UFMG
11/05/2020
Florestas temperadas e tropicais secas, e não apenas as pluviais, precisam ser reconhecidas e preservadas como abrigo de milhares de espécies de árvores, alerta artigo publicado nesta semana na revista Science Advances. Após realizar levantamento com mais de dez mil florestas e savanas nas Américas, um grupo internacional de pesquisadores, liderado pela University of Edinburgh e com participação da UFMG, identificou espécies únicas da biodiversidade arbórea. Com as descobertas e os dados em mãos, foi possível concluir que aproximadamente 30% da diversidade evolutiva das árvores está concentrada exclusivamente em florestas temperadas e tropicais secas, enquanto a porcentagem para as pluviais é de 26%.
O grupo decidiu realizar a pesquisa para aprofundar a compreensão existente sobre a história da diversidade evolutiva e como ela moldou a distribuição biológica. Apesar do extenso material bibliográfico existente sobre o assunto, os principais fatores de restrição à dispersão das espécies ainda são pouco claros. Assim, o levantamento nos países americanos teve o objetivo de verificar, ao longo de vasta extensão, possíveis características de inaptidão para a evolução ou a adaptação das árvores.
O estudo usou informações de sequência de DNA de milhares de espécies arbóreas para chegar a conclusões inéditas e precisas sobre os habitats dos países americanos. A análise prática se deu pelo exame da estrutura evolutiva das comunidades de árvores, com base na qual os pesquisadores tentaram levantar vetores de restrição à adaptação. O principal motivo encontrado foi a ausência ou presença de temperaturas geladas. Houve também uma divisão evolutiva entre espécies existentes em florestas úmidas e secas nos trópicos.
O que a equipe de estudiosos – que incluiu especialistas da Universidade de Exeter, Universidade de Leeds, Pontifícia Universidade Católica do Chile, Universidade de Concepción, Universidade de Brasília e Universidade de Harvard – observou foi a importância de ampliar a preservação ambiental em habitats tão ricos, muitas vezes neglicenciados em prol das florestas pluviais, como a Amazônica.
Como destaca o professor Toby Pennington, da University of Exeter, “proteger as florestas pluviais é obviamente vital por muitas razões, mas não deveríamos ignorar a biodiversidade arbórea única de florestas temperadas e secas”. Vinculado ao Instituto de Ecologia e Biodiversidade do Chile e à Universidade de Edinburgh, o professor Ricardo Segovia, principal autor do artigo, complementa com menção à situação de seu país: “As florestas temperadas do Chile e do norte dos Andes, além das tropicais secas isoladas ao longo das Américas, precisam ser destacadas como particularmente únicas, ameaçadas e carentes de ações de conservação”.
Caatinga e especificidades nacionais
Uma das descobertas do estudo revelou uma particularidade da savana brasileira, o Cerrado: esse bioma relaciona-se mais com a evolução das florestas tropicais úmidas do que com a das secas. A informação, apesar de corroborar o que já era sugerido pela literatura, difere do que foi verificado nas outras savanas envolvidas na pesquisa, como a Llanos, da Venezuela e Colômbia, e as da América Central. Essas conclusões comprovam a existência de histórias divergentes para a ecologia.
Além disso, espécies típicas da Caatinga, como os cactos, foram consideradas linhagens exclusivas de ambiente seco, o que reforça a importância da conservação do ecossistema nacional. “No Brasil, muitas dessas florestas e savanas com alta biodiversidade são encontradas no chamado ‘arco do desmatamento’, onde a alteração do habitat tem sido generalizada e rápida, especialmente nos últimos dois anos. Isso exige maior atenção à conservação de áreas de transição entre climas sazonais secos e úmidos, ao longo da área central e oeste do Brasil”, afirma o professor Danilo Neves, do Instituto de Ciências Biológicas, que participou do estudo juntamente com o professor Ary Teixeira de Oliveira Filho.
Artigo: Freezing and water availability structure the evolutionary diversity of trees across the Americas
Autores: R. A. Segovia, R. T. Pennington, T. R. Baker, F. Coelho de Souza, D. M. Neves, C. C. Davis, J. J. Armesto, A. T. Olivera-Filho, K. G. Dexter
Publicação: Revista Science Advances (6 de maio de 2020)
(Luiza França)
Como citar esta notícia: UFMG. Florestas secas abrigam 30% da diversidade evolutiva de árvores. Texto de Luiza França. Saense. https://saense.com.br/2020/05/florestas-secas-abrigam-30-da-diversidade-evolutiva-de-arvores/. Publicado em 11 de maio (2020).