Jornal UFG
19/08/2020

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Emiliano Godoi*

Um ano novo sempre nos inspira a renovar projetos, a pensar novos caminhos e estabelecer novas metas. Um ano novo reforça a necessidade de deixarmos para trás o que não nos faz bem e dedicarmos o nosso tempo a algo que nos engrandece. Com o ano de 2020 não foi diferente. Novos planos foram criados. Novos sonhos foram sonhados. Mais um ano na expectativa de bons frutos. Mas logo fomos surpreendidos por uma inesperada notícia de que algo diferente estava acontecendo do outro lado do planeta. Pessoas sendo rapidamente contaminadas por um novo vírus e morrendo sem se saber o que fazer. Uma certa segurança nos trazia saber que isso ocorria longe de nós.

Mas, pouco tempo depois, o que acontecia do outro lado do planeta começou a acontecer do outro lado de nossa esquina e, em alguns casos, do lado de dentro de nossa casa. Assim, logo nos acostumamos a ouvir o nome de um novo vírus e a temer pelo que há por vir. Logo nos acostumamos com o medo do próximo, com a distância da família e com a ausência do abraço. Logo nos acostumamos a nos vermos à distância, a nos reunirmos de forma virtual e a comemorarmos datas importantes através de uma tela de computador. Logo nos acostumamos a ouvir que tudo isso vai passar, pois tudo passa.

Com a mesma força da pandemia, surgiu também uma grande mobilização mundial com um objetivo comum: salvar ou melhorar às condições de vida das pessoas. Profissionais da saúde se arriscando diariamente para proteger doentes. Pesquisadores de todas as áreas se dedicando a buscar novas descobertas. Artistas se reinventando para levar alegria às pessoas. Pessoas anônimas se mobilizando para fazer compras para vizinhos e doar comida aos mais necessitados.

Mas a pandemia também nos trouxe as marcas profundas que o ser humano carrega. Dinheiro sendo desviado de compras de equipamentos e enriquecendo gestores públicos. Equipamentos de emergência sendo comprados sem os devidos cuidados. Compras exageradas em supermercados sendo feitas, deixando o próximo sem itens básicos. Com a mesma força da pandemia surgiu também a necessidade de se pensar o que devemos de fato levar deste momento que estamos passando e desta crise que estamos vivendo. Devemos nos lembrar que a palavra crise, de origem grega, significa “separar, decidir, julgar”. Assim, nada mais oportuno e
necessário que separarmos o que de fato importa para nossa vida.
Que tenhamos a sabedoria de separar o bem do mal. Que possamos alimentar princípios que nos leve a uma sociedade mais justa e melhor. Que deixemos morrer por inanição o egoísmo de olharmos apenas para as nossas vidas. Que tenhamos a coragem de decidir pelo caminho do trabalho, do respeito e da ética. Que evitemos os desvios e atalhos que só nos levam a caminhos tortuosos. Que tenhamos a capacidade de julgar o certo e o errado. Que deixemos de lado o tão famoso jeitinho do brasileiro que só nos tem levado para trás.

E assim, depois que tudo isso passar, que fiquem os bons exemplos e a que a força da solidariedade venha a prevalecer. [2]

[1] Imagem de Gerd Altmann por Pixabay.

[2] Emiliano Lobo de Godoi é professor da Escola de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal de Goiás.

Como citar este artigo: Jornal UFG. Depois da pandemia, o que ficará?  Texto de Emiliano Lobo de Godoi. Saense. https://saense.com.br/2020/08/depois-da-pandemia-o-que-ficara/. Publicado em 19 de agosto (2020).

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