Jornal UFG
17/12/2020

(Imagem de eko pramono por Pixabay)

Emiliano Lobo de Godoi

Historicamente a nossa economia se baseou em uma premissa de que a natureza é uma fonte inesgotável de recursos, podendo ser explorada sem qualquer tipo de planejamento. Porém, a crescente escassez de matéria-prima nos processos produtivos tem evidenciado que essa premissa não corresponde à realidade.

A economia tradicional é fundamentada em um modelo linear de negócios que consiste em um processo de mão única de extração, produção, utilização e descarte das mercadorias. Este modelo é conhecido como “do berço ao túmulo”, ou seja, um produto “nasce”, é utilizado e, depois, é descartado. São produtos que não são concebidos para serem reaproveitados e, em muitos casos, são propositalmente planejados para se tornarem obsoletos ou não funcionais, forçando o consumidor a comprar uma nova geração do produto.

Por maior que seja o esforço em tentar se descartar algo de maneira correta, existe uma grande fragilidade neste propósito. Quando se descarta algo se despreza também todas as tecnologias, matérias-primas e insumos que foram utilizados para sua produção. Ou seja, se descarta a água, a energia, a mão de obra, conhecimento e tudo mais que foi utilizado para sua produção. Uma prática assim, pode ser correta?

Pesquisas indicam que 80% dos produtos fabricados se transformam em lixo em até 6 meses após a sua compra. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE), no ano de 2018, o Brasil gerou 79 milhões de toneladas de lixo, um aumento de quase 1% em relação ao ano anterior. Deste total, apenas 3% foram reciclados e 29,5 milhões de toneladas de resíduos acabaram em lixões ou locais similares, ou seja, 40,5% do total foram destinados para locais desprovidos de qualquer tipo de controle. Neste cenário, o caminho de mão única da economia linear apresenta um risco cada vez mais iminente
Como alternativa, surge o caminho representado pela economia circular. Este conceito está associado a fase inicial de planejamento de novos produtos para que, ao final de seu ciclo de vida, se transformam em outras mercadorias. Assim, através de um novo conceito, o resíduo deixa de existir, passando a ser matéria-prima de novos produtos. Com isso, as empresas se tornam, simultaneamente, consumidoras e fornecedoras de materiais que serão reincorporados, reduzindo o consumo de recursos naturais e gerando menor degradação ambiental e maior eficiência econômica.

Repensar a forma com que a economia é implementada é um caminho necessário e urgente para um mundo mais sustentável e racional. Ao contrário do que possa parecer, fazer a economia circular não é gastar mais e, sim, aproveitar melhor o que já está disponível para produzir sem a necessidade de se extrair novos recursos naturais. Não é deixar de produzir e, sim, produzir melhor, com menos desperdício, com mais eficácia e menor impacto ambiental.

Assim, fazer a economia circular é se inspirar na natureza, onde, já no longínquo século XVI, Nicolau Copérnico, famoso astrônomo e matemático, afirmou que “a sabedoria da Natureza é tal que não produz nada de supérfluo ou inútil”. É pensar que algo só se torna lixo quando não temos a capacidade de dar novo uso a esse produto. É pensar que não existe o termo “jogar fora”, pois, todo descarte é feito dentro de nosso espaço comum, que é o planeta Terra. É pensar que o caminho do “berço ao túmulo” deve ser redesenhado para um novo horizonte que é “do berço ao berço”. É entender que o planeta terra é maior e mais forte que a espécie humana e pode sobreviver muito bem sem a nossa presença.

Emiliano Lobo de Godoi é Professor da Escola de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal de Goiás

Como citar este artigo: Jornal UFG. Fazer a economia circular.  Texto de Emiliano Lobo de Godoi. Saense. https://saense.com.br/2020/12/fazer-a-economia-circular/. Publicado em 17 de dezembro (2020).

Notícias do Jornal UFG     Home