Jornal UFG
21/08/2020

Direitos Humanos é um assunto recorrente na academia e na sociedade civil pois ainda existem muitos desafios para a promoção de uma vida digna e segura a todos. Em entrevista produzida pela Pró-reitoria de Pós-graduação (PRPG) para o Jornal UFG, Helena Esser dos Reis, doutora em filosofia e coordenadora do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Direitos Humanos da UFG (PPGDIH) comenta sobre questões polêmicas que envolvem a validação da Declaração Universal dos Direitos Humanos no país e ainda ressalta a importância da pós-graduação na área para a proteção e manutenção desses direitos.
O enredo da história do Brasil é marcado por violações à vida. A violência ainda ocorre em diversos âmbitos: culturais, sociais e econômicos. Como você observa o avanço das lutas pela promoção dos direitos humanos no país?
Helena Esser – Direitos humanos não existem por si, mas decorrem – no plano da história – da ação e das lutas das pessoas. Em alguns momentos são criadas leis que protegem alguns avanços conquistados, isso é ótimo, mas é preciso ter claro que nenhuma conquista é irreversível. Assim, é fundamental acompanhar as lutas por reconhecimento de direitos humanos, com a educação das pessoas para o respeito aos direitos humanos. Do meu ponto de vista, apenas quando o respeito ao outro estiver internalizado em cada um e cada uma, poderemos avançar com mais segurança, sem tanto medo de retrocessos, como vivemos no atual período no Brasil.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos não possui ligação direta com partidos políticos. Na sua opinião, por que ela ainda é refutada, criticada e negligenciada em discussões políticas?
Helena Esser – A Declaração é criticada atualmente porque revela um certo ponto de vista que pode ser considerado alinhado a um perfil hegemônico e, neste sentido, pode ser utilizada para subordinar, marginalizar, violar aquelas pessoas/povos que não compartilham o perfil hegemônico. Por outro lado, como disse acima, a Declaração é histórica e cristaliza, na forma de artigos, conquistas humanas de reconhecimento de direitos. Contudo, as lutas não se esgotam nas regras, tratados e pactos, precisam seguir congregando a humanidade em vista de novas exigências importantes para a criação de um mundo comum, compartilhado. Isso não acontece de repente, mas ao longo do tempo e em vista do aprofundamento das lutas e do desenvolvimento da responsabilização de cada pessoa e de cada instituição com cada uma das demais.
O discurso de ódio tem sido uma estratégia muito utilizada para influenciar a opinião pública. Do ponto de vista didático-pedagógico, como levantar discussões sobre direitos, democracia, liberdade e cidadania no ambiente virtual, e até mesmo fora dele, de forma saudável, empática e eficiente?
Helena Esser – O desafio é grande. O PPGIDH promove exemplos como o canal Pensar Direitos Humanos e a oferta de disciplinas de Núcleo Livre para discentes da graduação buscando também a interlocução interna à UFG sobre direitos humanos. Durante a pandemia dois professores ofereceram uma disciplina com este objetivo, da qual participaram mais de 100 discentes, discutindo os problemas propostos a partir de filmes. Em outros tempos, outro exemplo recente de uma atividades de extensão realizada, foi a elaboração de histórias em quadrinhos sobre casos em que o Brasil foi levado à Corte Interamericana de Direitos Humanos para levar aos professores e alunos de escolas de ensino médio.
O PPGIDH está ligado a uma história de 20 anos de pesquisas sobre Direitos Humanos na UFG. De que forma essa trajetória influenciou questões relacionadas aos direitos humanos e a violência em Goiás e no Brasil?
Helena Esser – O PPGIDH é um programa de pós-graduação acadêmico, voltado à formação de professores e de profissionais em diversas áreas. Neste sentido, as pesquisas discutem problemas, mas não estão diretamente vinculadas à soluções. Isso exige políticas públicas em direitos humanos a serem implementadas por órgãos públicos e governamentais. Contudo, por meio da atuação dos alunos e egressos, o Programa alcança, de diversos modos, a sociedade. Como exemplos recentes deste alcance, posso citar, publicações, proposição de projeto de lei, participação em conselhos profissionais, premiações…
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O Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Direitos Humanos é vinculado ao Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas em Direitos Humanos da UFG (NDH) e desde 2011 busca formar profissionais aptos ao exercício da pesquisa, difusão e defesa dos direitos humanos.
Os estudos no programa são distribuídos em três linhas de pesquisa: Fundamentos teóricos dos Direitos Humanos, Práticas e representações sociais de promoção e defesa de Direitos Humanos e Alteridade, Estigma e Educação em Direitos Humanos. As inscrições para mestrado e doutorado no programa estão abertas até o dia 23 de agosto.
O PPGDIH também realiza diversas ações de extensão com o objetivo de levar o ensino sobre Direitos Humanos para além da pós-graduação. Uma das ações é o canal Pensar Direitos Humanos, que existe há dois meses no Youtube e transmite entrevistas, palestras e rodas de debates ao vivo com professores e alunos de forma interdisciplinar. As lives acontecem às sextas-feiras, 17h, e levantam discussões sobre problemas relativos a direitos, democracia, liberdade e cidadania.
Realidades contemporâneas do brasil e do mundo estão entre os assuntos debatidos como a vulnerabilidade dos indígenas frente à Covid 19, o ativismo de mulheres negras, desigualdades raciais e sociais, saúde mental e gênero, violência política e educação antirracista. [2]
[1] Imagem de Dimitris Vetsikas por Pixabay.
[2] Texto de Talita Prudente (Assessoria de Comunicação da PRPG).
Como citar esta notícia: Jornal UFG. “Nenhuma conquista é irreversível”. Texto de Talita Prudente. Saense. https://saense.com.br/2020/08/nenhuma-conquista-e-irreversivel/. Publicado em 21 de agosto (2020).