UnB
26/08/2020

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Aldo Paviani

Fala-se e escreve-se sobre o “novo normal” que surge no horizonte das desesperanças ocasionadas pela covid-19 em todo o planeta e, em especial, aos países que chegaram a pensar tratar-se de mera “gripezinha”. E não era. Surge essa virose igual ou pior das que assolaram a humanidade. Muitos ficaram atordoados com os efeitos catastróficos, exigindo que cidades ou metrópoles organizassem seus hospitais e a contratar pessoal capacitado para cuidar idosos e pessoas mais vulneráveis.

Apenas, não houve “hospital” para a economia, que entrou em quarentena, tanto ou quanto mais severa que as dos domicílios. Estes, a partir de março, se transformaram em pontos de proteção aos que imaginaram, acertadamente, que o momento atual é de grandes restrições à mobilidade e às relações grupais. Uso obrigatório de máscara e a obediência às recomendações de especialistas: “fique em casa”.

Quem teve juízo, aceitou esse aviso; quem achou que ia perder dinheiro, pode amargar os números dos contaminados, recuperados ou mortos em ascensão. Os gráficos são verticais, elevando-se a cada dia. Em 11 de agosto, os dados atingem 126.069 contaminados, dos quais 84% ou 106.419 se recuperaram. Todavia, o DF chegou à marca de 1.762 mortos. Os agentes transmissores não são os ventos que sopram, e sim os infectados. Pessoas não querem perder capitais investidos e se arvoram no direito de manter lojas e fábricas em operação. Todavia, a surpresa: os compradores sumiram – ficaram em casa, e a economia retraiu-se de modo paulatino. Para atenuar os prejuízos, o comércio e a indústria fecharam as portas, com a inevitável demissão dos funcionários, vendedores e operários. Alguns desses desempregos são emergenciais e voltarão ao estado anterior assim que a pandemia for cessando seus efeitos cruéis.

Outra importante questão é o esforço de governos e laboratórios em descobrir vacina que reduza a mortandade e esteja acessível ainda em 2020 ou, no máximo, no ano entrante. E o esforço é medido, não apenas nos testes adequados, mas em investimentos monetários – milhões de dólares, seja onde acontecerem os trabalhos para a descoberta da vacina ou em  muitíssimos lugares e laboratórios.

Enquanto a vacina tarda (pensa-se que ela estará disponível em 2021), a economia se retrai, e os empregos são eliminados constantemente. Eles ocorrem de formas distintas: o emprego que está em compasso de espera e será reposto ao se ter menor tempo de quarentena, ainda este ano ou no ano de 2021. Mas, tristemente, acontecem as “lacunas de trabalho”, frutos de emprego que não será mais retomado. A falência traz lacunas de trabalho porque não repõe o posto eliminado e, pior ainda, não criará oportunidades novas na economia encolhida, no comércio e na indústria. A lacuna de trabalho é como se traduz a atividade sem retorno. É como uma estrela “engolida” por buraco negro – some totalmente. A lacuna de trabalho é de difícil descoberta, ao menos em números, tal como acontece ao desemprego que já acontece de forma estrutural. Esta é sempre um montante disponível na Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), patrocinada, no caso de Brasília, pelo Governo do Distrito Federal, por intermédio da Secretaria do Trabalho, da Codeplan e acionada pelo Sistema PED do Seade/Diesse, a cada mês, desde 1992.

Apenas como exemplo, observo o que acontece na PED de junho último. A População Economicamente Ativa (PEA) total era de 1,51 milhão, da qual os ocupados eram de 1,19 milhão. Isto quer dizer que 78,2% da PEA estava trabalhando. No caso inverso, 327 mil ou 21,6% encontravam-se desempregados. O setor privado da economia emprega e ocupa 548 mil pessoas. Com carteira assinada, a PED encontrou 474 mil e sem carteira 67 mil, o que significa que grande parcela está ao abrigo da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), com direitos protegidos. Os autônomos eram 190 mil trabalhadores. Dado curioso é que Brasília recebeu o título de cidade dos funcionários públicos. Todavia, a PED revela que não é bem assim, a estimativa indica serem funcionários públicos 299 servidores, enquanto o setor privado emprega quase o dobro ou mais de 540 mil trabalhadores.

A PED metropolitana somente até 2018 é feita em quatro cidades: Porto Alegre (11,8% de desemprego); Salvador (25,7%), São Paulo (16,9%) e Brasília (18,9%), relevando 2,899 milhões de desempregados, nestas metrópoles. Os dados não se atualizam para percebermos os efeitos da covid-19 nas principais metrópoles brasileiras. Por este motivo, será interessante que os prefeitos das três capitais voltem a realizar as respectivas pesquisas (PEDs). Brasília é a única metrópole a manter a PED mensal, segundo publicação feita pelo Dieese em seu portal metropolitano, recentemente. [2]

[1] Imagem de Leon Gerardo Cholula por Pixabay.

[2] Aldo Paviani é professor emérito da Universidade de Brasília e pesquisador associado do Departamento de Geografia e do Núcleo de Estudos Urbanos e Regionais (NEUR/CEAM/UnB). Graduado em Geografia e História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e livre docente/doutor pela Universidade Federal de Minas Gerais. Tem experiência em Geografia Urbana, atuando principalmente nos temas: urbanização em Brasília, gestão do território, planejamento urbano, exclusão socioespacial e emprego/desemprego em áreas metropolitanas.

Como citar este artigo: UnB. Emprego e desemprego na crise da pandemia. Texto de Aldo Paviani. Saense. https://saense.com.br/2020/08/emprego-e-desemprego-na-crise-da-pandemia/. Publicado em 26 de agosto (2020).

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