culturas. A biomassa produzida pela gliricídia poderá ser utilizada como adubo verde, através da deposição desse material na zona de coroamento do coqueiro através de cortes periódicos realizados durante o ano para fornecimento de nitrogênio (3%) fixado biologicamente, podendo, eventualmente, ser utilizada para forrageamento animal em função do seu alto valor proteico para ruminantes (20 a 30%).
*Engenheiro-agrônomo – Mestre em fitotecnia
**Engenheiro-agrônomo – PhD em agricultura tropical
Pesquisadores da Embrapa Tabuleiros Costeiros
Como citar este artigo: Embrapa. Cultivo do coqueiro (Cocos nucifera l) em sistemas integrados de produção e sua adequação ao programa de agricultura de baixo carbono (ABC). Texto de Humberto Rollemberg Fontes e José Henrique de Albuquerque Rangel. Saense. https://saense.com.br/2020/04/cultivo-do-coqueiro-cocos-nucifera-l-em-sistemas-integrados-de-producao-e-sua-adequacao-ao-programa-de-agricultura-de-baixo-carbono-abc/. Publicado em 19 de abril (2020).